por Tiberio Alloggio (*)
Mais uma guerra? Sim, mas não nos moldes de uma “missão humanitária” tipo Líbia. Até porque o Irã não é a Síria, não é o Afeganistão, e nem um Iraque qualquer. No Irã, uma “intervenção humanitária” seria fatalmente voltada ao fracasso.
Talvez ela ocorra na Síria, no Iêmen, na Somália, ou quem sabe, nos três juntos, como nas ofertas da Casa Bahia, onde leva três e paga dois. Mas seriam conflitos locais com uns milhares de civis mortos. Nada de relevante para a propaganda midiática mundial.
O prato principal, o verdadeiro filé, é o Irã, o último e verdadeiro obstáculo para a completa supremacia de Israel no Oriente Médio.
Só que o Irã é um osso duro de roer, e para tirá-lo do caminho Israel precisa de muito jogo de cintura e em primeiro lugar, do envolvimento dos aliados como a Inglaterra, a Otan, e sobretudo, dos patrões, os Estados Unidos.
É nesta perspectiva que temos que decifrar o “furo jornalistico” do respeitado diário britânico “The Guardian”, que revelou a intenção das forças armadas do Reino Unido de desenvolver planos para atacar o Irã.
Segundo o diário, os militares ingleses voltaram a ter ataques de “paranoia nuclear”, e estariam se oferecendo, caso Washington der sinal verde, para ajudar qualquer tipo de ação militar. Isso independentemente dos humores e das divergências existentes na sociedade inglesa. Enfim, um belo “papelão” de fantoche dos Estados Unidos!
O mesmo “papelão” vem sendo replicado pela AIEA, a Agência Atômica Internacional, que sem informar as fontes de procedência, acusa agora o Irã de ter realizado testes secretos para construir uma bomba atômica. Informa-se apenas que os dados foram fornecidos pelos Estados que fazem parte da AIEA, embora inspeções e controles da própria AIEA, tenham o apoio das autoridades iranianas.
Mais uma vez, sem apresentar prova alguma, acusa-se o Irã de quebrar os protocolos do Tratado de Não Proliferação Nucleares. Tratado que, nunca foi aceito por Israel, que, obviamente, nunca sofrerá inspeções pelas 200 testadas nucleares em sua posse.
Enquanto isso, Israel está se preparando. No dia 3 de novembro exercitação geral em todo o país ante simulações de ataques missilísticos, com direito a experimentar um novo foguete de longo alcance, capaz de atingir o Irã. E, uma semana depois, outra simulação, desta vez numa base militar da Otan na Itália, com esquadrilhas de aviões empenhadas em manobras de bombardeios e reabastecimento em voo.
Paralelamente, os Estados Unidos vêm reposicionando suas forças no Oriente Médio ativando a operação “Regresso ao Futuro”, cuja ideia central, é compensar o retiro das tropas do Iraque reforçando suas bases no Kuwait, na Arábia Saudita e, nos Emirados Árabes.
Apesar dos problemas econômicos, Obama não quer reduzir a presença dos EUA na região, seu principal objetivo é a criação de uma aliança estratégica dos Países do Golfo Pérsico: Barein, Catar, Omã, Emirados Árabes, Kuwait, Arábia Saudita, uma espécie de Otan do Oriente Médio que possa encurralar o Irã.
A intenção é aumentar a pressão internacional, de tal forma, que uma intervenção armada, seja encarada como algo de natural e inevitável.
Mas por que tanta “preocupação” dos EUA e seus aliados com o Golfo Pérsico? Porque é de la, que sai o 30% de todo o petróleo mundial. Quem controla o Golfo, controla a energia. E, quem controla a energia, controla o mundo.
A escassez das reservas, combinada com a crescente demanda mundial de energia, está colidindo perigosamente com a extração do petróleo no Golfo Pérsico.
O exemplo mai eloquente é o da China. Se hoje sua demanda de petróleo já é mastodôntica, em 2030 será avassaladora, 16,5 milhões de barris de petróleo por dia.
A China acaba de sediar uma base militar em Gwadar no Paquistão, que agora vem a se somar às bases que já tem em Bangladesh, Birmânia e Sri Lanka.
O acordo com o Paquistão para a base de Gwadar, garante à China, o controle sobre as rotas usadas por seus cargueiros de petróleo. E como sabemos, China e Paquistão, também são potencias nucleares.
Nesse contexto, atacar o Irã, seria a mesma coisa que jogar um fósforo aceso num barril de petróleo, ou seja, uma declaração de guerra à China.
Por isso, um ataque ao Irã, segundo muitos observadores, pode ser a premissa para a “terceira guerra mundial”.
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* Sociólogo, reside em Santarém. Escreve regularmente no Blog do Jeso.
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