Tutu
Qualquer guerra é ruim. Porque você está lá para matar outras pessoas.
Não exatamente com estas palavras, Tolstoi em Guerra e Paz, seu épico sobre o embate entre as forças napoleônicas e russas no início dos anos 1800, faz uma defesa soberba do pacifismo.
Tenho falado sobre algumas crenças fundamentais do Diário, como a liberdade de expressão e o compromisso ambientalista com futuras gerações na questão de salvar o planeta da predação. Em breve, numa nova etapa que se aproxima na vida do Diário, juntarei todas as nossas convicções vitais.
Mas acrescento hoje o pacifismo à lista. Como sempre, essa crença aparecerá personificada em alguém que a simboliza. Neste caso, é o arcebispo sul-africano Desmond Tutu.
Tutu, esta semana, fez história, mais uma vez. Palavras suas ditas e escritas deram um chacoalhão moral no mundo, com repercussão imediata e internacional.
Primeiro, ele se recusou a participar de um seminário na África sobre liderança porque estaria ao lado de Tony Blair, primeiro-ministro britânico que se aliou imediatamente a George W Bush para declarar sob premissas mentirosas uma guerra sinistra em que tudo deu errado: a do Iraque.
Depois, num artigo hoje no jornal Observer, Tutu foi adiante: defendeu a idéia – justíssima – de que Bush e Blair respondam por seus crimes de guerra num tribunal internacional. Tutu notou a diferença de tratamento que líderes ocidentais e o “resto” recebem depois de fazerem guerras indefensáveis.
A Guerra do Iraque é exemplar, neste sentido. Bush e Blair a justificaram com base na informação – desmentida pelo tempo e pelas evidências – de que Saddam Hussein tinha armas de alto poder de destruição e estava pronto a empregá-las.
Não tinha. Jamais foram encontradas essas armas, por mais que as forças militares pró-Estados Unidos as procurassem para provar o que fora afirmado. Milhares de civis iraquianos – crianças, mulheres, velhos, homens inocentes – morreram em decorrência dessa mentira sanguinária. Ao contrário do que Bush e Blair afirmaram, imediatamente os iraquianos – não estamos sequer falando dos leais a Saddam — pegaram em armas contra os invasores. (Coube ao Wikileaks, no grande vídeo sobre o ataque a inocentes nas ruas de Bagdá, mostrar a realidade do Iraque que a mídia ocidental não via ou não queria ver.)
A reação do público britânico à proposta de Tutu tem sido entusiasmada. Um dos comentários de leitores mais recomendados pelos internautas no Guardian dizia o seguinte: “Estava tendo um dia de merda. Até ler Tutu.” Outro amplamente recomendado: “Os dois – Bush e Blair – deveriam ir ao tribunal acorrentados e levando chute na bunda.” Um outro internauta lembrou que, para obter da aprovação do Parlamento à Guerra do Iraque em 2003, Blair disse que as armas superdestrutivas, aspas, de Saddam alcançariam o solo britânico em 45 minutos.
Blair, que depois da Guerra do Iraque virou um conferencista milionário no circuito internacional de palestras, tentou se defender. Disse, por exemplo, que a mortalidade infantil diminuiu depois de Saddam Hussein. O que ele não disse é que a maior razão da alta taxa de mortalidade infantil no Iraque foi o boicote indiscriminado que Estados Unidos e Reino Unido lideraram contra o Iraque.
Parêntese: numa decisão estapafúrdia, o governo do Rio de Janeiro contratou os serviços de Blair para dar uma consultoria caríssima para os Jogos Olímpicos de 2016. Blair não teve participação nenhuma na organização. Apenas, em seu governo Londres foi escolhida. A mídia brasileira não questionou isso em nenhum momento, que me lembre. A britânica caiu matando. Fim do parêntese.
Desmond Tutu abriu os olhos de todos nós duas vezes nesta semana. Melhor: deu uma bofetada moral em todos nós. Só não vai enxergar a verdade incontestável de suas palavras quem não quiser.
Clap, clap, clap. Aplausos. De pé. Entusiasmados.
Não exatamente com estas palavras, Tolstoi em Guerra e Paz, seu épico sobre o embate entre as forças napoleônicas e russas no início dos anos 1800, faz uma defesa soberba do pacifismo.
Tenho falado sobre algumas crenças fundamentais do Diário, como a liberdade de expressão e o compromisso ambientalista com futuras gerações na questão de salvar o planeta da predação. Em breve, numa nova etapa que se aproxima na vida do Diário, juntarei todas as nossas convicções vitais.
Mas acrescento hoje o pacifismo à lista. Como sempre, essa crença aparecerá personificada em alguém que a simboliza. Neste caso, é o arcebispo sul-africano Desmond Tutu.
Tutu, esta semana, fez história, mais uma vez. Palavras suas ditas e escritas deram um chacoalhão moral no mundo, com repercussão imediata e internacional.
Primeiro, ele se recusou a participar de um seminário na África sobre liderança porque estaria ao lado de Tony Blair, primeiro-ministro britânico que se aliou imediatamente a George W Bush para declarar sob premissas mentirosas uma guerra sinistra em que tudo deu errado: a do Iraque.
Depois, num artigo hoje no jornal Observer, Tutu foi adiante: defendeu a idéia – justíssima – de que Bush e Blair respondam por seus crimes de guerra num tribunal internacional. Tutu notou a diferença de tratamento que líderes ocidentais e o “resto” recebem depois de fazerem guerras indefensáveis.
A Guerra do Iraque é exemplar, neste sentido. Bush e Blair a justificaram com base na informação – desmentida pelo tempo e pelas evidências – de que Saddam Hussein tinha armas de alto poder de destruição e estava pronto a empregá-las.
Não tinha. Jamais foram encontradas essas armas, por mais que as forças militares pró-Estados Unidos as procurassem para provar o que fora afirmado. Milhares de civis iraquianos – crianças, mulheres, velhos, homens inocentes – morreram em decorrência dessa mentira sanguinária. Ao contrário do que Bush e Blair afirmaram, imediatamente os iraquianos – não estamos sequer falando dos leais a Saddam — pegaram em armas contra os invasores. (Coube ao Wikileaks, no grande vídeo sobre o ataque a inocentes nas ruas de Bagdá, mostrar a realidade do Iraque que a mídia ocidental não via ou não queria ver.)
A reação do público britânico à proposta de Tutu tem sido entusiasmada. Um dos comentários de leitores mais recomendados pelos internautas no Guardian dizia o seguinte: “Estava tendo um dia de merda. Até ler Tutu.” Outro amplamente recomendado: “Os dois – Bush e Blair – deveriam ir ao tribunal acorrentados e levando chute na bunda.” Um outro internauta lembrou que, para obter da aprovação do Parlamento à Guerra do Iraque em 2003, Blair disse que as armas superdestrutivas, aspas, de Saddam alcançariam o solo britânico em 45 minutos.
Blair, que depois da Guerra do Iraque virou um conferencista milionário no circuito internacional de palestras, tentou se defender. Disse, por exemplo, que a mortalidade infantil diminuiu depois de Saddam Hussein. O que ele não disse é que a maior razão da alta taxa de mortalidade infantil no Iraque foi o boicote indiscriminado que Estados Unidos e Reino Unido lideraram contra o Iraque.
Parêntese: numa decisão estapafúrdia, o governo do Rio de Janeiro contratou os serviços de Blair para dar uma consultoria caríssima para os Jogos Olímpicos de 2016. Blair não teve participação nenhuma na organização. Apenas, em seu governo Londres foi escolhida. A mídia brasileira não questionou isso em nenhum momento, que me lembre. A britânica caiu matando. Fim do parêntese.
Desmond Tutu abriu os olhos de todos nós duas vezes nesta semana. Melhor: deu uma bofetada moral em todos nós. Só não vai enxergar a verdade incontestável de suas palavras quem não quiser.
Clap, clap, clap. Aplausos. De pé. Entusiasmados.
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