Tudo começou com uma entrevista às páginas amarelas de Veja, em que o pastor dizia que o Brasil não é homofóbico. Depois, o ataque em vídeo a Fernando Haddad pelo kit-gay e a tabelinha nas redes sociais com o "sensacional" Reinaldo Azevedo. Agora, no iPad do próprio candidato tucano, a prova definitiva: um recado da assessoria com a mensagem de que Malafaia não se incomodaria com o distanciamento de Serra, que finge não ter nada a ver com a baixaria.
Por Marcelo Carneiro Cunha
Eleição, na teoria, era para ser uma disputa entre ideias diferentes, representadas por partidos e candidatos diferentes, apresentadas aos eleitores para que eles escolham o que acha melhor para sua cidade, estado, país, edifício, clube de futebol, ou presidente da associação de boliche do bairro.
Numa eleição em dois turnos, existe a vantagem extra de a gente poder olhar para várias escolhas, tipo gôndola em hipermercado, testar, cheirar, sacudir, colocar e tirar do carrinho, antes de eliminar a todos menos dois. Esses, agora finalistas, recebem tempo extra na tevê e toda a atenção do mundo para que deixem claro a que vieram, o que propõem, que planos mirabolantes podem ter para salvar a cidade do abismo, enfim, governar.
E para governar essa muita coisa chamada São Paulo, temos os candidatos José Serra em um canto do ringue, e Fernando Haddad do outro. Fortes candidatos, com fortes biografias, fortes apoios, e nada que diga que um ou outro, qual Russomanno, vieram de Marte diretamente para assustar as criancinhas no horário eleitoral. Serra e Haddad são pra valer.
E o que deveríamos esperar, portanto, seria o confronto entre um e outro, a comparação entre duas biografias – a de um veterano prefeito, ministro e governador versus a de um jovem e promissor ministro -, a comparação dos respectivos projetos, das respectivas visões, deles e dos seus partidos e aliados; a comparação do que a cidade ganha e perde com um e outro, para então cada eleitor ir até lá e pimba, cravar o seu voto.
No entanto, quem surge querendo ser arma secreta nesse processo, vindo diretamente de algum lugar escuro e assustador onde ele vive e exercita a sua, digamos, profissão, é o nosso estimado Silas Malafaia.
Silas Malafaia não é líder de nenhum partido, não é representante de nenhuma instituição republicana, não é um sujeito particularmente informado da vida paulistana, mas, por algum motivo que me escapa, se sente em condição de vir até aqui para definir a eleição para prefeito da maior cidade do Brasil. Mais: bom cristão, Malafaia cristãmente anuncia que vai arrebentar Haddad. Arrebentar, caros leitores eleitores.
Arrebentar, lá em casa, é algo que vilões fazem. Vilões arrebentam porque eles são isso mesmo, vilões.
Silas Malafaia, ao menos quando o vejo nos programas de tevê, me parece simplesmente um dos sujeitos mais desinteligentes da televisão brasileira, e olhem que estamos falando da televisão brasileira. Aberta.
Ainda assim, ele se considera no direito e em condições de vir até São Paulo arrebentar um dos nossos candidatos a prefeito. E eu pergunto aqui aos meus estimados leitores eleitores: quem deixou? Quem mandou? Quem pediu?
Eu vivo em São Paulo e nunca me senti precisando de sugestões de qualquer pastor especializado em gritarias para escolher o meu prefeito. São Paulo não me parece uma cidade que dê muita bola para o que um Silas Malafaia tenha a dizer. Tudo que eu o vi fazer até hoje foi babar, soprar, gritar, e casa alguma cair. Estou enganado?
Então, como esse sujeito se acha no direito de vir até aqui arrebentar um dos nossos candidatos a prefeito? Eu não acredito que ele tenha o direito de arrebentar qualquer um dos nossos candidatos, e acredito que a única coisa que ele pode arrebentar é uma artéria, berrando daquele jeito, com aqueles olhos de quem viu a bomba.
Malafaia quer arrebentar Haddad porque no Ministério da Educação foi desenvolvido um material de combate ao bullying contra meninos e meninas gays nas escolas públicas. Malafaia quer arrebentar um ministro que combateu a discriminação e a intolerância nas escolas. Malafaia quer dizer à cidade mais tolerante e diversa do Brasil que um ministro que combate a intolerância não pode ser prefeito, justamente de São Paulo.
Pois vou fazer uma previsão aqui, diante dos meus milhares de estimados leitores: vamos ver um burro dando com os burros n´agua. Essa cidade recebe a todos, lida com o todo, aceita a todos, especialmente os que venham pra cá dispostos a gostar dela e nela trabalhar e viver, tornando-se assim, tão simplesmente, mais um paulistano, orgulhoso da sua cidade e da maior riqueza que ela possui, e que é a sua gente, mesmo que nem sempre admita isso em público.
Malafaia diz que vai arrebentar um dos candidatos a prefeito da minha cidade. Pois eu acho que ele vai dar de nariz já em um vidro do aeroporto em Congonhas e a experiência pode ser dolorosa.
Minha sugestão ao Grande Arrebentador é que não venha, não tente fazer isso na minha, na nossa cidade. A vítima, estimado Malafaia, pode ser você. E vai ser você.
Fica a dica.
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