É de clamar aos céus: 38 bebês já morreram no Hospital da Santa Casa de Misericórdia do Pará em 19 dias deste mês de junho, e um bebezinho de 3 meses, depois de agonizar durante cinco dias no PSM da 14 de Março à espera de um leito em algum hospital de Belém, não resistiu a tanta desumanidade e morreu ontem.
O nome desse quadro na saúde pública de Belém é o que?
Inaceitável que indivíduos afrontem a sociedade contando bebês mortos e comparem em qual governo de partido X ou Y morreram mais. Um assombro. Uma indignidade.
Como já foi provado aqui através de documentos no post Hecatombe digna de Herodes, os problemas na maternidade e na UTI neonatal da Santa Casa não são novos, estão identificados pelos próprios médicos, já foram denunciados ao Sindmepa, que por sua vez pediu providências à direção do hospital e à Sespa, e nada foi feito.
Os constantes casos de mortes coletivas de recém-nascidos na Santa Casa revelam uma situação muito grave e confirmam o sucateamento do hospital e o descaso com investimentos na construção de outras maternidades, assim como na atenção básica à saúde, o abandono das crianças e adolescentes, filhos de mães meninas, que mal saíram da infância engravidaram, se criaram na ignorância e na desagregação familiar, nas festas de aparelhagens e bares, muitas vezes levados pelos próprios pais, sem qualquer orientação e controle quanto à sexualidade.
Jovens que, sem opção, passaram a maior parte de seu desenvolvimento com os olhos fixos na TV, assistindo futilidades e filmes de violência, em DVD piratas, nas ruas ao invés do contato com a ciência nas escolas, gerados sem planejamento e criados sem a presença dos pais, por tios, avós, vizinhos e até pelo tráfico...
Afinal, como encarar escolas sem políticas pedagógicas e planejamento de longo prazo, com professores desanimados e sitiadas pelo tráfico e pelo medo, literalmente caindo aos pedaços, em que prefeitos, criminosamente, desviam até recursos da merenda escolar?
A mortandade de bebês na Santa Casa de Misericórdia do Pará tem se tornado crescente. Ainda choca, apesar da impunidade e da tendência da “naturalização dos fatos”, historicamente, tornar a sociedade indiferente.
Não podemos perder a capacidade de nos indignar. Não podemos tratar esses bebês desvalidos como se não passassem de números.
A anestesia das pessoas é escandalosa. A reação popular é infinitamente desproporcional à do caso dos cachorros de Santa Cruz do Arari, que ganhou até audiência pública hoje na Câmara dos deputados, em Brasília – coincidentemente proposta pelo deputado federal Arnaldo Jordy(PPS-PA), do partido que indicou o secretário de Saúde Hélio Franco – e que se cala em relação ao sacrifício dos bebês. Por quê? Passam os anos e nada é feito para melhorar o pré- natal no Pará e evitar a superlotação do setor no hospital.
Os prejudicados são pessoas humildes e mal informadas. Se soubessem se defender, os pais desses 38 bebezinhos exigiriam análise completa dos documentos hospitalares para acionar criminalmente o Estado, além da responsabilidade civil, considerando que os problemas são mais do que conhecidos e recorrentes, o que caracteriza o descaso das autoridades competentes.
Mas, como sempre, o discurso oficial é de que a culpa é das mães que não fizeram pré-natal, das criancinhas que têm saúde frágil. Ou seja, a culpa de morrer é de quem morre. Ainda se escoram em estatísticas dizendo ser normal o "número" de óbitos. Quer dizer que enquanto morrerem 25 bebês em 12 dias está dentro das estatísticas?
Qual será o índice de mortalidade aceitável na nova Santa Casa?
__________________________________________________

Nenhum comentário:
Postar um comentário