O secretário de Comunicação Ney Messias: anos de trabalho para Orly e a Griffo, que recebe
milhões em propaganda do governo. (Foto: Agência Pará)
No Blog da Perereca
Qual a quantidade de dinheiro que fica realmente com a Griffo Comunicação, dessa bolada que poderá chegar a mais de R$ 70 milhões, até o final de 2014?
É difícil dizer, caro leitor.
A Perereca da Vizinha conversou com publicitários e jornalistas, que só concordaram em falar ao blog sob a condição de não terem de se identificar.
Eles garantem que a Griffo, por força de cláusulas contratuais, só deve ficar com 15% desse dinheiro, para intermediar a veiculação de anúncios, e com uns 10% sobre os valores pagos a gráficas e produtoras de rádio e TV, quando acompanha a execução dos anúncios que concebe.
O problema é que os únicos documentos acessíveis ao distinto público comprovam apenas a entrada desse dinheiro nos cofres da Griffo: são as notas de empenho que você viu aqui, todas devidamente pagas, conforme informações do portal da Transparência, mantido pelo próprio Governo Estadual.
O destino desse dinheiro depois que ele entra nos cofres da Griffo é um mistério para o contribuinte.
É certo que a Griffo repassa a maior parte dessa bolada para os veículos de comunicação que divulgam a propaganda oficial.
Mas não se sabe quais são esses veículos, quanto é que recebem ou quais os critérios para receberem este ou aquele valor.
Porque a finalidade dessa triangulação é justamente esta: ocultar os nomes dos principais beneficiários desse derrame de dinheiro público.
Os donos de agências de propaganda, aqueles que se dispuseram a conversar com a Perereca, alegam que o fato de as agências ficarem encarregadas de pagar os veículos de comunicação simplifica o processo de pagamento, e até evita a “obrigatoriedade de licitação”, para a veiculação de anúncios neste ou naquele jornal.
Tudo lári-lári.
Não há nada que impeça que o Governo pague diretamente os veículos de comunicação.
E, se houvesse, bastaria uma lei ou até uma simples cláusula num edital de licitação, para resolver tal problema.
Mas aí os pagamentos do Governo a jornais, rádios, Tvs, blogs, sites, e até a jornalistas, teriam de estar acessíveis pela internet, como determina a Lei da Transparência.
E o contribuinte, que é obrigado a bancar essa festa de arromba, poderia até acompanhar, através de entidades civis, o número de vezes que esses anúncios são veiculados, para checar se isso corresponde, de fato, ao que é pago pelo Governo.
Há mais, porém.
Quem fiscaliza o repasse de dinheiro pela Griffo aos veículos de comunicação é a Secretaria de Comunicação do Governo do Estado (Secom).
O problema é a estreita relação da Griffo com esses governos (que, em geral, ajudou a eleger), e até com as pessoas escolhidas para comandar a Secom.
Exemplos: o atual secretário de Comunicação, Ney Messias, e a adjunta dele, Simone Romero.
Ambos já trabalharam em campanhas eleitorais comandadas pelo dono da Griffo, o marqueteiro Orly Bezerra.
Simone, por exemplo, foi escolhida por Orly para trabalhar como assessora de Simão Jatene ainda em dezembro de 2009 ou janeiro de 2010, ou seja, ainda na fase de pré-campanha do atual governador.
E permaneceu como assessora de Jatene durante a campanha eleitoral de 2010, sempre sob o comando de Orly, e trabalhando, inclusive, dentro da Griffo.
Já a relação de Ney Messias com Orly Bezerra e a Griffo é ainda mais antiga.
Ney trabalha nas campanhas eleitorais comandadas por Orly desde meados da década de 1990.
E, também, já prestou serviços à própria Griffo, para a criação de anúncios para o Governo do Estado, junto com uma empresa que teria sido ligada a ele: a Voice.
É verdade que Ney Messias é um excelente profissional, e do qual se desconhece envolvimento em maracutaias.
Mas o fato é que ele é um costumeiro prestador de serviços a Orly e à Griffo, para a qual agora assina a liberação de milionárias verbas de propaganda.
É uma situação parecida com a de alguns integrantes das comissões que avaliaram as propostas técnicas das agências, nas duas últimas licitações que a Griffo ganhou: as concorrências públicas para os contratos de propaganda do Governo do Estado e da Assembleia Legislativa do Pará (Alepa).
No Diário Oficial do Estado de 18 de abril de 2011, caderno 1, páginas 10 e 11, consta que os três integrantes da comissão técnica da licitação do Governo foram escolhidos, por sorteio, dentro de um grupo de nove jornalistas e publicitários:
1) Mauro Lima, diretor de publicidade e propaganda da Secom;
2)Simone Romero, secretária adjunta de Comunicação;
3)Luís Cláudio Rocha Lima, presidente da Imprensa Oficial;
4) Bernadette Dopazzo, mais conhecida como Betty Dopazzo, diretora de Comunicação integrada da Funtelpa;
5) Sérgio Chene, assessor de Comunicação;
6) Marlicy Bemerguy, assessora de Comunicação;
7) Walbert Monteiro, então diretor de Relações Institucionais do Tribunal de Justiça do Pará;
8) Iran (Irisvaldo) de Souza, então assessor de Comunicação da Assembleia Legislativa;
9)Sílvia Salles, jornalista
Pois muito bem: desses 9, pelo menos 5 já trabalharam em campanhas eleitorais comandas por Orly.
São eles: Simone Romero, Luís Cláudio Rocha Lima, Betty Dopazzo, Marlicy Bemerguy e Iran de Souza.
Todos trabalharam, por exemplo, na campanha eleitoral de Jatene, em 2010, dois deles, aliás, dentro da Griffo: Simone e Luís Cláudio Rocha Lima (que levou pelo menos UMA esculhambação impressionante de Orly, ouvida em boa parte da agência).
Já Betty Dopazzo, Marlicy Bemerguy e Iran de Souza trabalharam em várias campanhas comandadas por Orly e prestam serviços à Griffo desde meados da década de 1990 – pelo menos.
Ao final dos sorteios, a Comissão Técnica ficou assim: Mauro Lima, Walber Monteiro e Simone Romero.
Na Assembleia Legislativa, uma situação semelhante.
Segundo o Diário Oficial do Estado de 11 de setembro de 2012, caderno 7, página 6, eis a lista do grupo de nove jornalistas e publicitários, do qual saiu a comissão técnica do certame:
1)Iran (Irisvaldo) de Souza, então assessor de Imprensa da Alepa (o mesmo que esteve na licitação acima e que hoje é assessor de Comunicação da Prefeitura de Belém);
2)Ana Claudina Melo dos Santos, jornalista e funcionária da Alepa;
3)Cesar Renato Monteiro da Costa, assessor de imprensa;
4)Lília Soares Affonso, assessora de imprensa;
5)Micheline Ferreira, assessora de imprensa;
6)Pâmela Pimentel dos Santos, redatora;
7) Simone Romero, secretária adjunta de Comunicação do Governo (a mesma da licitação anterior);
8) Danielle do Socorro Filgueiras da Silva, assessora de Comunicação no Governo do Estado;
9) Janise Abud Barreto, assessora de Comunicação da Casa Civil do Governo do Estado.
Desses, pelo menos cinco já trabalharam em campanhas eleitorais comandadas por Orly e já prestaram serviços à Griffo: Iran de Souza, Simone Romero, Lílian Affonso, Janise Abud e Micheline Ferreira – que, aliás, também trabalha há anos como assessora do deputado Manoel Pioneiro (PSDB), que presidia a Alepa na época da abertura da licitação.
E a comissão técnica que julgou as propostas dos concorrentes do certame ficou assim: Simone Romero, Iran de Souza e Ana Claudina Melo dos Santos – a Dina Santos, a única que, até onde se sabe, nunca teve qualquer relação com a Griffo.
Uma sangria impressionante
Os R$ 31 milhões já recebidos pela Griffo Comunicação e Jornalismo, em apenas um ano e meio de trabalho, são, porém, apenas uma pequena parte da impressionante verba de propaganda do Governo do Pará.
Além da Griffo, há outras cinco agências que atendem o contrato de propaganda do Governo Jatene, que já alcança mais de R$ 36,5 milhões anuais.
Na verdade, o PPA (Plano Plurianual) previa que os gastos em propaganda somassem R$ 174 milhões, no período entre 2012 e 2015.
Essa previsão, no entanto, deve ser ultrapassada.
Só no ano passado, o Governo gastou mais de R$ 42,3 milhões em propaganda institucional, publicidade legal e de utilidade pública, conforme o balancete de dezembro, que está no site da Secretaria da Fazenda (Sefa).
Os números, no entanto, não incluem os gastos em propaganda do Banpara ou os mais de R$ 13,4 milhões da rubrica “serviços gráficos”, na qual o Governo costuma encafuar alguns gastos em propaganda.
Já a previsão revisada do PPA é a de que o Governo gaste quase R$ 134,9 milhões apenas em “ações de publicidade”, entre 2013 e 2015.
Esses R$ 134,9 milhões não incluem, no entanto, os mais de R$ 4,9 milhões que serão gastos, no mesmo período, em avisos e editais; e os R$ 717,6 mil destinados à comunicação institucional.
Assim, essas despesas devem atingir, no total, mais de R$ 140,5 milhões.
O que, somado ao que foi torrado em 2012, faz com que os gastos em propaganda do Governo possam chegar a quase R$ 183 milhões até 2015 – ou cinco vezes o que foi gasto na construção do Hospital Metropolitano, que ficou, em valores atualizados pelo IPCA-E, em R$ 36 milhões.
Leia nas próximas reportagens da série “Griffo, a Insaciável”:
_Dono da Griffo subestima valores recebidos em campanhas eleitorais e nem aparece nas prestações de contas de algumas delas;
_Os parentes de Orly Bezerra empregados no Governo e na Prefeitura e os valores que recebem em cargos de direção e assessoramento;
_Uma overdose de propaganda: os preços cobrados pela veiculação dos anúncios do governo;
_As campanhas realizadas por Orly e as licitações que ganhou.
E veja, nos quadrinhos abaixo, documentos e informações obtidas na internet, mostrando os gastos de propaganda do governo e a relação entre Orly, a Griffo, o secretário de Comunicação, Ney Messias, e integrantes das comissões técnicas das licitações do Governo e da Alepa.
Aqui, uma foto da equipe de marketing da campanha eleitoral de Jatene, em 2010, comandada por Orly. Nela aparecem Ney Messias, Simone Romero e Betty Dopazzo (a foto é do blog do poeta Ronaldo Franco):
LEIA MAIS
Não perca a próxima reportagem da série “Griffo, a insaciável”, que bomba no Face e já começa a repercutir fora do Pará!
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Um comentário:
Ao acessar a internet, sempre visito a página eletrônica do PCI Concursos desde 2005. Considero como um dos maiores guias sobre concursos públicos do país.
Chego à constatação do quanto reduziu drasticamente as realizações de concursos para o serviço público estadual nos últimos três anos. Para não dizer que no atual governo jatene não realizou concursos, que eu me lembre, foram dois: os da Policia Militar e Polícia Civil (este pela segunda vez). Sendo que até hoje os classificados do certame da PM ainda não assumiram seus cargos.
Outras nomeações realizadas pela SEAD, no atual governo, são remanescentes de concursos realizados no governo passado. Nomeações, em sua maioria, viabilizadas através de muita pressão popular.
Concluo que o atual governo Jatene, e seus aliados pioneiro e zenaldo, menosprezam concurso público e priorizam, através do nepotismo e tráfico de influência, contratações precárias de mão de obra terceirizada, temporária e de DAS. Numa clara demonstração da velha e esfarrapada receita neoliberal: sucatear e precarizar o serviço público, para depois privatizar, evidentemente o que é lucrativo e interassa aos seus parceiros capitalistas, mantendo apenas os serviços essenciais, mesmo em situação deficitária e de inanição.
Tática proposital que faz com que só cresça a desconfiança e descrédito popular com setor público, promovendo a migração de milhares do usuário pra o setor privado, principalmente nas áreas da educação e saúde.
Isto é, o instituto do concurso público, que moraliza, proporciona a eficiência e qualifica o serviço público é preterido pela política anêmica e imoral do PSDB, que a cada dia afunda o serviço público na vala da inércia, incompetência e corrupção.
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