terça-feira, 28 de junho de 2011

O Pará dividido

Por Cristovam Sena (*)

Sendo aprovada pelo plebiscito, essa será a quarta vez que o Pará será dividido, ou esquartejado, como o saudoso e irreverente Juvêncio Arruda (1955-2009) afirmava no seu blog 5ª Emenda. E, até chegar a hora da votação em dezembro próximo, sobre esse assunto ainda ouviremos muita demagogia à direita e a esquerda, contra e a favor da criação do novo estado.
Em 1999 a UFPA/NAEA publicou o livro “O Pará Dividido – Discurso e construção do Estado do Tapajós”, do jornalista santareno Manuel Dutra, que faz uma reconstituição histórica do movimento pela criação do estado. Leitura oportuna e necessária para se entender os fundamentos geopolíticos dessa luta em defesa da divisão territorial do Pará.
A grande diferença desta para as outras divisões é que agora ganhamos o direito de opinar sobre a sua efetivação. Criar novos estados já foi decisão exclusiva do governo federal, justificada como estratégia de segurança nacional nas fronteiras ou punição aos que se envolviam em movimentos contra o governo. Nesse período até os municípios eram “esquartejados” por se envolverem em movimentos contrários ao poder central estabelecido. É o caso de Oriximiná, que o governador Paes de Carvalho anexou seu território a Óbidos em 1900, extinguindo o município.
Entretanto, por ter se oposto ao movimento armado que culminou com o golpe de estado que levou Getúlio Vargas ao poder em 1930, Óbidos teve que devolver, em 1934, por ordem do Governador Magalhães Barata, as terras que tinha recebido de Paes de Carvalho. Barata restabeleceu o município de Oriximina, forma encontrada pelo caudilho para vingar os desafetos de Vargas, seu padrinho político. O escritor obidense Ildefonso Guimarães (1920-2004) no seu livro “Os dias recurvos”, narra o período do levante militar de 1932 no Quartel de Óbidos, que culminou com a Batalha Naval de Itacoatiara.
Voltando ao Tapajós, essa conversa de que a criação do Estado não passa de esperteza de políticos e da elite santarena é papo furado. Argumento que foi amplamente utilizado pelo senador Aloysio Nunes Ferreira no programa Espaço Aberto da Globo News do dia 15 de junho. O senador paulista desconhece que o sentimento separatista que hoje aflora com mais intensidade vem de muito longe e é fruto do próprio “crescimento” da região. Pode não ser um sentimento de todos, como não é, mas também não pode ser classificado como simples capricho da elite santarena.
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