quinta-feira, 29 de novembro de 2012

2014 ?


O barulho sobre a eventual candidatura de Lula a governador do estado de São Paulo

Por: Paulo Nogueira

Causou comoção a entrevista do marqueteiro João Santana publicada esta semana pela Folha.
Por uma razão: Santana fala em Lula para governador de São Paulo em 2014. Lula, segundo Santana, não parece muito animado com essa possibilidade, pelo menos por enquanto.
O que não consegui entender foi o sentimento de perplexidade. Do ponto de vista lógico, faz sentido para o PT ter em São Paulo outro candidato que não seja Lula?
Considere.
Dilma não enfrenta concorrência ameaçadora para as eleições presidenciais. A única razão para abreviar sua administração para um só mandato – pela ótica do PT – seria o risco de ela perder. Aí então provavelmente Lula seria convidado, ou convocado, a disputar as eleições, dada sua popularidade.
Mas não é o caso.
Hoje, a oposição é um deserto de homens e ideias. Dilma provavelmente ganhe no primeiro turno.
E Lula, que o PT faz com ele?
São Paulo é a resposta.
O PSDB – partido em que tantas vezes votei – acabou se tornando uma espécie de neomalufismo. Está hoje completamente deslocado dos 99% e atrelado ao 1%, numa formidável guinada à direita que lhe rendeu e rende boa mídia mas que custou milhões de votos, várias eleições relevantes e, talvez, o futuro.
Lula provavelmente se elegesse com facilidade governador de São Paulo em 2014. Ou alguém imagina que Alckmin pode oferecer resistência séria?
Leio duas coisas curiosas sobre o assunto, ambas condenatórias. A primeira é que Lula em 2014 em São Paulo representaria uma tentativa de acabar com o PSDB.
Se o PSDB acabar, não será por culpa de Lula, mas por méritos próprios e intransferíveis. Raras vezes na história política moderna do Brasil, se é que alguma, se viu um partido de ponta ir tão freneticamente contra o zeitgeist, o espírito do tempo, na palavra alemã.
Numa era em que o combate à desigualdade está no topo das prioridades dos homens públicos em todo o mundo, o PSDB cultiva suicidamente um tipo de eleitor que despreza a expressão justiça social e faz tudo pela manutenção dos próprios privilégios.
A segunda coisa curiosa que leio é que a candidatura de Lula a governador de São Paulo evidenciaria o projeto de permanência no poder do PT.
Pausa para risadas.
Nunca ouvi falar de nenhum partido que não almejasse ficar no poder. Numa democracia, isto só é possível se as urnas ajudarem.
Quem não quer Lula em São Paulo em 2014, e no Brasil nunca mais, tem que conseguir apenas uma coisa: votos.
Esta é a beleza de uma democracia – o pior regime que existe exceto todos os outros, para usar a grande frase de Churchill.
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