No Tijolaço
Não é possível deixar de assistir o discurso da presidenta argentina
Cristina Kirchner, ontem, na celebração dos 30 anos da Guerra das
Malvinas.
Uma fala que toca qualquer coração sensível, qualquer cérebro lúcido.
Editei um trecho, logo após ela saudar os ex-combatentes.
Cristina percorre o sentido de três palavras.
A memória daqueles fatos dolorosos, sim.
Mas a necessidade de que todos possam conhecer toda a verdade,
explicando sua ordem parta que se desclassificasse o sigilo sobre o
Informe Rattenbach, elaborado ainda sob o período ditatorial e jamais
conhecido em sua íntegra, apesar dos vazamentos que vinha tendo pela
mídia.
E, evocada pela memória e esclarecida pela verdade, a necessidade de justiça.
Uma justiça que venha desde o direito de cada mãe poder, ao menos, ter o
corpo de seu filho sob uma lápide e poder chorá-lo e que chegue à ideia
obvia de não podem haver mais colônias no mundo, que um país não possa
se arvorar a detentor de terras a 14 mil quilômetros de distância de si,
pelo simples razão de ser forte.
Kirchner pronuncia um libelo contra a guerra, mas também um libelo contra a mentira e a injustiça.
Depois de ouvi-la, dá pena ler a forma caricata, quase folclórica, com que nossa imprensa trata esta questão.
Chega a ser ridículo mostrar aquelas típicas cabines telefônicas
vermelhinhas dos ingleses como “prova” de que as Malvinas, quando todos
sabem que ali se disputa o ponto de apoio para o controle do Sul do
Atlântico, agora ainda com o plus de vir gratinado em petróleo.
Chega a ser vergonhoso que haja a necessidade de uma chefe de Estado,
nos extremos da Patagônia, ter de lembrar ao mundo que todas as nações e
povos merecem o mesmo respeito.
Todo cidadão do mundo deveria ouvir este discurso.
Nossos militares, nossos diplomatas, nossos jornalistas, para que
deixassem de lado as visões mesquinhas, frias e sem paixão, com que
olham esta questão.
Mas também nós, cidadãos descrentes da política, que nos acostumamos a ver pequenez e cinismo nas palavras dos governantes.
Cristina Kirchner nos faz sentir orgulho de sermos dignos, decentes,
humanos e – porque tanto se nega esta palavra? – patriotas. Com isso, ao
afirmarmos o direito de autodeterminação dos povos e o respeito a todos
eles, abraçarmos a única ideia de cosmopolitismo possível: a que embute
a paz e a igualdade.
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