quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Fernanda Montenegro, Niemeyer e o macartismo tupiniquim


Nos últimos anos, o universo midiático passou a conviver com três fenômenos: o opinionismo desenfreado, o desejo de chocar a qualquer preço, até pagando mico, e o macartismo nas avaliações de personalidades.
Quando começou esse jogo, nem o ridículo serviu de limite.
Um conjunto de colunistas, que ganhou espaço meramente pela prática do macartismo virulento e de baixo nível, sentiu-se em condições de julgar o mundo.
Poucas vezes o ridículo foi tão bem servido.
De repente, o colunista especializado nos mais virulentos xingamentos, ganha espaço na Globonews para falar de seu livro. Estufa o peito, cruza as pernas para se conferir o controle do espaço próximo, e avança além das chinelas e dos petralhas:
- Carlos Drummond de Andrade era um preguiçoso!
E nada mais disse sobre Drummond porque não tinha muito a dizer.
Na revista, outro colunista liquida com Mozart, Antônio Cândido e Chico Buarque. Pela ordem.
Na morte de Niemeyer, o geógrafo julga acabar com a reputação de um dos arquitetos do século. Escreve um artigo demolidor, depois xeroca, embrulha em papel celofane e vai depositá-lo no altar do Santo Protetor do Ridículo.
A procuração que recebeu era para atacar bolivarianos, chavistas, evistas, kirschenistas, petistas, lulistas, leninistas, e por aí vai. Mas não se contem. Quando o sujeito se julga “a força” – pelo espaço que consegue na mídia – nada o detém, nem o ridículo.
Então, para que não embarquemos nessa iconoclastia própria dos adolescentes ou dos oportunistas, proponho criarmos uma lista de intocáveis – pessoas que, por sua genialidade e importância, ganharam passaporte para exprimir a opinião que quiserem sem risco de que nós, pobres mortais, subamos no seu pescoço, atacando os vivos pelo que disserem agora e os mortos, pelo que disseram em vida:
Fernanda Montenegro – é das maiores atrizes brasileiras da história. Mais que isso: é de uma ponderação, sabedoria e elegância que a transformaram em uma referência de opinião, em uma reserva moral.
Ruth Escobar – nunca foi referencia de opinião, mas foi uma das mais importantes agitadoras culturais do teatro brasileiro.
Marília Pera – das grandes atrizes da história do teatro e da televisão. Pode dizer o que quiser. Tem salvo conduto da sua biografia.
Regina Duarte – também não vamos exagerar.
Os cientistas sociais e historiadores conservadores: respeito a Roberto da Matta, José Murilo de Carvalho, Paulo Mercadante, Boris Fausto. Na crítica a eles, cuidado para não se expor ao ridículo do geógrafo que atacou o mais relevante dos cientistas sociais da atualidade, Wanderley Guilherme dos Santos. Não confundam intelectuais conservadores de peso com os Carlos Guilherme Motta e Marco Antônio Villa da vida.
Entre os históricos: Gilberto Freyre é gênio, é o maior. A opinião é de um dos maiores, Antônio Cândido de Mello e Souza. Portanto, quem atacar Freyre com patrulhamento corre o mesmo risco do ridículo daqueles que atacam Antônio Cândido, Caio Prado, Florestan ou Sérgio Buarque. O mesmo vale para Manuel Bonfim e Oliveira Vianna.
Respeito total aos economistas que ajudaram na construção do Brasil, independentemente de ideologias. Celso Furtado e Roberto Campos, Rômulo de Almeida e Otávio Gouvêa de Bulhões, Cleantho de Paiva Leite e Dias Leite, Delfim Netto e João Paulo dos Reis Velloso, Dionísio Dias Carneiro e Maria da Conceição Tavares.
Direito total aos músicos de falarem as bobagens que quiserem, sem que sua música seja julgada
E me ajudem a completar a lista dos "impatrulháveis", que podem ser criticados, sim, mas contrapondo ideias a ideias.
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