terça-feira, 23 de agosto de 2011

Nelson Rodrigues faria 99 anos hoje

Nelson Rodrigues faria 99 anos hoje  

O afiado cronista do cotidiano e grande dramaturgo das tragédias humanas foi também um genial frasista. Relembre algumas provocações do escritor brasileiro

247 - Daqui a um ano o Brasil celebrará o centenário de nascimento do escritor, jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues. Nascido em Recife em 1912, ele viveu a maior parte de sua vida no Rio de Janeiro, onde morreu em 1980. Os preparativos para a data já estão a pleno vapor e incluem um blog com textos inéditos do autor criado pela filha dele, Sonia, a reedição de sua obra e montagens teatrais. O blog integra o site nelsonrodrigues.com.br. que prepara-se para divulgar entre hoje e o centenário um amplo arquivo de textos, áudio e imagens acessível aos internautas. Além de seus livros, peças e artigos da coluna “A vida como ela é”, Nelson ficou famoso por suas falas inspiradas, muitas vezes preconceituosas e machistas.
Despertou a fúria de feministas – e das pessoas de bom senso – ao lançar a famosa “toda mulher gosta de apanhar, só as neuróticas reagem”. Apaixonado pelo Rio de Janeiro, não se intimidou em mandar esta sobre os moradores de São Paulo: “A companhia de um paulista é a pior forma de solidão”. Apaixonado por futebol, ele gostava de dizer que “O Fluminense é o único tricolor. Os outros são times de três cores”. Especialista em metáforas futebolísticas, Nelson soterrou o seu moralismo atávico dizendo: “Muitas vezes é a falta de caráter que decide uma partida. Não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos.”
Nossa ficção é cega para o cio nacional. Por exemplo: não há, na obra do Guimarães Rosa, uma só curra.
Não reparem que eu misture os tratamentos de tu e você. Não acredito em brasileiro sem erro de concordância
Toda mulher bonita é um pouco a namorada lésbica de si mesma
Só o inimigo não trai nunca.
Se todos conhecessem a intimidade sexual uns dos outros, ninguém cumprimentaria ninguém.
Não se apresse em perdoar. A misericórdia também corrompe.
Toda unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar.
O marido não deve ser o último a saber. O marido não deve saber nunca
Não admito censura nem de Jesus Cristo
Eu me nego a acreditar que um político, mesmo o mais doce político, tenha senso moral
Um Garrincha transcende todos os padrões de julgamento. Estou certo de que o próprio Juízo Final há de sentir-se incompetente para opinar sobre o nosso Mané.
A dúvida é autora das insônias mais cruéis. Ao passo que, inversamente, uma boa e sólida certeza vale como um barbitúrico irresistível.
Toda coerência é, no mínimo, suspeita.
A maioria das pessoas imagina que o importante, no diálogo, é a palavra. Engano, e repito: – o importante é a pausa. É na pausa que duas pessoas se entendem e entram em comunhão.
Toda a história humana ensina que só os profetas enxergam o óbvio.
Ou a mulher é fria ou morde. Sem dentada não há amor possível.
No Brasil, quem não é canalha na véspera é canalha no dia seguinte.
A morte de um velho amigo é uma catástrofe na memória. Todas nossas relações com o passado ficam alteradas.
Não ama seu marido? Pois ame alguém, e já. Não perca tempo, minha senhora!
A verdadeira grã-fina tem a aridez de três desertos.
No passado, a notícia e o fato eram simultâneos. O atropelado acabava de estrebuchar na página do jornal.
Um filho, numa mulher, é uma transformação. Até uma cretina, quando tem um filho, melhora.
Natal já foi festa, já foi um profundo gesto de amor. Hoje, o Natal é um orçamento.
Enquanto um sábio negro não puder ser nosso embaixador em Paris, nós seremos o pré-Brasil.
Se eu tivesse que dar um conselho, diria aos mais jovens: – não façam literatice. O brasileiro é fascinado pelo chocalho da palavra.
Quero crer que certas épocas são doentes mentais. Por exemplo: – a nossa.
Desconfio muito dos veementes. Via de regra, o sujeito que esbraveja está a um milímetro do erro e da obtusidade.
Falta ao virtuoso a feérica, a irisada, a multicolorida variedade do vigarista
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