sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Escritório de Mário Couto em Belém paga só R$ 30 de luz, mas possui 20 funcionários do Senado em “regime especial” de frequência



No Blog da Perereca

Até parece aquela música de Vinícius de Moraes: “Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada...”
No ano passado, os gastos de luz do escritório do senador Mário Couto Filho (PSDB) em Belém, pagos pelo Senado Federal através da verba indenizatória, ficaram em menos de R$ 30,00 por mês.
E isso apesar de naquele escritório estarem lotados 20 servidores do Senado, todos com “regime especial” de frequência.
No portal da transparência do Senado Federal, não há sinal de contas de telefone pagas para aquele local.
Tampouco há despesas com serviços de limpeza.
Os meses em que as contas de luz atingiram valores maiores foram em junho e julho deste ano, quando ficaram, respectivamente, em R$ 51,72 e R$ 57,42.
No escritório do senador Fernando Flexa Ribeiro (PSDB) em Belém, onde estão lotados 12 funcionários do Senado, os gastos de luz giram em torno de mil reais por mês e as despesas com telefonia (fixa, celular e internet) alcançaram mais de R$ 2.800,00 em março do ano passado.
No escritório da ex-senadora Marinor Brito (PSOL), em Belém, as contas de luz ficavam em cerca de R$ 500,00 por mês e o os gastos com telefone chegaram a R$ 1.300,00, em junho do ano passado – o menor consumo de telefonia, em outubro, foi de R$ 300,00.
E mais: segundo o site da ANEEL, a agência nacional de energia elétrica, só um aparelho de ar condicionado de 7.400 BTUS, ligado 8 horas por dia, consome 162 KWh por mês – e o valor do KWh é de R$ 0,38, informa a Celpa.
Ou seja: só um aparelho pequeno de ar condicionado já implicaria custo muito superior aos R$ 30,00 pagos por Mário Couto, mesmo sem considerar os impostos, que incidem em profusão nas faturas de energia.
Há mais, porém.
Em 2008, o portal da Transparência do Senado registra as despesas com a verba indenizatória apenas entre fevereiro e dezembro.
Nesse período, não há sinal de aluguel de escritório por Mário Couto em Belém.
Mesmo assim, o Senado ressarciu o senador em despesas de R$ 97.695,67 (o equivalente a R$ 8.881,42/mês), na rubrica “aquisição de material de consumo”, para uso no escritório político.
Em 2009, no mês de janeiro, consta um gasto de R$ 9.000,00, na rubrica “aluguel de imóveis para escritório político, compreendendo despesas concernentes a eles”. Mas é só. Nos meses seguintes, não há registro de pagamento de luz, condomínio, água ou IPTU.
Mesmo assim, os gastos em material de consumo ressarcidos pelo Senado a Mário Couto ficaram em R$ 74.399,86 – ou R$ 6.199,98 por mês.
Em 2010, não houve pagamento de aluguel de escritório. Mas os gastos em material de consumo ressarcidos a Mário Couto alcançaram R$ 43.046,00 – ou o equivalente a R$ 3.587,16 por mês.
Já em 2011, as despesas com material de consumo do escritório do senador caíram para R$ 5.319,05 – ou R$ 443,25 mensais.
E agora em 2012, até o mês passado, os gastos com material de consumo ficaram em apenas R$ 55,40 – ou modestíssimos R$ 5,54/mês.
No escritório de Flexa Ribeiro, as despesas com material de consumo ficaram em R$ 5.243,78 entre janeiro e outubro deste ano, ou o equivalente a R$ 524,37 mensais.
É mais do que Mário Couto gastou no ano passado e neste ano, mas muito menos do que as impressionantes despesas de 2008, 2009 e 2010, quando o controle social e a transparência dos gastos das Vossas Excelências ainda engatinhavam.
Além disso, como se viu, o escritório de Flexa Ribeiro possui despesas significativas de luz e telefonia – o que é sinal de gente gastando material.
O mesmo se pode dizer da ex-senadora Marinor, que chegou a gastar R$ 720,93 em material de consumo, em agosto do ano passado.
Outro senador do Pará, Jader Barbalho (PMDB) não possui despesas com esse tipo de estrutura, ressarcidas pelo Senado.
“Tem de marcar, para dar sorte de encontrar”
Segundo o portal da Transparência do Senado Federal, o novo escritório de Mário Couto fica no edifício Carajás, na travessa São Pedro, 566, atrás do Pátio Belém.
Pelos documentos que atestam o pagamento do condomínio (R$ 145,00/mês), trata-se da sala 203 – informação confirmada por dois porteiros.
O aluguel seria de R$ 800,00/mês, pagos à dentista Maria Goretti Lobato Sinimbu.
O IPTU gira em torno de R$ 50,00 mensais.
Ainda pela documentação, a primeira parcela do aluguel foi paga em abril do ano passado.
No entanto – e esse é outro fato estranho – as contas de luz do escritório só começaram a figurar no portal da Transparência em agosto daquele ano, ou seja, quatro meses depois da locação.
E, naquele agosto, a conta da Celpa foi de apenas R$ 7,69.
A Perereca conversou por telefone com dois porteiros do edifício Carajás.
Ambos disseram que a sala 203 fica fechada a maior parte do tempo e se referiram a uma advogada, de nome Penha, como a pessoa que mais aparece no escritório – “um dia sim, outro não”.
No entanto, na relação de servidores do Senado não há ninguém com esse nome lotado no escritório de Mário Couto.
Os dois porteiros também citaram “a Sâmia”, como outra pessoa que aparece por lá. Trata-se de Sâmia Gabriel, filha do ex-governador Almir Gabriel, que trabalha no gabinete de Couto.
Um dos porteiros referiu, também, um rapaz de nome Paulo e um filho do senador. “O senador eu nunca vi aqui, não. Quem vem de vez em quando é o filho dele”, disse.
O outro porteiro também afirmou nunca ter visto Mário Couto por lá, mas apenas dois rapazes, além de Penha e Sâmia.
Ambos recomendaram que eu ligasse para o celular da advogada, para marcar uma visita, antes de aparecer por lá.
“Tem que marcar, para dar sorte de encontrar”, disse um deles, depois de informar que ontem mesmo (21) ainda não havia aparecido ninguém na sala 203.
“Quem vem mais é a Penha, na parte da tarde. Mas é difícil achar ela”, contou o outro.
Ambos confirmaram que a taxa de condomínio inclui apenas gastos de água – e não de energia ou de limpeza das salas.
No site da Belém Coworking (http://belemcoworking.wordpress.com/), a informação é que o custo médio mensal de um escritório em Belém é de R$ 2.800,00/mês, entre aluguel, água, luz, telefone e internet – ou seja, o básico.
No site da North Office (http://www.northoffice.com.br/?main=cont_view&id=30) a estimativa é que um escritório em Belém gere uma despesa mínima de R$ 5.700,00/mês.
Desse total, R$300 seriam para o pagamento de energia elétrica; R$ 350,00 para telefone; e R$ 465,00 para limpeza e manutenção.
“Mas isso é para um escritório pequeno, com umas três pessoas”, informou por telefone um funcionário da North Office.
Leia Mais
________________________________

Nenhum comentário: