terça-feira, 31 de maio de 2011

Caso Palocci: O vazamento de Suplicy foi calculado?

Por Luiz Carlos Azenha

O senador Eduardo Suplicy vazou para a imprensa que o ministro Antonio Palocci, da Casa Civil, recebeu R$ 1 milhão de reais para atuar como consultor na fusão de duas empresas. Presumo que isso tenha acontecido quando Palocci era deputado federal.
“Segundo o relato de Suplicy, o ministro afirmou que em relação a fusões os contratos tinham taxa de sucesso. Ou seja, Palocci receberia mais dinheiro se a união de empresas fosse referendada pelos órgãos de controle e se mostrasse um bom negócio”, narra hoje o Estadão, sem citar quais foram as empresas envolvidas.
No caso específico, Palocci ganhou menos que esperava por ter fechado a consultoria antes de assumir o cargo de “primeiro-ministro”.
Talvez a declaração de Suplicy tenha sido resultado de uma ação organizada do PT para se antecipar ao trabalho de repórteres. Pode ter sido um lampejo de transparência. Ou fogo amigo. Pouco importa. De tudo o que foi publicado sobre Palocci nos últimos dias, no entanto, é a revelação mais… vamos dizer, embaraçosa. Pelo fato de que liga diretamente a renda de Palocci como consultor a possível atuação junto a órgãos do governo.
E abre uma miríade de novas questões: quais eram os clientes? quais foram os órgãos de controle envolvidos? o processo de fusão se completou antes do fim do governo Lula? está em andamento? qual a influência de Palocci sobre os órgãos de governo que hoje analisam a fusão, se ela ainda não se completou? o negócio tem desdobramentos sobre os quais Palocci preside atualmente?
Para todos os efeitos, Palocci está politicamente morto, a não ser que aja com absoluta transparência. Ainda assim, a permanência dele no governo oferece à oposição uma chance de ressureição, na medida em que ela pode explorar um baú inesgotável de ilações, suposições e meias verdades, para as quais conta com a mídia que, como sempre denunciamos neste espaço, age com dois pesos e duas medidas.
É o antipetismo 2.0, nestes tempos de revolução digital uma ferramenta capaz de multiplicar votos na classe média que, aparentemente, a presidente Dilma pretendia conquistar.
Todo o caso Palocci, mais a votação do Código Florestal, expôs a fragilidade da coalizão governista. Há quem atribua isso à voracidade do PMDB, outros ao autismo do Planalto.
Na versão destes últimos, Dilma teria se isolado das pressões políticas e escalado Palocci para servir como uma espécie de anteparo. Se é fato, vai ser preciso rearranjar o governo.
O fato é que, até agora, no Congresso, nas duas votações importantes — salário mínimo e Código Florestal –, o rolo compressor de um governo que se pretendia de centro-esquerda deu tilt. Só rolou para um lado, o da centro-direita.
Os dois projetos políticos nas quais Palocci teve um papel importante — isolar Dilma Rousseff de pressões e aproximá-la da mídia que fala à classe média urbana — fracassaram espetacularmente. Mas a Projeto, esta aparentemente deu certo.
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