quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Quero pagar mais imposto!

Liliane Bettencourt 

By Paulo Nogueira

Os bilionários ficaram malucos?  Ou está se propagando entre ele uma crise de consciência global?
Ou ainda: eles começam a ver que toda a sua fortuna de nava valerá num planeta arruinado?
Tais questões me ocorreram depois de saber que 16 multimilionários franceses publicaram uma carta num jornal na qual pedem que o governo cobre mais impostos deles.
Diz um trecho da carta: “Num momento em que o déficit das contas públicas e o agravamento das dívidas do Estado ameaçam o futuro da França e da Europa, num momento em que o governo pede a todos solidariedade, nos parece necessário contribuir.”
Vejo entre os signatários figuras do porte de Liliane Bettencourt, a ocotogenária e controvertida dona da L’Oreal.  É bom saber que ela está disposta a sacrificar parte de sua fabulosa riqueza pela sociedade em vez de passar dinheiro a um fotógrafo espertalhão que se insinuou em seu coração, para desespero de sua filha – que foi à justiça para interditar a mãe, num caso que chocou e comoveu os franceses.
Mas enfim.
É o segundo gesto do gênero em pouco tempo entre os bilionários.  Pouco antes, num artigo publicado no New York Times, o investidor americano William Buffett, um dos homens mais ricos do mundo, pedira também mais imposto para ele e seus colegas. “Parem de mimar os superricos” era o título do artigo de Buffett. Ele ponderou que, proporcionalmente, paga menos impostos – 17,4%, na última vez — que a maior parte dos assalariados.
“É bom ter amigos em postos importantes”, ironizou ele. A referência era aos congressistas de Washington, que aliviaram consideravelmente a taxa tributária dos milionários americanos nos últimos anos. Buffett lembra um argumento sempre usado para esse tipo de coisa: se o capital for taxado em demasia, foge. Buffett diz que jamais pensou em fugir com os impostos do passado, bem maiores – e mais adequados, segundo ele – que os atuais.
Movimentos dessa natureza devem ser saudados. Não faz sentido um mundo em que a fome da Somália conviva com quantidades obscenas de dinheiro nas mãos de um pequeno grupo que deve boa parte do patrimônio aos “bons amigos’, para usar a expressão buffettiana.
Penso no Brasil.
E só me ocorre, na direção oposta, num triunfo da vaidade caipira e do egoísmo deslumbrado, Eike Batista proclamando pateticamente que seu sonho é ser o homem mais rico do mundo.
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