quinta-feira, 29 de agosto de 2013

O Banco Central é o que nasceu para ser


O Banco Central é o que nasceu para ser 


Por: Fernando Brito

Os bancos centrais não são exatamente instituições públicas.
Um dia a história humana os registrará assim, como enclaves do capital financeiro dentro dos estados nacionais.
Porque a direção dos estados nacionais, em tese, nas democracias, deriva do povo e em seu nome é exercida.
E a dos bancos centrais, aqui e mundo afora, é derivada não da vontade popular, mas da do “mercado”, a qual, no máximo, ela mitiga e negocia com quem tem a legitimidade popular.
Mas tendo o capital financeiro como determinante.
O Banco Central independente, que o “mercado” tanto reclama, já existe.
Independe do interesse público, porque rege-se pelo interesse do rentismo.
O que será que “as ruas” diriam se entendessem que uma decisão como a de aumentar em 0,5% a taxa de juros tira dos cofres públicos mais do que corrupto algum jamais tirou ou até de todos eles somados?
Não milhões de reais, mas dezenas de bilhões de reais.
Mas este saque é legítimo, porque é feito em nome da técnica, dos fundamentos econômicos, do combate à inflação, embora não se se explique exatamente como o tomate subiu por que as taxas de juros estavam mais baixas no início do ano, pela simples razão de ser isto inexplicável, porque ilógico.
Ficamos, em geral, presos ao falso dilema de que a moeda estável é uma espécie de deusa, à qual devemos sacrificar o crescimento econômico, os salários, o consumo popular, os investimentos e serviços públicos, a saúde, a educação, enfim, nossa vida, nossos sonhos, nossos filhos.
Não se pode desafiar o monstro, porque o monstro pode nos matar.
A inflação apresenta sinal de alta? Mais juros. Está em baixa? Mais juros, para que não suba amanhã. Chova ou faça sol, juros, juros, senão o capital se vai…
Para que ele não se vá, vai-se o nosso e segue a transferência monstruosa dos recursos públicos para mãos privadas.
Em nome deste fundamentalismo obtuso, vão-se, sem grita, nossos direitos e esperanças.
Nossos bancos, como você vê aí no quadro, são os mais rentáveis do mundo, não porque, óbvio, seus caixas e gerentes sejam os mais eficientes. Com juros que, mesmo mais baixos do que os que a nossa dantesca história financeira costuma apresentar, seguem imorais num mundo onde continuam a ser negativos, em geral.
Solução à vista?
Não, porque tanto essa é a ordem mundial, que nos afeta com seus vasos comunicantes do capital, quanto porque nossos Governos , sobretudo, nossa mídia – falo da parte que não se tornou mera serviçal do capital – perderam a capacidade de pensar fora dessa lógica e passaram a achar pueril criticar essas regras que nos empobrecem.
Tornamo-nos vítimas de algo como aquela “Síndrome de Estocolmo” na qual o sequestrado se apaixona pelo sequestrador e aceita a lógica de seu algoz, esquecendo-se de si.
Mesmo os que o percebem, ou calam ou apenas murmuram, porque o medo de ir contra o coro uníssono das vozes da dominação lhes faz tremer os joelhos.
A ditadura do capital financeiro – que escraviza povos inteiros e dizima também o capital produtivo – é uma onda que tomou conta do mundo, desde os anos 90, em lugar das ditaduras políticas com que se submetiam nações nos anos 70.
Mas cairá, como aquelas caíram, pela sua insustentabilidade, pela morte que carregam em si e porque o pensamento humano, mesmo quando o corpo se dobra à opressão, jamais desiste de procurar asas.
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