Objetivo do Protocolo de Kyoto era reduzir emissões de CO2
Um dia após o fim da Conferência do Clima em Durban, Canadá anunciou
sua retirada do Protocolo de Kyoto, sendo o primeiro a abandonar o
acordo. Saída foi consequência lógica, afirma pesquisador.
O Canadá deixou o Protocolo de Kyoto na noite desta segunda-feira
(12/12), um dia depois do encerramento da Conferência do Clima em
Durban. O ministro canadense do Meio Ambiente, Peter Kent, justificou a
medida principalmente com o fato de o país estar ameaçado de pagar
multas no valor de 14 bilhões de dólares, caso permanecesse no
Protocolo.
p>“Na verdade, a retirada do Canadá é apenas a
fixação de algo que na prática há muito já aconteceu”, diz Mojib Latif,
pesquisador do clima na Universidade de Kiel, no norte da Alemanha.
“Kyoto fracassou há tempos, e agora o governo [canadense] acaba de dar o
último passo formal. Foi apenas algo lógico.” Antes disso o Canadá já
não cumprira suas obrigações, diz Latif.
O Protocolo de Kyoto foi assinado em 1997 e, em 2005, entrou em vigor
como o único acordo climático regulado legalmente até o momento. Todos
os países-membros comprometeram-se a reduzir suas emissões de CO2, no
caso do Canadá em 6% em 2012 com relação a 1990. Mas as emissões do país
aumentaram consideravelmente nos últimos 20 anos. Em 2006, o
primeiro-ministro canadense, Stephen Harper, já havia afrouxado a
legislação nacional para redução do efeito estufa estabelecida pelo
governo liberal anterior.
Falta de consciência ambiental
Fatores econômicos e de política energética não foram os únicos
motivos cruciais para a saída definitiva do Estado norte-americano. “O
Canadá é um país que depende fortemente da extração de recursos
minerais, entre eles o petróleo. Essas indústrias emitem muito dióxido
de carbono”, explica Martin Thunert, especialista em Canadá do Centro de
Estudos Americanos de Heidelberg, na Alemanha.
Segundo Thunert, o governo atual agiria, portanto, mais em prol da
economia do que da solidariedade internacional. “O Canadá é um país sem
passado colonial. Ali nunca se tem a sensação de dever algo a outros
países”, considera.
Outra razão para a retirada seria o fato de os Estados Unidos e a
China – justamente os responsáveis por mais de 40% das emissões globais
de CO2 – não terem aderido ao Protocolo. Especialmente com relação à
potência econômica EUA, o Canadá não quer mais arcar com encargos
unilaterais, diz Latif.
O ministro Kent havia definido a Conferência de Durban como
promissora e eficaz. O Protocolo de Kyoto, por sua vez, seria muito mais
um “obstáculo” na luta contra as mudanças climáticas. “Futuramente, o
governo de Harper também não apoiará qualquer solução climática que não
inclua também a China, os Estados Unidos e a Índia nas obrigações”,
afirma Thunert.
Caminho solitário
Em poucos anos, a proteção climática perdeu espaço no discurso
público canadense. Em 2006, temas ambientais ainda apareciam no topo das
enquetes. Naquele tempo, passava nos cinemas o filme Uma verdade inconveniente,
do candidato democrata à presidência dos EUA e depois vencedor do
Prêmio Nobel da Paz, Al Gore, encantando também o público canadense. Em
2011, apenas 13% dos entrevistados disseram considerar a proteção
climática relevante.
“Acordos multilaterais para a solução de problemas globais não são o
foco do governo Harper”, considera Petra Dolata, professora da King’s
College de Londres e colaboradora da Sociedade Alemã para Estudos
Canadenses. Ela vê o Canadá em um caminho solitário com relação a
políticas climáticas.
Segundo ela, deveria atentar-se para os valores de referência da
indústria para a emissão de CO2, como na extração de areia betuminosa.
Dolata defende ainda que se deveria pensar em certificações para
produtos industriais com componentes que gerem pouco CO2.
Tais medidas não parecem, entretanto, suficientes. “Se os Estados
Unidos e a China continuarem boicotando um ao outro e os países em
desenvolvimento não assumirem sua responsabilidade histórica, esse
objetivo não será mais alcançável”, afirma Latif. Para frear as mudanças
climáticas, as emissões de CO2 teriam de ser reduzidas em 50% até a
metade do século. “Kyoto foi apenas falação. O Canadá finalmente
documentou o fato ofensivamente.”
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