segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Tapajós e Carajás não podiam. Pará, estado rico, pode construir mais palácios

O índice de desenvolvimento humano do Pará é dos mais baixos do Brasil. A violência coloca Belém entre as campeãs nacionais e até internacionais. Nada disso importa aos deputados. Com R$ 50 milhões daria para começar bons projetos de humanização geral da capital, mas os parlamentares acham que fazer mais um palácio é mais negócio. E que negócio certamente será!
Fotos: MD
A imponência prevista do novo Palácio que abrigará os deputados de uma cidade que precisa ser humanizada não com palácios, mas com saneamento e segurança pública. Isso pouco importa aos deputados

Um dos mantras destacados de muitos políticos do Pará que fizeram a campanha do Não, no plebiscito de dezembro de 2011 sobre a criação dos Estados do Tapajós e Carajás, era justamente a questão da construção de novos prédios públicos para abrigar as novas administrações em Marabá e Santarém, as previstas capitais. Os discursos eram sobre o "desperdício" de dinheiro público numa região "tão carente" e necessitado de investimentos em "saúde, saneamento, segurança, educação". 
Pois bem, mal passado um ano de oposição ao "desperdício", os deputados estaduais aprovam e começam a por em em ação um projeto para a construção de mais um palácio na capital do Pará, absolutamente desnecessário, que é a nova sede da Assembléia Legislativa, a mesma Assembléia dentro da qual diversos deputados e servidores estão, há mais de dois anos, debaixo das mais cabeludas denúncias de corrupção, na forma de desvios de dinheiro, documentos falsificados, nepotismo e outras cositas mais que parece não foram apuradas, pois ao que nós, eleitores saibamos, ninguém foi punido pelo judiciário.
Ainda não foram totalmente esclarecidos os casos de corrupção grossa tão denunciados nos últimos dois anos, e já os parlamentares partem para nova e milionária empreitada
A nova sede é inteiramente desnecessária, pois o prédio onde hoje funciona a Assembleia, na Praça Dom pedro, no Centro Histórico de Belém, dispõe inclusive de um prédio anexo. Aliás, se lá dentro permanecessem tão somente os deputados e os funcionários indispensáveis, e fosse dispensada a massa de assessores cuja presença lá não se justifica a não ser pela politicagem e pelo nepotismo, os atuais prédios podem ser usados até século 22.

Milhares de famílias de Belém moram assim, como estas à margem da avenida Bernardo Sayão, no bairro do Jurunas. Para os deputados, um novo Palácio milionário é mais importante. Daqui desta rua-lama eles só querem os votos e a submissão
O projeto da nova sede localiza-se numa área que por décadas pertenceu à Força Aéreo Brasileira, na avenida Brigadeiro Protásio, ao lado do Hangar, que também foi local onde a FAB dava manutenção aos seus aviões. Aquela enorme áreas bem poderia ser aproveitada para a abertura de mais um espaço livre, um parque, ou área para prática de esportes ou outra destinação socialmente justificável.
Há seis meses, o então presidente da Assembléia Legislativa e hoje prefeito municipal de Ananindeua, Manoel Pioneiro (PSDB), informou que a construção do novo palácio legislativo custará R$ 40 milhões que, acrescidos por outros R$ 10 milhões só com a transferência de sede, sairá por R$ 50 milhões. Até o final da obra, em quanto estará esse "orçamento"?
Belém, a capital paraense, ao lado de suas belezas e reconhecido valor histórico, tem hoje metade de sua população de mais 2 milhões de habitantes, aí incluídos os municípios metropolitanos, vivendo nas condições mais insalubres e desumanas, com imensos bairros totalmente desprovidos de saneamento e meios de mobilidade. O índice de desenvolvimento humano do Pará como um todo é dos mais baixos do Brasil. A violência coloca Belém entre as campeãs nacionais e até internacionais. 
Nada disso importa aos deputados. Com R$ 50 milhões daria para começar bons projetos de humanização geral da capital, mas os parlamentares acham que fazer mais um palácio é mais negócio. E que negócio certamente será!
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