A índia Creuza Umutina, mãe aos 12 anos, é a 1ª mulher a ser cacique no Brasil e mudou a gestão de sua aldeia
Do IG: “Consegui respeito no arco e flecha”
A primeira cacique brasileira ganhou prestígio depois de conquistar o mais alto posto no pódio dos Jogos Indígenas. Categoria: arco e flecha.
A infância foi curta. Aos 12 anos, lembra, já estava grávida do marido, escolhido pelos pais. “Daí não dava para escapulir e brincar”, diz. A boneca, de carne e osso gerada em seu ventre, exigia dedicação total. “Era uma criança cuidando de outra criança. Mas era a minha obrigação”, conta.
Foram cinco filhos paridos quase que em sequência. E, sem nunca ter provado um só trago de pinga, a índia conheceu, na vivência da maternidade, os males da bebida alcoólica. “Meu companheiro começou a beber demais logo quando meu segundo filho nasceu. Ficava violento, agressivo. Faltava coragem em dizer para ele que eu não estava feliz.”
Se as meninas não brincavam de arco e flecha, as mais velhas (entenda casadas, já que muitas ainda eram adolescentes) não se divorciavam.
A mistura entre gravidez precoce e alcoolismo do parceiro, assim como fez com boa parte das mulheres de Umutina naquela década de 70, poderia ter definido o destino de Creuza. Mas ela tinha, como uma carta na manga, o talento “proibido” da meninice.
“Consegui o respeito da comunidade - e a reviravolta na minha vida - com o arco e flecha que minha mãe tanto detestava”, diz. Voltou a treinar a pontaria, relembrou o dom “que já nasceu comigo” e no ano 2004 foi campeã dos Jogos Indígenas na modalidade (desbancando inclusive o marido, que já havia sido promovido a “ex”).
Talento para atividade física é admirado pelos índios. O feito, acreditam, indica que a pessoa trilha o caminho do bem. A fama de vencedora e de guerreira se espalhou. “Naquele mesmo ano fui eleita cacique, a primeira mulher no posto”, diz.
Segundo o censo feito pela Funai (Fundação Nacional do Índio) hoje existem 220 povos indígenas diferentes, que somam mais de 800 mil pessoas, falantes de 180 línguas distintas. Mesmo em meio aos idiomas tão diversos, as vozes desta parcela da população brasileira reclamam de problemas semelhantes em todas as etnias do País.
Assim como o homem branco, o negro e o oriental, os índios também padecem do crescimento importante da obesidade, da dificuldade no acesso à educação e da devastação provocada pelo consumo abusivo de álcool.
Todas estas mazelas serviram de diretrizes para a cacique Creuza. Em seu povoado de cerca de 500 pessoas, ela traçou um plano de ação. Abriu a aldeia para escola, centros de saúde, programas para a dependência química, internet e também antenas de televisão.
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Do IG: “Consegui respeito no arco e flecha”
A primeira cacique brasileira ganhou prestígio depois de conquistar o mais alto posto no pódio dos Jogos Indígenas. Categoria: arco e flecha.
A infância foi curta. Aos 12 anos, lembra, já estava grávida do marido, escolhido pelos pais. “Daí não dava para escapulir e brincar”, diz. A boneca, de carne e osso gerada em seu ventre, exigia dedicação total. “Era uma criança cuidando de outra criança. Mas era a minha obrigação”, conta.
Foram cinco filhos paridos quase que em sequência. E, sem nunca ter provado um só trago de pinga, a índia conheceu, na vivência da maternidade, os males da bebida alcoólica. “Meu companheiro começou a beber demais logo quando meu segundo filho nasceu. Ficava violento, agressivo. Faltava coragem em dizer para ele que eu não estava feliz.”
Se as meninas não brincavam de arco e flecha, as mais velhas (entenda casadas, já que muitas ainda eram adolescentes) não se divorciavam.
A mistura entre gravidez precoce e alcoolismo do parceiro, assim como fez com boa parte das mulheres de Umutina naquela década de 70, poderia ter definido o destino de Creuza. Mas ela tinha, como uma carta na manga, o talento “proibido” da meninice.
“Consegui o respeito da comunidade - e a reviravolta na minha vida - com o arco e flecha que minha mãe tanto detestava”, diz. Voltou a treinar a pontaria, relembrou o dom “que já nasceu comigo” e no ano 2004 foi campeã dos Jogos Indígenas na modalidade (desbancando inclusive o marido, que já havia sido promovido a “ex”).
Talento para atividade física é admirado pelos índios. O feito, acreditam, indica que a pessoa trilha o caminho do bem. A fama de vencedora e de guerreira se espalhou. “Naquele mesmo ano fui eleita cacique, a primeira mulher no posto”, diz.
Segundo o censo feito pela Funai (Fundação Nacional do Índio) hoje existem 220 povos indígenas diferentes, que somam mais de 800 mil pessoas, falantes de 180 línguas distintas. Mesmo em meio aos idiomas tão diversos, as vozes desta parcela da população brasileira reclamam de problemas semelhantes em todas as etnias do País.
Assim como o homem branco, o negro e o oriental, os índios também padecem do crescimento importante da obesidade, da dificuldade no acesso à educação e da devastação provocada pelo consumo abusivo de álcool.
Todas estas mazelas serviram de diretrizes para a cacique Creuza. Em seu povoado de cerca de 500 pessoas, ela traçou um plano de ação. Abriu a aldeia para escola, centros de saúde, programas para a dependência química, internet e também antenas de televisão.
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