No Oeste do Pará, a Operação Mamuru II, contra o desmatamento e a exploração ilegal de madeira - no rio Mamuru, afluente do rio Amazonas, no município de Juruti -, desarticulou duas madeireiras ilegais que agiam na região. A Polícia Civil, por meio da Divisão Especializada em Meio Ambiente (Dema), iniciou investigação para chegar até os responsáveis pela exploração das florestas.
A madeira era retirada de comunidades do Mamuru e levada para Parintins (AM) e Belém. A Polícia investiga ainda suposto acordo para repasse financeiro que teria sido feito em 2010 entre a Associação dos Produtores Rurais do Rio Mamuru (Aprim) e os madeireiros, com o aval da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema).
A Mamuru II percorreu mais de 10 comunidades no entorno do rio. Denúncias apuradas pelo Estado e o trabalho de fiscalização via satélite apontaram vários pontos de exploração, inclusive em áreas destinadas a concessão, que o Governo do Pará está licitando para a extração legal sustentável da madeira. A operação é coordenada pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal do Estado do Pará (Ideflor), em parceria com a Divisão Especializada em Meio Ambiente (Dema), da Polícia Civil, Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema), Instituto de Terras do Pará (Iterpa), Batalhão de Polícia Ambiental (BPA), da Polícia Militar, e Centro de Perícias Científicas (CPC) Renato Chaves.
Entre as áreas exploradas está uma próximo a comunidade Mirizal. Uma estrada aberta, ainda com rastros de caminhões, levou a equipe até um caminhão abandonado, ainda com carotes de gasolina. A Polícia afirma que o veículo era utilizado para o transporte de toras. Uma carroceria e tanque para levar diesel para os equipamentos também foram abandonados. Alguns quilômetros à frente, um acampamento completo foi encontrado. Segundo os peritos do CPC, o local tinha uma boa infraestrutura, com eletrodomésticos e mantimentos, e parecia ter sido abandonado às pressas.
Na área denominada Mocambo, localizada próximo a uma vila com o mesmo nome, outra demonstração da exploração madeireira. O local mostra a ousadia e ao mesmo tempo a infraestrutura que os madeireiros aplicavam na exploração ilegal. Na beira do rio, uma pista de pouso feita de brita, material resistente, medindo mais de 800 metros. Próximo a pista dois portos para o embarque da madeira derrubada ilegalmente. Os três pontos de embarque e desembarque eram ligados por uma estrada principal, com vários ramais. O caminho levava ao ponto de extração, a 20 km do começo da estrada.
Nesse ponto, localizado na área onde o Estado irá realizar a concessão para a extração legal, um acampamento bem estruturado, com gerador de energia, eletrodomésticos, televisão, antena parabólica e até mantimentos foi encontrado pelos agentes da Mamuru II. No acampamento estava um morador da comunidade do Mocambo, Vicente de Paulo Ferreira, que prestava serviço para a madeireira, tomando conta do local. Ele recebia o valor de R$ 700,00 pelo trabalho, mas há dois meses não era pago. Vicente prestou depoimento à Polícia, que iniciou investigação a partir das informações fornecidas por ele.
Segundo o morador, dois homens, Claudecy Pereira, que reside em Paritins (AM), e “Mica”, de Santarém (PA), trabalhavam para a GC Madeiras, que teria como dono um homem chamado Ciro, de Belém. Ainda de acordo com Vicente, no mês de abril Claudecy e “Mica” retornariam com o maquinário para a área a fim de continuar a exploração. A partir do depoimento de Vicente, a Polícia foi informada também sobre uma negociação entre a Aprim e a madeireira ilegal de Ciro. Por mil metros cúbicos de madeira, do tipo Maçaranduba e Ipê, a associação teria recebido de Claudecy e “Mica” um barco com capacidade para 45 passageiros e mais uma lancha de alumínio com motor de potência 40 cavalos.
O delegado da Dema Marcos Lemos ouviu, além de Vicente, os presidentes da Aprim e da Associação das Comunidades da Região de Juruti Velho (Acorjuve), Antônio Carmo e Gerdeonor Pereira, respectivamente. De acordo com o depoimento de Antônio, a GC Madeiras teria chegado à região do Mamuru em outubro de 2010, depois de arrematar 5 mil metros cúbicos de madeira em um leilão feito pela Sema. Após este leilão, a Aprim teria firmado o acordo financeiro com a GC Madeiras, de Belém, para garantir 5% de toda madeira leiloada pela Sema. O acordo teria sido feito com a interveniência da Sema. Em virtude disto, o delegado solicitou por ofício informações a respeito do leilão e do acordo.
“A madeireira, a partir do leilão, detinha o direito de retirar os 5 mil metros cúbicos de madeira, mas, segundo o Antônio, teria mantido a exploração na região desde então. Vamos solicitar à Sema informações sobre este suposto leilão, a fim de dar continuidade às investigações. Além disso, a Polícia vai apurar o suposto apoio que a Sema teria dado ao acordo feito entre a Aprim e a GC Madeiras”, afirmou o delegado Marcos, que já solicitou também apoio à Polícia do Amazonas para localizar Claudecy. “A Polícia Civil do Amazonas, em Paritins, já identificou Claudecy e irá ouví-lo. Vamos dar prosseguimento à investigação para chegar aos cabeças dessa rede de exploração madeireira”. Conforme o rumo das investigações, e os próximos depoimentos, a Polícia Civil do Pará poderá indiciar os culpados pela exploração.
Fonte: Thiago Melo
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