Um ano após tentar romper o cerco naval à faixa de Gaza e de ser deportada de Israel com centenas de outros ativistas, a cineasta brasileira Iara Lee vai repetir a dose.
Mais de dez barcos devem participar da "Flotilha da Liberdade", que partirá daqui a duas semanas em direção a Gaza, informa Iara. Ela está tentando atrair outros brasileiros a participar.
"É um movimento de solidariedade global e a meta é que cem países estejam representados", disse Iara por telefone à Folha. "Há 20 vagas reservadas para a América Latina e eu gostaria que tivéssemos mais brasileiros".
O novo comboio marca o aniversário dos incidentes de 31 de maio de 2010, quando soldados israelenses mataram nove ativistas ao interceptar uma flotilha com ajuda humanitária que tentava furar o bloqueio a Gaza.
A sangrenta operação militar, que gerou uma onda de condenação a Israel e chamou a atenção mundial para o cerco a Gaza, até hoje é motivo de controvérsia.
Israel afirma que seus soldados reagiram ao serem atacados, o que é negado pelos ativistas. Há dois dias, um jornal israelense publicou fotos de homens portando armas de fogo no Mavi Marmara, o navio onde ocorreram os confrontos. Iara, que estava no navio, nega.
"É mentira. O que eles acharam, facas de cozinha? Como alguém pode acreditar que estávamos armados?", diz a cineasta e ativista de direitos humanos. O filme que ela fez a bordo do Marmara durante o ataque, e que está disponível na internet, não é conclusivo.
Assim como no ano passado, a nova operação será capitaneada pelo IHH, organização humanitária turca com fortes vínculos com o grupo islâmico Hamas, que controla a faixa de Gaza. Para evitar problemas, diz Iara, os participantes assinarão um pacto de não violência.
O alerta de Israel de que não permitirá a passagem da frota e os apelos da ONU e da Turquia para que os organizadores repensem a ação não intimidaram os ativistas. Na próxima semana, eles se reúnem em Atenas para definir a data de partida.
Israel vê a nova flotilha como pura provocação, já que a ajuda humanitária poderia ser entregue por sua fronteira ou pela passagem de Rafah, entre Gaza e o Egito, reaberta recentemente.
Iara Lee admite que o principal objetivo não é levar suprimentos, mas chamar a atenção para o bloqueio.
Com a região mergulhada em ações de repressão violenta a revoltas populares em países como Síria, Líbia, Iêmen, e Bahrein, ela não considera injusto fixar o protesto no cerco israelense.
"Gaza é um símbolo de opressão", diz ela. "Mas sabemos que todos os governos da região tem as mãos sujas de sangue".
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