terça-feira, 14 de junho de 2011

VISÂO ARCAICA

Kathe Graham, editora do The Washington Post, e o editor executivo Ben Bradlee comemoram a decisão da Suprema Corte dos EUA de dizer que o "segredo de Estado" não era censurável.
A melhor contribuição para o debate provocado pelas pressões dos ex-presidentes José Sarney e Fernando Collor para forçar a presidenta Dilma a aceitar a modificação que pretender impor, no Senado, à lei já aprovada na Câmara, que regula a publicidade – perdoem-me o pleonasmo – de documentos públicos considerados “secredos de Estado”, estabelecendo um prazo máximo de 50 anos para sua desclassificação como “secretos” vem, hoje, das páginas do The New York Times.
É a história, com ares de tragicomédia da liberação oficial, na próxima segunda-feira, de parte de um conjunto de documentos conhecido como “Os Papéis do Pentágono”, que cairão sobre os efeitos da legislação americana de liberdade de informação, por terem completado 40 anos como “ultrassecretos”.
São parte de um estudo encomendado pelo então secretário de Defesa americano, Robert McNamara, que foram vazados por um funcionário do Pentágono, Daniel Ellsberg, horrorizado com as mentiras sobre a guerra que se contava ao pobo americano e ao mundo.
Há 40 anos, o NY Times começava a publicar aqueles documentos, o que o Governo americano tentou barrar na Justiça. Logo a seguir, o Washington Post publicou outra parte deles.  A Suprema Corte negou-se a censurar os jornais.
Nos anos 70, Ellsberg saía do trabalho carregando documentos em uma mala e os xerocopiava. Hoje, bastariam tudo é muito mais fácil. Mais que um ato que considera a opinião pública como um bando de tolos, o ato de pretender privar eternamente o acesso à informação é, ele próprio, uma tolice.
Um pesquisador da Universidade George Washington , especializado em arquivos oficiais definiu bem a situação: “Você podia ler tudo isso nos últimos 40 anos, mas isto continua secreto”.
A visão dos senadores Sarney e Collor é arcaica como eles.
Podem até, na base da pressão política, faze-la prevalecer na decisão do Senado. Podem fazer  “sumir” um ou outro detalhe escandaloso de fatos ocorridos um século atrás se, como dizem, seu objetivo não se cinge às suas administrações, que afinal restariam “protegidas” até os anos 2040, quando os dois, talvez, nem estejam por aqui.
Até porque a maior parte destes documentos se refere a política externa e, se não é revelado cá, é revelado lá, como aconteceu com os documentos que mostram o envolvimento dos EUA no golpe militar de 1964.
Os preclaros senadores deveriam tem entendido, já, que na sociedade da informação, a verdade – que sempre foi insubmersível – vem à tona muito mais rapidamente.
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