terça-feira, 30 de abril de 2013

Por que jogadores de futebol gays não saem do armário?


No mundo do futebol, a fantasia é que eles não existem. Jason Collins, da NBA, assumiu.

Por: Mauro Donato

“Tenho 34 anos. Sou pivô na N.B.A. Sou negro e sou gay”. Assim Jason Collins definiu-se para a revista Sports Illustrated. Tornou-se o primeiro jogador de uma grande liga a assumir-se gay ainda em atividade (embora atualmente sem contrato). Outros atletas assumiram sua homossexualidade somente depois da aposentadoria.
São, portanto, raros os casos como o de Collins. Por quê?
Em 2011, o jogador Michael dos Santos, do Vôlei Futuro, saiu do armário. Imediatamente passou a ser hostilizado pelas torcidas adversárias. Graças à TV, durante uma partida pelas semifinais da Superliga masculina, a homofobia foi transmitida nacionalmente (o time do Cruzeiro teve que pagar uma multa de R$ 50 mil por conta dos insultos contra Michael e isso provavelmente pode ter encorajado a líbero do mesmo Vôlei Futuro – e americana – Stacy Sykora a também assumir).
Chegamos a uma primeira conclusão.
O receio dessas reações em turba. Sabe-se que os humanos quando em massa ficam descerebrados.
E no futebol?
Ali as coisas pioram ainda mais, pois o receio não se restringe à reação da torcida. Os próprios “companheiros” não aceitam e o ambiente é tão machista que em times femininos a situação se inverte. Todas as jogadoras passam a ser vistas como “sapatas”.
Esse temor de “contaminação” associado a uma carapaça construída com a mesma quantidade de concreto utilizado nas reformas do Maracanã ocasiona dramas pessoais.
No início deste ano, o jogador Robbie Rogers, um americano que atuava na Inglaterra, fez duas declarações: assumia ser gay e abandonava o futebol naquele momento. Aos 25 anos. Parou porque sabia que sua vida se transformaria num inferno. “No futebol é obviamente impossível se assumir homossexual”, disse o jogador, que afirmou ter certeza de que era gay aos 14 mas que nunca revelara para ninguém. Nem família nem amigos. Sua declaração, se feita nos moldes de Jason Collins, seria mais contundente que a do compatriota: “Eu sou um católico, conservador, jogador de futebol e gay”.
Isso nunca irá mudar?
Quantos jogadores gays jogam profissionalmente?
Segundo o ex-técnico da seleção brasileira, Carlos Alberto Parreira, a resposta é nenhum! Ele garante que nunca conheceu um homossexual nas equipes que treinou em mais de 35 anos de carreira.
Segunda conclusão:
É grande o respeito à regra que diz que “o que acontece no vestiário, fica no vestiário”.
No meio desse campo preconceituoso, atitudes como a de Mario Gómez, atacante do Bayern e da seleção alemã que aconselhou os jogadores gays a assumirem, são da probabilidade de encontrar um pontepretano na arquibancada bugrina. O alemão disse em entrevista que “a homossexualidade já não é nenhum tema tabu” e que os jogadores poderiam ter um melhor desempenho se jogassem “libertos desse fardo”. Ele se declara hetero.
Por que ainda há tanta dificuldade? Por que no esporte a resistência parece ser maior que em outros setores?
A reação da torcida no vôlei dá a dimensão do quão corajosa é a atitude. Se uma pessoa “civil” precisa admitir apenas para a família e mais meia dúzia de amigos e ainda assim muitos levam a vida sem conseguir o feito, imagine o atleta que precisará enfrentar 20 mil, 30 mil vozes gritando “bicha, bicha!”. Haja autoestima.
A decisão de Robbie Rogers de abandonar o futebol mostra que para muitos, assumir a homossexualidade pode não significar libertar-se. Livre ele seria se pudesse continuar jogando futebol.
Mas o futebol vive de aparências e jogador, sabidamente, joga para a torcida. E torcedor não gosta de jogador que leva bola nas costas, certo, companheiro?
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