Nas Olimpíadas aprendemos a admirar e amar atletas abnegados, o oposto dos mercenários da bola
Isso vai ficar para a posteridade
Por: Scott Moore
A imagem que para mim vai ficar do futebol inglês em 2012 é a acima: Liam Ridgewell, zagueiro do West Brom, usando notas de 20 libras como papel higiênico. Ela apareceu no twitter, e ficará para a posteridade como o retrato de um tempo vil nos gramados ingleses.
Repito o que já disse neste espaço.
Nós, ingleses, amamos o futebol. Vocês sabem disso. Nós inventamos o futebol. É uma paixão antiga. Em época de Copa do Mundo, Londres fica tomada por bandeiras inglesas. Somos simplesmente loucos por futebol
Mas detestamos os jogadores.
Não é um ódio antigo. Ele se iniciou quando o dinheiro transformou os jogadores em mercenários. Antes, eles eram como nós. Podíamos imaginá-los no tube – metrô — conosco. Agora eles só se mexem em Ferraris e Porshes.
Nas Olimpíadas, nós, britânicos, ganhamos um número considerável de medalhas. Novos ídolos apareceram. Gente simples, como eram os futebolistas de antigamente. Fiquei particularmente impressionado com Mo Farah, o feio, o desajeitado, o simpático atleta que nasceu na Somália e veio criança para o Reino Unido como refugiado de guerra. Mo ganhou dois ouros. Mesmo minha mulher Chrissie, que discorda de mim em tudo, concordou em que Mo se tornou uma inspiração para jovens pertencentes às classes mais modestas.
Também nos apaixonamos por Jessica Ennis, nossa heroína no heptatlo. Também ela contribuiu para a nossa coleção de medalhas de ouro. (O Boss disse, numa tarde em que vimos disputas na tevê de um pub em Parsons Green, que para ele Jessica era a mulher mais bonita das Olimpíadas. Discordei, embora reconheça virtudes estéticas em Jessica.)
E os ricos e arrogantes jogadores de futebol? Mais uma vez, fracassaram. O que nos incomodou, acima de tudo, é que eles não deram tudo pelo ouro. Pareciam desinteressados, ausentes. Foi um contraste chocante com o que vimos nos atletas de outras modalidades.
Não sei qual foi a reação entre vocês, brasileiros, ao fiasco verde-amarelo. Mas suponho que tenha sido parecida, pelo que ouço do Boss.
O dinheiro estragou os jogadores, moralmente. Enriqueceu-os numa medida alucinante, mas ao mesmo tempo os fez mesquinhos, pequenos de alma, incapazes de se conectar com os torcedores das arquibancadas.
Cristiano Ronaldo é o símbolo máximo do mercenarismo. Ganha 11 milhões de euros por ano, e disse em 2012 que estava triste por razões que todos conheciam. Esta: seu salário não era o maior do mundo.
O que a mim irrita ainda mais é que eles simplesmente não valem o que ganham. Todos os grandes clubes europeus são deficitários. Se os clubes funcionassem como uma empresa, haveria demissões coletivas porque as contas não fecham. Os jogadores não trazem aos times retorno que compense os salários gigantescos. As despesas superam amplamente as receitas.
O que tem acontecido com frequência é o seguinte: os clubes quebram e são comprados por magnatas estrangeiros como o russo Roman Abramovic, do Chelsea, ou o árabe Mansour Al Nayan, do meu City. São homens interessados em ganhar prestígio social na Inglaterra – e para isso perdem alegremente muito dinheiro no futebol.
Homens como eles, Abramovic e Mansour, não são comandantes de atletas. São, isso sim, capitães de mercenários. E de palhaços, como o zagueiro do West Brom que limpou seu, bem, seu traseiro com notas de 20 libras.
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