quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A faca não está só no pescoço da Grécia


A impressão que muita gente tem, a começar pelo Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman,  é que estamos assistindo o início do fim de uma Europa unida, um sonho acalentado por muitos desde o século 19, quando Victor Hugo não se cansava de proclamar a ideia dos “Estados Unidos da Europa”. Ainda que aconteça um improvável “sim” no referendo grego sobre o pacote recessivo que a União Européia, o mínimo de sentimento de unidade europeia está fadado a submergir pelo sentido impositivo com que da Grécia se exige a capitulação, ou ao poder franco-alemão ou à ruína econômica.
Poder franco-alemão, sim, porque são estes dois países que lideram as pressões sobre os gregos, enquanto os ingleses, que não vão tão bem das pernas assim, assumem uma postura mais discreta, até porque conservaram sua própria moeda e podem usá-la para criar diques parciais contra a onda de instabilidade que viria com a bancarrota grega.
Os prejuízos dos bancos privados – que você pode ver um a um na animação acima – diretamente com a dívida grega seriam, em si, absorvíveis, claro que com várias baixas e a dizimação do sistema financeiro grego, que teria, praticamente, de ser refeito. A dívida total da Grécia, de 250 bilhões de euros, é digerível por uma economia do tamanho da zona do Euro, claro que com muitos estragos.
Se o problema fosse deixar os gregos à sua própria sorte, não seria mais que um “problema deles”. A Grécia sairia da moeda única, teria de fazer sozinha seu arrocho e todos sobreviveriam.
O problema é que os estragos que isso causaria seriam fortes o suficiente para empurrar para o abismo os países que estão à beira dele: Portugal e, mais importantes, a Espanha e a Itália.
Estes não são um caroço que se possa engolir. Sem eles, não há Euro. E a eles não se pode dobrar facilmente, como nem aos gregos se pôde fazer.
É por isso que eles se voltam para os Brics -especialmente China e Brasil – em busca de alternativas. Mas, com a boca torta do cachimbo colonial, sem perder a empáfia e a pretensão que podemos, como há séculos – sermos fonte de riqueza barata e sem contrapartida política.
A agressividade dos governos francês e alemão no caso do plebiscito grego, muito mais que colocar a faca no pescoço da Grécia, é resultado de sua sensação de que a faca está no pescoço do Euro.

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