terça-feira, 25 de junho de 2013

A Secom não fala; quando fala, ninguém ouve



Por: Fernando Brito

A Secretaria de Imprensa da Presidência da República, cumprindo mais um daqueles dias de enfadonho expediente, demorou mais de duas horas até desmentir a manchete da Folha que, citando o presidente da OAB, dizia que Dilma desistiu da Constituinte exclusiva, convocada por plebiscito.
Desmentiu depois das três da tarde e de uma forma que ninguém deu bola e manteve as manchetes tais como estavam.
Justiça seja feita, porém. Antes da nota inócua da Secom, Dilma tinha mandado José Eduardo Cardoso, o cóccix mais flexível da Esplanada, dar uma entrevista explicando que não era assim.
Foram mais de 15 minutos de perguntas horríveis e respostas melífluas, escorregadia.
Aí, Dilma mandou a Secom distribuir uma nota.
Que foi de outro amadorismo inacreditável.
Se a Presidenta, por delicadeza, não quisesse confrontar a OAB, num gesto de gentileza, bastaria dizer:
“A presidenta da República concedeu audiência ao presidente da Ordem dos Advogados do Brasil e recebeu suas importantes contribuições aos debates sobre a reforma política.
A Presidenta da República reitera o conteúdo da manifestação que fez ontem sobre a necessidade desta reforma e da importância de que ela seja ampla, profunda e, sobretudo, de que ela expresse os anseios da população e seja por ela legitimada em plebiscito.”
Simples, curto e objetivo.
Mas a nota saiu assim:
Em relação às declarações de hoje do presidente da OAB, Marcus Vinicius Furtado Coêlho, a Presidência da República esclarece:
1. A presidenta Dilma Rousseff recebeu hoje o presidente da OAB, Marcus Vinicius Furtado Coêlho, e o diretor do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, Márlon Reis, que lhe apresentaram uma proposta de reforma política baseada em projeto de lei de iniciativa popular.
2. A presidenta da República reiterou a relevância de uma ampla consulta popular por meio de um plebiscito.
3. A presidenta ouviu a proposta da OAB, considerou-a uma importante contribuição, mas não houve qualquer decisão. O governo continuará ouvindo outras propostas de reforma política que lhe forem apresentadas.
Ou seja, confirma o plebiscito, mas deixa omissa a questão da Constituinte.
Portanto, os jornais ignoraram e mantiveram a machete de que não haverá constituinte.
E que, portanto, houve um recuo da Presidenta.
(SIC !)
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