quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Assange ironiza Obama e pede fim de "perseguição" dos EUA


O fundador do Wikileaks, Julian Assange, falou via videoconferência para grupo de diplomatas na Assembleia Geral

A Assembleia Geral das Nações Unidas foi marcada por um evento pouco usual e que expos suas controvérsias na noite de quarta-feira (27/09) quando Julian Assange se pronunciou via videoconferência para um grupo de representantes. Longe dos discursos de diplomatas e chefes de estado, a fala do fundador do Wikileaks trouxe à tona a hipocrisia dos Estados Unidos e de outros estados que defendem princípios na ONU, mas atuam de forma diferente.
“O tempo das palavras acabou”, disse ele se referindo ao discurso do presidente norte-americano, Barack Obama, na Assembleia. “Chegou a hora dos EUA terminarem com a perseguição ao Wikileaks, a nossa gente e às nossas fontes. Chegou a hora dos EUA se juntarem às forças da mudança não em belas palavras, mas em boas ações”, acrescentou.
Durante 15 minutos, Assange denunciou as verdadeiras práticas políticas do governo norte-americano que contrastam com tudo aquilo que Obama defendeu na terça (25/09) durante a sessão na ONU.
Para ver o vídeo na íntegra, clique aqui.
Segundo ele, os EUA não defendem a liberdade de expressão em suas ações; pelo contrário, perseguem aqueles que divulgam informações e apoiam ditadores. “É um desrespeito aos mortos afirmar que os EUA apoiaram as forças de mudança”, afirmou Assange.



O fundador do Wikileaks contou a história de Bradley Manning, soldado norte-americano responsável pelo vazamento de documentos secretos para o site e que há mais de 800 dias, enfrenta abusos e torturas em prisões dos EUA. Assim como Assange, Manning pode ser condenado pela justiça do país a pena de morte.
(Cartaz com o rosto do fundador do Wikileaks, Julian Assange, em frente à embaixada equatoriana em Londres)
Assange ainda acrescentou que é muito audacioso da parte de Obama afirmar seu apoio e colaboração à Primavera Árabe, quando o governo dos EUA amparou até o fim os regimes ditatoriais que o povo derrubou. O jornalista lembrou que durante as revoltas, a secretária de Estado, Hillary Clinton, e o vice-presidente, Joe Bidden, chegaram a descrever o governo de Hosni Mubarak no Egito de “estável” e “democrático”.
Para o fundador do Wikileaks, que considera a si mesmo um perseguido político pelas autoridades norte-americanas, os EUA construíram um “regime de segredos” que deve terminar.
Assange falou para um grupo de diplomatas na Assembleia Geral da ONU por meio de uma videoconferência transmitida por satélite da embaixada equatoriana em Londres, onde ele está asilado há mais de três meses. O fundador do Wikileaks espera a permissão do governo britânico para deixar a sede diplomática e viajar ao país latino-americano que lhe concedeu asilo político.
O encontro desta quarta (26/09) foi organizado pelo ministro de Relações Exteriores do Equador, Ricardo Patiño, que pediu mais uma vez ao Reino Unido conceder o salvo-conduto para Assange. “O Reino Unido disse que defende os direitos humanos. Seria humano tentar deixar Assange na embaixada por meses ou por anos?”, questionou ele.
Patiño encontrará o ministro de Relações Exteriores britânico, William Hague, ainda nesta quinta-feira (27/09) para discutir o caso de Assange.
O caso
Assange, que lançou o Wikileaks em 2010, é procurado pela Justiça da Suécia para responder por um suposto crime sexual. Ele ainda não foi acusado ou indiciado. No Reino Unido, ele travou uma longa batalha jurídica contra sua extradição para o país escandinavo, que se recusava a interrogá-lo em solo britânico. No entanto, a Suprema Corte do Reino Unido decidiu que ele deveria ser extraditado. Há mais de três meses, o jornalista buscou asilo na Embaixada do Equador em Londres, em uma jogada classificada como “tenaz” pela imprensa local.
Assange teme que, após ser preso na Suécia, os Estados Unidos peçam sua extradição, onde poderá ser julgado por crimes como espionagem e roubo de arquivos secretos. O Wikileaks obteve acesso e divulgou centenas de milhares de arquivos diplomáticos norte-americanos, muitos deles confidenciais.
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