segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Londres vê primeiro protesto contra guerra na Síria e no Irã


“Temos EUA, Reino Unido, França e Israel, com armas nucleares, querendo atacar o Irã que desenvolve energia nuclear para fins pacíficos", disse Tony Benn
Pelo menos 1.000 manifestantes saíram às ruas de Londres, neste sábado (28/01), para protestar contra um possível ataque militar das potências ocidentais contra a Síria e o Irã. Reunidos em frente à embaixada dos Estados Unidos, os manifestantes empunhavam vários cartazes com os dizeres “Não ataquem a Síria” e “Tirem as mãos do Irã”. O protesto foi organizado pelo grupo pacifista Stop the War Coalition.
A marcha teve forte presença de manifestantes de países árabes. Tony Benn, presidente da Stop the War Coalition, criticou as potências do Ocidente e chamou de “grande hipocrisia” os ataques retóricos de seus governos em direção ao Irã.  “Temos de um lado os Estados Unidos, o Reino Unido, a França e Israel, todos países que possuem armas nucleares, querendo atacar um país que quer desenvolver energia nuclear para fins pacíficos. Precisamos ser contrários a isso”. Ele também lembrou os recentes cortes no orçamento praticados no Reino Unido, que poderiam ter sido evitados caso não houvesse as despesas em guerras.
A ativista Kate Hudson, ligada à Campanha pelo Desarmamento Nuclear, também endossou as críticas de Benn. “Nós não podemos aceitar dois pesos e duas medidas”, recordando o fato de que Israel possui armas nucleares. Em seguida, Hudson leu uma carta de uma ativista israelense, que clamava pela criação de uma zona livre de armas de destruição em massa no Oriente Médio.
Para Chris Nineham, membro da Stop The War Coalition e um dos organizadores do evento, a similaridade com a campanha da invasão do Iraque é muito grande. Segundo ele, a retórica pode mudar um pouco, mas a essência é a mesma. “Os ecos de 2003 [ano da invasão ao Iraque] estão muito presentes. As sanções econômicas, as mentiras sobre armas de destruição em massa, a campanha da imprensa pra desmoralizar o chefe de estado. Acho que eles ainda não se decidiram, mas definitivamente estão se movendo em direção a uma campanha real de intervenção militar“, disse.
Questionado sobre se as mobilizações populares podem se assemelhar à de 2003, quando centenas de milhares de manifestantes contrários à guerra saíram às ruas para protestar no mundo inteiro, Nineham se mostrou cético. “Uma diferença deste episódio para o da invasão ao Iraque é que aquele era uma guerra por terra. Por isso, com o deslocamento de milhares de tropas americanas para a região, ficou muito claro a todos que a guerra iria acontecer. No caso da intervenção ao Irã, pelo fato de poder ser algo muito rápido, como uma campanha de bombas, a questão fica bastante ambígua para o público. Então acho que mobilizar se torna uma tarefa mais difícil”, afirmou. Nineham diz ainda acreditar que a maioria das pessoas no Reino Unido é contrária a intervenção militar, por saber das repercussões devastadores na região que poderia ocorrer. “Estamos ainda avaliando a possibilidade de construir uma campanha nacional.” 



Diversos manifestantes sírios pró Bashar al-Saad reclamaram de terem sido impedidos de falar ao microfone. Durante boa parte do tempo, bradavam contra a intervenção estrangeira no país, que, segundo eles, é a responsável por municiar milícias que estão promovendo matanças no país, contrariando a versão difundida de que o regime sírio estaria por trás da forte repressão.
Iranianos contrários ao presidente Mahmoud Ahmadinejad também compareceram em grande número.  Houve tumulto quando um iraniano que discursava no microfone foi acusado de ser simpático ao governo iraniano. Uma bandeira do Irã empunhada por um manifestante anti-Ahmadinejad foi rasgada, e alguns organizadores tiveram que separar os mais exaltados. Até a polícia chegou a intervir, mas não houve confronto físico.
O jornal Washington Post revelou nesta sexta-feira que o governo dos Estados Unidos corre para enviar uma base naval para Oriente Médio, que deve servir como base de operações em um eventual conflito com o Irã na região do Estreito de Ormuz, por onde passa boa parte da produção mundial de petróleo.
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