"Cadê as mudanças que você prometeu, companheiro Barack?"
Por Paulo Nogueira
O que Dilma devia dizer a Obama:
“Companheiro Barack, com todo o respeito: cadê as mudanças que
você prometeu? Tanta gente acreditou. E a esperança de um país melhor,
onde foi parar?
Quatro anos depois, o que diferencia os seus Estados Unidos dos
de Bush? Companheiro, até mais bombas você jogou naqueles países
arruinados do Oriente Médio por meio das sinistras máquinas de matar
chamadas drones, os infames aviões teleguiados. Você faz idéia do número
de crianças, mulheres e velhos que morreram por causa disso? E passa
pela sua cabeça quantos jovens árabes que viram suas famílias serem
destruídas assim vão acabar se transformando em militantes de grupos
radicais dispostos a morrer para matar americanos? É esse o mundo mais
seguro do qual você falou depois que bin Laden foi morto?
Você acha que grandes inspiradores do movimento negro americano
se orgulhariam de sua obra na Casa Branca? Malcom X, Martin Luther King.
“O poder em defesa da liberdade é mais sagrado do que na defesa da
tirania e da opressão”, disse Malcom X. Pense nisso. Por que você não se
aproxima dos ideais de gente como X e King caso tenha mais quatro anos
de chance de transformar os Estados Unidos em outro símbolo que não o de
guerras mundo afora para preservar seus próprios interesses – ou, para
ser mais precisa, os de sua elite, o tal 1%? Aliás, alguém já disse que
se você puser óculos fica a cara de Malcom X?
Malcom X e Luther King aprovariam, por exemplo, seu silêncio e
sua omissão diante da violência policial que desfez os acampamentos de
protesto pacífico de movimentos como o Ocupe Wall St? Um país que se
declara campeão da livre expressão pode calar com porretes pessoas que
protestam sem outra arma que não sejam barracas, cartazes e palavras?
Você deve saber das circunstâncias desumanas em que está preso o
soldado que passou para o Wikileaks documentos que mostram a Guerra do
Iraque como ela é, com tantos civis sendo mortos. Você está de acordo
com o tratamento dado ao soldado? Se não, fez alguma coisa? E o Assange,
até quando vocês vão atormentar? O Assange não é o Luther King, mas
batalha também pela paz. Para ser franca, o Nobel da Paz que você ganhou
ficaria bem melhor no Assange.
Pense em sua biografia, Companheiro Barack. Reflita sobre o que a
história dirá do primeiro presidente negro americano. Seu coração está
com os 99% ou com o 1%? Se estiver com o 1%, você está fazendo tudo
certo. Se está com os 99%, terá provavelmente uma segunda chance de
mostrar. Mas lembre: quatro anos passam rápido, como você viu em seu
primeiro mandato.”
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