quarta-feira, 25 de setembro de 2013

A guerra do zagueiro do Corinthians contra a CBF é boa para o futebol

Paulo André


Inteligente, articulado — nada contra os desarticulados, muito pelo contrário –, Paulo André, 30 anos, zagueiro do Corinthians, é o mentor de uma iniciativa inédita.
Criou uma página no Facebook para pressionar a CBF no sentido de mudar o calendário.
O “movimento” se chama Bom Senso F.C. e tem a assinatura de 75 atletas das séries A e B, entre eles Alex, do Coritiba, Rogério Ceni, do São Paulo, Dida, do Grêmio, e Pato, do Corinthians.
Além de querer menos jogos por semana (são dois, em média), os revoltosos esperam uma adequação ao modelo europeu — início da temporada no meio do ano — e que os times não terminem o ano sem ficar devendo salários.
O presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB, Wadih Damous, se manifestou. “Os jogadores têm toda a razão. O calendário que a CBF impõe é absurdo e atenta contra a dignidade da pessoa humana, pois sujeita os atletas a lesões graves, já que não haverá pré temporada, e desrespeita um direito sagrado de todo trabalhador brasileiro: as férias de 30 dias”, disse. “Os craques são os artistas e protagonistas do espetáculo e devem ser tratados com respeito. Já a CBF é uma entidade parasitária, que nada em dinheiro enquanto a grande maioria dos clubes se encontra na bancarrota, além de estar permanentemente envolvida em escândalos de corrupção”.
Os jogadores ganham salários obscenos. Ok. O campeonato brasileiro está fraco. De acordo. Mas o alvo da reclamação é correto. A CBF é uma entidade corrupta, com um estilo de gestão anacrônico e um presidente patético. José Maria Marin só não é pior do que Ricardo Teixeira porque nada é pior do que Ricardo Teixeira. Cifras milionárias são divulgadas e os clubes estão sempre, misteriosamente, endividados. É uma história que se repete há décadas.



Paulo André tem ambições políticas e sempre deixou isso claro. Admirador do Doutor Sócrates, amigo e fã de Ronaldo Fenômeno (seu parceiro de pôquer e, segundo alguns, um dos autores da ideia), Paulo incomoda Marin. Já o desafiou publicamente. Num evento em que Marin se gabava da conquista da Copa das Confederações, pegou o microfone e partiu para cima: “Ganhamos, mas o nosso futebol vive uma crise existencial. Isso ficou claro nas viagens de dois times para o exterior recentemente. Nós não vemos nenhuma ação da CBF ou dos clubes nesse sentido, mas é nítida a distância. Queria saber quais são os planos do país para se aproximar de novo do futebol que é praticado lá fora”.
Marin se atrapalhou com uma longa resposta ininteligível sobre a grandeza territorial do Brasil etc etc.
PA pode não ser um zagueiro brilhante. Talvez não seja politizado como Sócrates. Seu blog tem fotos demais de seus ensaios de moda. Mas está encarando uma entidade poderosa e corrupta. Como dizem os irmãos do norte, kudos. Agora, a coisa vai fica realmente interessante quando a discussão bater na velha parceira de trambiques da CBF: a Globo. Aí Paulo André vai ter de brilhar.
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