segunda-feira, 6 de maio de 2013

O julgamento da “Filha de Hitler”

Em meio a um forte esquema de segurança e grande interesse da imprensa internacional, começa a ser julgada Beate Zschäpe, única sobrevivente de um grupo terrorista neonazista que assassinava imigrantes.


Ela pode pegar prisão perpétua

O texto abaixo foi publicado na versão em português do site alemão DW.

Em meio a um forte esquema de segurança e grande interesse da imprensa internacional, o Tribunal Superior Regional de Munique iniciou nesta segunda-feira o julgamento da série de assassinatos cometidos pelo grupo terrorista nazista Clandestinidade Nacional-Socialista (NSU, na sigla em alemão).
As vítimas são nove pessoas de origem turca ou grega e uma policial alemã, mortas entre 2000 e 2007. A motivação para os crimes foi xenofobia e racismo.
Beate Zschäpe, de 38 anos, chamada de “filha de Hitler” pela mídia, é a figura central do processo. Ela é acusada de cumplicidade na morte de oito pessoas de origem turca, de uma pessoa de origem grega, de participação num atentado a dois policiais, além de ser incriminada por tentativa de assassinato em atentados a bomba da NSU.
A participação de Beate na cena neonazista é tida como indiscutível. Muitas fotos e filmes a mostram participando de manifestações de extrema direita em várias cidades alemãs.
Aos 18 anos, ela se juntou a um grupo neonazista no qual conheceu Uwe Mundlos e Uwe Böhnhardt, com quem formaria a NSU. Embora os pais de Beate tivessem educação universitária, ela deixou a escola ao final do ensino médio e começou a trabalhar como assistente de pintor de paredes. Em 1998, a polícia encontrou armas e material de propaganda nazista em seu apartamento.
Na época, Beate era suspeita de envolvimento na produção de explosivos. Ela entrou na clandestinidade após um mandado de prisão ser emitido contra ela.
Quando o NSU foi descoberto, no final de 2011, ela provocou uma explosão no apartamento em que morava em Zwickau, com a finalidade de destruir provas dos crimes cometidos pelo grupo. Mundlos e Böhnhardt cometeram suicídio quando o caso veio à tona. Beate, se condenada, pode passar o resto da vida na cadeia.
Ela é a única sobrevivente do grupo. Até o momento, tem se mantido em silêncio. Seu comportamento será decisivo para o decorrer do processo da NSU, pois é a última testemunha.
Ela era uma espécie de “centro emocional desse grupo”. Desde o início de sua vida, Zschäpe teve motivos para se sentir indesejada. Seu nascimento, em janeiro de 1975, veio como uma surpresa para a mãe: ela nem sequer percebera que estava grávida, e dera entrada no hospital sob suspeita de cólica renal.
Na época da reunificação das Alemanhas, em 1989-1990, Beate perde visivelmente o rumo da vida. Aos 14 anos se junta a uma gangue. No outono de 1991, aos 16 anos de idade, ela conhece Uwe Mundlos. Os dois se apaixonam e ficam noivos.
Mais tarde, ela começa um treinamento em jardinagem. Durante o curso, abandona o namorado : enquanto ele cumpria o serviço militar, ela se apaixona por seu melhor amigo, Uwe Böhnhardt.


Os dois homens da vida de Beate, e seus companheiros no terror de terror: Uwe Mundlos e Uwe Böhnhardt

Os três passam quase 20 anos juntos, até o fim da célula terrorista NSU, em 2011. Apesar de ter sido abandonado por Beate, Mundlos continuava buscando sua companhia. Segundo um amigo de escola do rapaz, o trio só pôde se formar porque ele continuava a amá-la. Os dois rapazes se transformam para ela num substituto de família.
Enquanto Mundlos e Böhnhardt cometiam assassinatos e assaltos a bancos, Beate mantinha a fachada. Ao se mudarem para um novo apartamento, ela até vai se apresentar aos vizinhos.
Beate mantinha a coesão do grupo terrorista. Para fora, representava a vizinha simpática. Ela logo ficou popular na vizinhança: cuidava dos contatos, oferecia pizza para todos.
Os vizinhos a viam pendurar sempre roupa no varal, e ela cozinhava quase todos os dias. O cheiro de comida que vinha do apartamento era sempre bom, contaram aos repórteres. Enquanto isso, os dois homens saíam em rondas assassinas.
Desde o princípio, os papéis eram bem definidos dentro do trio: Mundlos era o cérebro, Böhnhardt, aficionado em armamentos, era o executor. Beate era a dona de casa e mãe da “família” – como ela própria afirmaria mais tarde, na prisão.
Muitos se perguntam por que somente quatro pessoas são levadas a julgamento com Zschäpe, já que o círculo de ajudantes da NSU incluiria 129 pessoas. As autoridades afirmam que as investigações ainda estão em curso.
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