Classificado equivocadamente como biografia autorizada, “A
vida quer é coragem”, de Ricardo Amaral, é uma das melhores reportagens
políticas já escritas no Brasil; lê-lo é fundamental para compreender o
processo que a levou à presidência e também as razões de seu sucesso no
primeiro ano
Leonardo Attuch - 247 – Eu confesso. Durante
várias semanas, adiei a leitura do livro “A vida quer é coragem”, do
jornalista Ricardo Amaral, porque me deixei contaminar pelo preconceito.
Como Ricardo assessorou Dilma durante um breve período na Casa Civil e
também trabalhou na campanha presidencial de 2010, imaginei se tratar de
um livro oficial. Um trabalho que foi classificado como biografia
autorizada, na Folha de S. Paulo, e como hagiografia, nos blogs da
revista Veja. Dois rótulos injustos, colocados provavelmente por quem
não leu o livro. Quem atravessa as suas 304 páginas, contempla uma das
melhores reportagens políticas já escritas no País. E com a vantagem de
ter sido feita por alguém que, além do texto elegante e preciso, pôde
observar o processo que levou a primeira mulher à presidência da
República de perto. De dentro.
Repórter que cobriu a política brasiliense durante 25 anos, Ricardo
Amaral tem um talento inegável. Sabe cativar as fontes como quem cultiva
amizades. Escreve como poucos. E, como bom mineiro, tem espírito
conciliador. Tendo participado de uma campanha presidencial marcada pelo
radicalismo, ele contou a história dos vitoriosos sem nenhum
revanchismo. E foi objetivo ao relatar cada etapa de uma aventura que
começa em Belo Horizonte no colégio estadual, passa pela utopia
revolucionária, pela guerrilha no Rio de Janeiro, pela prisão em São
Paulo e pela reinvenção no Rio Grande do Sul, onde Dilma começou a se
transformar na tecnocrata que conquistaria o coração do presidente Lula e
chegaria ao poder.
Além da biografia em si, o livro é repleto de boas histórias sobre os bastidores da ditadura e da política atual. Uma delas, a quase prisão de Bete Mendes, atriz que namorou Carlos Franklin de Araújo, ex-marido de Dilma, quando ela estava na prisão e escapou por ter saltado do carro 50 metros antes do amante. Outras, mais recentes, ligadas à campanha presidencial, como o apelo do presidente Lula ao marqueteiro João Santana para que rapidamente colocasse no ar o “caso Rojas” (referente ao episódio da suposta bola de papel que atingiu José Serra na campanha presidencial), ou o choro copioso de Antônio Palocci ao compartilhar a vitória, ou ainda a crise mais aguda do processo, quando Amaury Ribeiro Júnior, hoje autor de “Privataria Tucana”, foi acusado de elaborar dossiês contra adversários do PT.
O livro é também essencial para compreender o sucesso de Dilma em seu primeiro ano de governo, que ela fecha com popularidade superior à dos dois antecessores: Lula e FHC. Um feito inegável, alcançado por uma mulher, que, ao contrário do que muitos pensam, é da política. Aliás, é da política desde a juventude quando tentava demover guerrilheiros como Carlos Lamarca da luta armada. Dilma, que foi traída pelo ex-marido quando estava presa, foi também quem aconselhou Iara Iavelberg a se desvencilhar de Lamarca da maneira mais objetiva possível – simplesmente, dizendo que estava gostando de outro.
Ricardo Amaral revela uma Dilma que sabe conciliar, como quando tentou aparar arestas entre PT e PDT na eleição presidencial de 1989, mas que também não transige. A saída do PDT foi provocada pela imposição de Leonel Brizola do nome de Neusa Canabarro, a problemática ex-mulher de Alceu Collares, à chapa do ex-marido à prefeitura de Porto Alegre.
Do livro, emerge a figura de uma mulher firme, que tem princípios, mas que não é radical – e que é até mais moderada do que muitos pensam, ou pensaram durante a campanha presidencial de 2010. Uma mulher de quem se gosta mais, com o passar do tempo, como definiu João Santana, durante a campanha.
Uma foto até então inédita, que ilustra a contracapa do livro e traz Dilma sendo julgada diante de militares que escondem o rosto, mereceu um artigo nosso chamado “O retrato da mulher coragem” (leia mais aqui). E a grande reportagem de Ricardo Amaral se encerra com uma citação de Guimarães Rosa sobre este mesmo valor:
“O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.”
___________________________________________________
Além da biografia em si, o livro é repleto de boas histórias sobre os bastidores da ditadura e da política atual. Uma delas, a quase prisão de Bete Mendes, atriz que namorou Carlos Franklin de Araújo, ex-marido de Dilma, quando ela estava na prisão e escapou por ter saltado do carro 50 metros antes do amante. Outras, mais recentes, ligadas à campanha presidencial, como o apelo do presidente Lula ao marqueteiro João Santana para que rapidamente colocasse no ar o “caso Rojas” (referente ao episódio da suposta bola de papel que atingiu José Serra na campanha presidencial), ou o choro copioso de Antônio Palocci ao compartilhar a vitória, ou ainda a crise mais aguda do processo, quando Amaury Ribeiro Júnior, hoje autor de “Privataria Tucana”, foi acusado de elaborar dossiês contra adversários do PT.
O livro é também essencial para compreender o sucesso de Dilma em seu primeiro ano de governo, que ela fecha com popularidade superior à dos dois antecessores: Lula e FHC. Um feito inegável, alcançado por uma mulher, que, ao contrário do que muitos pensam, é da política. Aliás, é da política desde a juventude quando tentava demover guerrilheiros como Carlos Lamarca da luta armada. Dilma, que foi traída pelo ex-marido quando estava presa, foi também quem aconselhou Iara Iavelberg a se desvencilhar de Lamarca da maneira mais objetiva possível – simplesmente, dizendo que estava gostando de outro.
Ricardo Amaral revela uma Dilma que sabe conciliar, como quando tentou aparar arestas entre PT e PDT na eleição presidencial de 1989, mas que também não transige. A saída do PDT foi provocada pela imposição de Leonel Brizola do nome de Neusa Canabarro, a problemática ex-mulher de Alceu Collares, à chapa do ex-marido à prefeitura de Porto Alegre.
Do livro, emerge a figura de uma mulher firme, que tem princípios, mas que não é radical – e que é até mais moderada do que muitos pensam, ou pensaram durante a campanha presidencial de 2010. Uma mulher de quem se gosta mais, com o passar do tempo, como definiu João Santana, durante a campanha.
Uma foto até então inédita, que ilustra a contracapa do livro e traz Dilma sendo julgada diante de militares que escondem o rosto, mereceu um artigo nosso chamado “O retrato da mulher coragem” (leia mais aqui). E a grande reportagem de Ricardo Amaral se encerra com uma citação de Guimarães Rosa sobre este mesmo valor:
“O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.”
___________________________________________________
Nenhum comentário:
Postar um comentário