segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Kim Jong Il, um líder excêntrico com mão de ferro e dons de estrategista

Kim Jong-Il (D) e o pai Kim Il-Sung (E) em foto de 1992 em Pyongyang.

SEUL (AFP) – Kim Jong-Il, que faleceu no sábado, comandou a Coreia do Norte com mão de ferro a partir de 1994 e deixa a seu filho mais novo, Kim Jong-Un, já designado oficialmente como sucessor, uma economia moribunda em um país marcado por uma fome letal e uma grave falta de alimentos.
Kim Jong-Il, de 69 ou 70 anos de acordo com as fontes e cuja saúde estava debilitada desde que sofreu, em agosto de 2008, um derrame cerebral, se caracterizou pelo uso da propaganda, um culto exacerbado de sua personalidade, pela capacidade de manter o controle do Exército e dos campos de trabalho para permanecer no poder, tal como já havia feito seu pai.
O dirigente calou aqueles que previam o fim do regime norte-coreano após a desintegração da União Soviética no início dos anos 1990. A interrupção da ajuda soviética provocou durante a década uma crise de fome que matou um milhão de pessoas.
Mas para os norte-coreanos ele continuou sendo o “Querido Líder”, seu sobrenome oficial, e manteve um polêmico programa de fabricação de armas nucleares, que rendeu dois testes, em outubro de 2006 e em maio de 2009.
Apesar de ridicularizado pelo Ocidente de forma constante por suas roupas e excentricidades, os analistas atribuíam a Kim Jong-Il uma grande capacidade como estrategista, mas destacavam que há alguns anos suas decisões eram cada vez mais erráticas, como a de bombardear em março de 2010 um navio de guerra sul-coreano, o que matou 46 militares. Pyongyang negou qualquer responsabilidade.
“Não é um louco nem alguém que vive de ilusões”, declarou o francês Michael Breen, autor do livro “Kim Jong-Il: ditador norte-coreano”.
“Demonstrou que pode ser muito hábil”, completou.
O modo de vida do dirigente norte-coreano foi objeto de piadas a tal ponto que sua figura virou protagonista do filme americano “Team America”, dirigido pelos criadores do desenho South Park. Além de ser fã de bebidas refinadas, o Kim da animação coleciona jovens mulheres e filmes de Hollywood.
Mas esta imagem era enganosa.
“O mundo exterior alimenta o mito de um playboy totalmente extravagante. O verdadeiro Kim é politicamente muito hábil. Tem o talento norte-coreano de saber aproveitar uma posição de fragilidade”, explicou Breen.
“Em seu país é como um Deus para a população”, explica Yu Suk-ryul, analista que mora em Seul.
“O que ele quer é o que a Coreia do Norte obtém”, completa.
De acordo com um fugitivo norte-coreano, o Querido Líder desejava um míssil nuclear norte-coreano com capacidade de atingir os Estados Unidos, com a esperança de que isto impedisse Washington de interferir nos assuntos do regime comunista.
“Não acredito que esteja disposto a abandonar o armamento atômico. Isto o obrigaria a confiar nos Estados Unidos e na Coreia do Sul”, afirmou Breen.
Kim Jong Il, chamado de “pigmeu” pelo ex-presidente americano George W. Bush por sua baixa estatura (que tentava compensar com sapatos com salto plataforma), era o filho mais velho de Kim Il Sung, fundador da Coreia do Norte comunista e líder adorado pelo povo.
Quando Kim Jong-Il nasceu em 16 de fevereiro de 1942 apareceram uma estrela e um arco-íris duplo no céu, segundo a propaganda oficial. A montanha em que nasceu, o monte Paekdu, é considerado um local sagrado desde então.
Mas especialistas acreditam que ele teria nascido na Rússia, em um campo de treinamento da guerrilha onde seu pai liderou a guerra de resistência contra o invasor japonês até 1945.
Depois de obter o diploma universitário em 1964, o jovem de 22 anos começou a escalar posições dentro do Partido dos Trabalhadores.
Ele teria sido responsável pela organização de atentados, como o que matou 17 sul-coreanos em 1983 na então Birmânia ou a explosão em 1987 de um avião da Korean Airlines, companhia sul-coreana, que matou as 115 pessoas a bordo.
Após a morte do pai, em 1994, Kim Jong-Il assumiu o comando do Partido dos Trabalhadores.
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