segunda-feira, 17 de junho de 2013

Dilma, exclusivo: preparando o país para os próximos 20 anos

Por: Luis Nassif no Jornal GGN 

O ar aparenta um certo cansaço. Mas os olhos brilham e Dilma Rousseff é capaz de discorrer por duas horas sem perder o pique sobre seu tema preferido: o Brasil.
Garante que no segundo semestre o país testemunhará o deslanche das concessões e parcerias público-privadas. Entusiasma-se ao falar da construção naval, da lei dos portos e de como a reserva do campo de Libra impactará o país.
Criaram-se lendas de que Dilma irrita-se com críticas, a ponto de romper com o crítico. Não é o que transpareceu na conversa de duas horas, na quinta-feira no Palácio do Planalto. Mostrou sua visão de país e informou ter alertado alguns ministros mais suscetíveis sobre a importância de se dar atenção às críticas fundamentadas.
Um dos interlocutores de Dilma garante que a imagem da “gerentona” não faz justiça a ela. Segundo ele, poucos presidentes na história tiveram a visão estratégica de futuro de Dilma. “Ela sempre pensa no país daqui a 10, 15 anos”, explica o interlocutor. “Não se inebria com resultados imediatos”.
Tem pressa. Entende que presidentes passam, o país fica. E quer deixar o máximo possível de sementes plantadas. Talvez explique o fato de empurrar conflitos com a barriga, ceder em muitos pontos, não parar sequer para colocar o Ministério em ordem, por não ter tempo a perder para colocar em pé um trabalho que – segundo sua mesma expectativa – só começará a frutificar daqui a dez, quinze anos.
E é o que talvez explique a condescendência imprudente com seu Ministério.
Na hora da operação, esbarra na fragilidade de alguns Ministros e no acomodamento de outros. Aí, é obrigada a perder parte relevante do tempo corrigindo problemas operacionais. O álibi “Dilma truculenta” é invocada por muitos Ministros para justificar sua própria mediocridade e apatia.
A entrevista revela uma presidente com plena clareza sobre os caminhos estratégicos do país. Mas, para consolidar sua obra, falta a freada de arrumação, uma mudança maiúscula no Ministério, uma reestruturação no modo de gerenciar os Ministros – agrupando núcleos de Ministérios em torno de algumas figuras-chave, que possam ser a Dilma da Dilma -, uma reformulação na articulação política. E determinar aos seus Ministros que corram riscos, busquem iniciativas, demitindo os que se dizem com medo de cara feia.
Ao ouvir o nome do jornal GGN, pergunta a relação com o Grupo Gente Nova (GGN), organização de lideranças jovens cristãs, que vicejou em Minas nos anos 60. O berço do GGN foi Belo Horizonte e, através das freirinhas do Sion, Dilma e outros jovens faziam trabalho social em bairros pobres, discutiam política e o Concílio Vaticano 2 de João 23. O GGN transbordou para Poços de Caldas, também através de freirinhas - na caso, as dominicanas.
Dilma recorda desses tempos, compara com o que sua neta encontrará pela frente. E dá o mote para o início da entrevista.
O novo país
GGN – Que país a senhora pretende que nossa geração entregue para a de nossos netos?
Dilma - Está vindo por aí uma nova geração totalmente diferente, que encontrará um país totalmente diferente do que nossa geração recebeu. Nós vamos transformar o Brasil em um país rico, de classe média. Pessoalmente acho que essa herança ficará não apenas eliminando a pobreza, mas conseguindo uma educação de altíssima qualidade. Só a educação permite um ganho permanente, irreversível. Por isso defendo os royalties para educação.
GGN – Qual a próximo ciclo da economia?
Dilma – A etapa do combate à miséria absoluta está prestes a terminar. Hoje em dia, existe o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida, o apoio ao microempreendedor, o Luz Para Todos. Essa foi a primeira grande leva de transformações e só tem dez anos. Os frutos ainda nem começaram a aparecer. A segunda grande leva será a busca da competitividade.
GGN – E as frentes da próxima batalha?
Dilma – A principal é a Educação, que serve ao lado social e à competitividade. Há um amplo investimento no Prouni (Programa Universidade para Todos), no FIES (Financiamento Estudantil), na ampliação das escolas técnicas, de universidades e novos campis. E na interiorização da educação. Levar a educação para o interior muda padrão de vida de toda uma região.
Os analistas ainda não se deram conta da extensão do trabalho em educação. Financiamos R$ 1,5 bilhões para o Senai ampliar a formação de mão de obra. A Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego) da CNI (Confederação Nacional da Indústria) irá formar 8 milhões de trabalhadores até 2014. O MEC (Ministério da Educação) está entrando com recursos para formação de técnico para nível médio.
A parte relevante é o treinamento de mão de obra com vários escalões, até chegar à Tereza Campello (do Ministério do Desenvolvimento Social). Há várias turmas de filhos do Bolsa Família se formando. Já chegam a um milhão de alunos.
Essa mesma parceria do Senai estamos fazendo com o Senar (da Agricultura) e com o Senac (do Comércio). O Senai e o Senar são os parceiros mais ativos.
O mais interessante é a quantidade de mulheres que saem do Bolsa Família e se tornam operárias especializadas. Na cerimônia de formação dos alunos do BF, a oradora da turma era uma moça que se tornou eletricista.
Clique aqui para continuar
______________________________________

Nenhum comentário: