A Viuva de Bin Laden
Por Paulo Nogueira
Haripur, Paquistão. Conhece?
Nem eu. Quer dizer. Até ontem. Haripur acaba de ganhar celebridade
mundial, depois que foram publicadas revelações da mais jovem viúva de
bin Laden, Amal al-Sada, uma iemenita de 30 anos. Bin Laden e família
viveram em Haripur um ano, antes de se mudarem para Abotabate, onde um
comando americano finalmente alcançaria o fundador da Al-Qaeda depois de
uma caça frenética que se arrastou por uma década.
O depoimento de Amal joga luzes sobre os últimos anos de bin Laden.
Não foram vividos em situações extremas em cavernas remotas no
Afeganistão, ao contrário do que se pensava. Foi uma vida
decepcionantemente banal para quem imaginava coisas rocambolescas.
Em Haripur, numa casa confortável de dois andares alugada pelo
equivalente a 250 reais por mês, os bin Ladens viveram onze meses, até
se mudarem para Abotabade. Antes de Haripur, a família morou em três
outras casas no Paquistão, ainda não localizadas.
Três dos quatro filhos do casal Amal e Osama nasceram depois do Onze
de Setembro. Dois deles vieram à luz em hospitais públicos
paquistaneses.
As informações apareceram no jornal paquistanês Dawn, e dele se
propagaram internacionalmente em alta velocidade. Elas são fruto de
interrogatórios realizados pelo serviço de inteligência do Paquistão.
Desde a morte do marido, Amal está presa em Abotabate, sob acusação de
haver entrado ilegalmente no país. Não apenas ela.
Todas as dezesseis pessoas que estavam com Bin Laden na noite do
ataque estão detidas, entre elas duas outras viúvas dele. Não se sabe o
número de crianças presas, mas são pelo menos quatro — os filhos que bin
Laden teve com Amal, uma menina de doze anos e três meninos, o mais
novo com dois anos de idade. Eles são mantidos num porão, de acordo com a
mídia do Iêmen, que reivindica a libertação imediata de todos. “Eles
não vêem há meses o sol”, diz uma prima de Amal, jornalista no Iêmen. A
situação médica mais complicada é a de Amal, que investiu contra os
soldados americanos que mataram seu marido em maio de 2011 e acabou
levando um tiro na perna.
Amal e as demais viúvas poderiam ser condenadas a cinco anos de
prisão por viverem ilegalmente no Paquistão, mas a justiça local acabou
por condená-las a 45 dias. Em breve, todas deverão estar de volta ao
Iêmen.
Não que o futuro vá ser fácil para Amal, mas é difícil imaginá-la
viúva por muito tempo. Que homem não deseja uma mulher tão leal, tão
fiel, tão corajosa a ponto de se lançar sobre invasores superarmados na
tentativa de defender o marido sob balas?
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