quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Hidrelétricas do Tapajós serão movidas a lama?


As turbinas das usinas hidrelétricas previstas pelo governo federal na bacia do Tapajós/Jamanxim, no Oeste do Pará, não serão movimentadas a água, mas a lama, se prosseguir o ritmo da devastação em curso por dezenas de potentes e enormes dragas instaladas ilegalmente nesses rios e seus afluentes.

Verdadeiras fábricas de lama, é assim que as dragas ameaçam a vida da população de uma imensa região no interior da Amazônia
(Foto: Tapajós em Foco, julho 2012)


No Blog do Dutra

A primeira das sete usinas, projetada para a localidade de São Luís, cerca de 50 km da cidade de Itaituba, já está com o futuro canteiro de obras afetado pelo barro que desce intensamente do médio Tapajós. Aqui o rio está rapidamente mudando de coloração, igualmente como acontece mais abaixo, nas cercanias e na frente da sede municipal, a cidade de Itaituba. Uma coloração bem diferente do que ainda se verifica na foz do grande rio (foto a seguir), onde o enorme volume de águas tende a transparecer a mudança aos poucos. Aqui, há locais onde o Tapajós mede 16 km de largura, daí a demora em se perceber a sujeira de suas águas.


Assim é (ou era) a cor natural do Rio Tapajós, na sua foz, próximo a Santarém
Foto: Manuel Dutra, fev, 201


Segundo informações da Secretaria Municipal de Mineração, Meio Ambiente e Produção deste município, somente no leito principal do médio Tapajós foram contabilizadas 29 dragas, na verdade edificações de ferro da altura de um prédio de dois andares, com possantes máquinas instaladas no porão, de onde acionam os sugadores do fundo rio à cata de ouro, transformando o rio em lama. Há, inclusive, balsas-dragas que servem de residência a “empresários” e trabalhadores, dotadas de apartamentos e restaurantes.


Ao longo do rio, em contraste com o verde da floresta remanescente, percebe-se a mutação das águas 
Foto: Manuel Dutra, 9.2.2013


Se forem conferidas as dragas dos afluentes seu número ultrapassa 50, conforme as estimativas. Há quem fale em 70. Esses potentes equipamentos funcionam durante 24 horas, ao lado de outras dezenas de máquinas chamadas de PCs, que reviram a terra a seco ou na lama deixada pelos antigos garimpos que foram desativados há cerca de 20 anos.
A presente corrida aos locais dos antigos garimpos do Tapajós/Jamanxim deve-se ao esgotamento das áreas de extração em Rondônia, para onde muitos “empresários” emigraram no início dos anos 1980.


Na frente da cidade de Itaituba as águas já ganharam coloração diferente. Como ficarão dentro de algum tempo? 
Foto: Manuel Dutra, 9.2.2013

Pelo ritmo da atual agressão ambiental, que se intensifica há mais de um ano, as hidrelétricas previstas para a mesma região terão as suas turbinas movidas a lama e não a água, pois o rio está virando isso mesmo, um mar de lama, tal como se verificou nos anos 1980. Com uma diferença significativa: hoje as tecnologias empregadas na cata desesperada do ouro são muito superiores em tamanho e capacidade de agressão ambiental.
Atualmente os “donos” dos garimpos não necessitam de mão de obra volumosa, mas empregam de preferências trabalhadores com alguma especialização, dispensando o braço dos chamados peões. Por exemplo, cada PC, o trator que revira a terra a seco ou na lama, realiza dia e noite o trabalho equivalente a 100 trabalhadores braçais. Essas máquinas vão abrindo enormes sulcos na mata, lançando o barro para um moinho, misturando-o depois com água que termina dentro dos rios e afluentes.
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