quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Cinco boas notícias das eleições dos Estados Unidos

Por José Antonio Lima (Carta Capital)

Os norte-americanos reelegeram Barack Obama para mais quatro anos de mandato na terça-feira 6. No mesm0 dia, o eleitor aprovou mudanças importantes que terão impacto nas políticas públicas não apenas dentro do país, mas também no exterior. Confira abaixo alguns dos resultados positivos que emergiram das urnas nos Estados Unidos.

1 – Dois Estados legalizam a maconha

Os eleitores do Colorado e de Washington aprovaram a legalização da maconha para uso recreativo por adultos. É um passo polêmico, mas extremamente importante. Uma análise minimamente razoável da “guerra às drogas” é capaz de constatar que ela, além de não conseguir conter o uso de entorpecentes, ela transformou o mundo, e particularmente a América Latina, num lugar mais perigoso. O continente produz e serve como ponto principal de transporte para a droga usada nos Estados Unidos, um dos líderes do consumo mundial. É por esse motivo que presidentes e ex-presidentes latinos (como Fernando Henrique Cardoso) defendem a descriminalização das drogas. A partir de agora, as legislações do Colorado e de Washington serão conflitantes com a nacional dos EUA, que proíbe qualquer posse ou venda de maconha. A discussão a respeito do assunto nos Estados Unidos é capaz de tornar o debate no resto do mundo mais racional e menos apaixonado.

2 – Número de mulheres no Senado é recorde


Elizabeth Warren, professora de Harvard, comemora eleição ao Senado por Massachusetts. Ela ganhou fama ao fazer duras críticas a Wall Street durante o auge da crise financeira e econômica. Foto: Darren McCollester/Getty Images/AFP

O próximo Senado dos Estados Unidos terá um número recorde de mulheres. Serão pelo menos 19 de um total de cem parlamentares na Casa, contra as 17 atuais, o recorde antigo. As mulheres se destacaram principalmente no Partido Democrata, graças à tese de que alguns membros do Partido Republicano, como Richard Mourdock e Todd Akin (leia abaixo), estariam realizando uma “guerra às mulheres”. As seis senadoras democratas que disputavam a reeleição venceram. Duas democratas eleitas serão as primeiras mulheres a representar seus Estados – Elizabeth Warren em Massachusetts e Tammy Baldwin no Wisconsin. Tammy é também a primeira senadora abertamente homossexual a ser eleita. Outra democrata, Mazie Hirono, é a primeira senadora de origem asiática do Havaí. Segundo a rádio pública NPR, 33% das disputas ao Senado tinham uma candidata viável, número significativo já que, mesmo quando conseguem se candidatar, as mulheres têm problemas para financiar suas campanhas. A participação das mulheres no Congresso norte-americano ainda é considerada baixa (cerca de 17%), mas o resultado no Senado comprova um aumento sistemático da participação delas na tomada de decisões. Em 1991, havia apenas duas senadoras nos Estados Unidos. O resultado deste aumento de participação é óbvio, como disse em entrevista Barbara Lee, líder de uma fundação que busca ampliar a representação legislativa das mulheres. “Quanto mais mulheres em cargos eletivos, mais barreiras são dissipadas”.

3 – Três Estados aprovam o casamento gay


Casal gay faz campanha pelo casamento de pessoas do mesmo sexo em agosto, na Califórnia. A disputa sobre o direito neste Estado será resolvida pela Suprema Corte dos EUA. Foto Frederic J. Brown / AFP

Em referendos, três Estados americanos – Maine, Washington e Maryland – aprovaram o casamento entre pessoas do mesmo sexo, ampliando de sete para dez os locais nos Estados Unidos em que este direito é garantido. Antes, pessoas do mesmo sexo podiam se casar em Connecticut, Iowa, Massachusetts, New Hampshire, Nova York, Vermont e no distrito de Columbia, onde fica a capital do país, Washington. Em maio, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse ser favorável ao casamento gay e não apenas à união civil de homossexuais. A decisão dos estados dá mais força a quem acredita que todos os cidadãos de um país, independentemente de orientação sexual, têm direitos iguais e enfraquece religiosos de todo o tipo que se mobilizam para impedir que homossexuais tenham o mesmo direito de se casar que eles, religiosos, têm.

4 – Dois dos piores reacionários são rejeitados


Todd Akin e sua mulher, Lulli, conversam com eleitora antes da votação em Wildwood, no Missouri. Ele foi rejeitado pelos eleitores do Estado. Foto: Whitney Curtis/Getty Images/AFP

Dois candidatos republicanos ao Senado que provocaram ultraje com declarações a respeito do aborto foram rejeitados pelos eleitores dos Estados de Indiana e Missouri. Em Indiana, Richard Mourdock se tornou favorito ao encampar as ideias da Tea Party (uma facção radical do Partido Republicano), mas provocou indignação, inclusive entre os eleitores republicanos, ao afirmar que “mesmo quando a vida começa numa situação horrível de estupro, isso é algo que Deus quis que acontecesse”. Mourdock recebeu 44,4% dos votos, mas foi superado pelo democrata Joe Donnelly (49,4% dos votos). No Missouri, um fenômeno parecido ocorreu. Esperava-se uma disputa acirrada entre a democrata Claire McCaskill e o republicano Todd Akin, mas o segundo conseguiu destruir sua campanha ao afirmar que mulheres vítimas de “estupros legítimos” não ficam grávidas pois seus corpos têm uma forma de “fechar toda aquela coisa”.

5 – Os jovens voltaram às urnas em peso


Trevon Robinson deposita o primeiro voto de sua vida em Las Vegas, no Estado de Nevada. Obama teve vantagem de mais de 20 pontos entre as pessoas de 18 a 29 anos. Foto: David Becker/Getty Images/AFP

Tradicionalmente, os eleitores jovens têm pouca representatividade nas eleições norte-americanas. Em 2008, Obama fez um apelo a esse grupo, que compareceu em peso às urnas (18% do eleitorado eram pessoas com idades entre 18 e 29 anos). Para o democrata, foi positivo, pois ele obteve uma vitória por 34 pontos porcentuais. Em 2012, a participação dos jovens continuou grande (19%). Como afirma o jornal The Washington Post, um comparecimento deste tamanho ocorrer uma vez é uma anomalia. Duas vezes, é uma nova realidade política. Como também afirma o jornal, é preciso saber se o fenômeno jovem está diretamente ligado à figura de Obama. Se não estiver, os EUA podem estar diante do crescimento da importância de um eleitorado que busca ideias novas, muito necessárias para resolver os problemas do país.
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