Najibullah Quraishi. Não surpreende que os americanos sejam tão odiados pelos afegãos.
Por: Paulo Nogueira
O JORNALISTA AFEGÃO Najibullah Quraishi não vive em seu país, por razões óbvias. Faz nove anos que o Afeganistão está em guerra.
Ele conseguiu escapar do inferno que é viver sob bombas, em meio a cadáveres e cenários de destruição.
Mas ele às vezes volta a sua terra para fazer jornalismo.
Nenhum jornalista estrangeiro cobre tão bem o Afeganistão quanto ele. Porque ninguém a conhece e a entende tão bem. Não faz muito tempo, ele fez para a emissora inglesa Channel 4 um documentário sobre os afegãos que lutam contra as forças ocidentais. O objetivo era mostrar ao público da Inglaterra quem estava do outro lado em um conflito que tem cobrado vidas de jovens soldados britânicos.
Quraishi é respeitado jornalisticamente porque faz um trabalho sério. Não é panfletário. Não é fanático islâmico e nem um fanático dos Estados Unidos.
Ele se tornou conhecido da comunidade internacional jornalística quando foi um dos coautores do documentário “O Comboio da Morte”. Nele, é reconstruído um episódio nebuloso de novembro de 2001 no norte do Afeganistão. Um grupo de soldados do Talibã rendera-se às tropas do general Abdul Rashid Dostum , um aliado dos Estados Unidos. Eram 8 000 soldados, e a condição era que fossem poupados.
Eles foram colocados em caminhões blindados, cada qual com 150 ou 200 presos. Quando o comboio chegou ao destino, pouco mais de 3 000 dos presos estavam vivos. Quraishi ouviu e filmou pessoas que participaram do comboio. Essa foi a base do documentário. Um dos entrevistados lembrou que, para abrir pontos de respiro num caminhão, um soldado do general Dostum abriu fogo contra a parte de trás. Os tiros mataram alguns presos dentro do caminhão. Soldados americanos que acompanhavam o transporte dos presos nada fizeram para impedir o massacre.
O documentário passou em vários países, contra a vontade dos Estados Unidos, e provocou desconforto por causa do sofrimento afegão. Não foi exibido na tevê americana. A mídia americana ignorou o documentário. O Pentágono, num primeiro momento, negou que tivessem ocorrido irregularidades no comboio.
Em sua ida mais recente ao Afeganistão, a serviço do Channel 4, Quraishi notou a mudança no estado de espírito dos afegãos médios. “Em 2001, eles viram os Estados Unidos como o país que iria libertá-los do Talibã”, escreveu ele. “Agora enxergam neles um invasor.” Várias pessoas que ele entrevistou coincidiram em afirmar que para elas a prioridade, neste momento, é que os exércitos liderados pelos Estados Unidos vão embora. Isto feito, será então a hora de lidar com os extremistas religiosos.
Obama assumiu com a ambição de melhorar a imagem dos Estados Unidos no mundo. Chamar de volta quanto antes os soldados americanos, objeto de ódio intenso no Afeganistão, era um passo para realizar a ambição. Mas nada. Obama continuou todas as guerras de Bush.
Há poucos dias, uma manifestação de civis na capital Cabul trazia cartazes em que se lia: “Americanos: vão para o inferno!” Não é o caso de irem para o inferno. Basta que retornem a seu país.
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