terça-feira, 24 de maio de 2011

Bob Dylan, mais influente artista da história, faz 70

Bob Dylan, mais influente artista da história, faz 70 Foto: DIVULGAÇÃO

Símbolo maior da década de 60, o compositor americano ainda hoje é interpretado e reinventado por músicos de todos os gêneros; o que faz dele um nome tão universal e eterno?

Por Natália Rangel 247

Mal humorado, cínico, mentiroso, interesseiro, ambicioso, egoísta e manipulador. Tudo já se falou de Robert Allen Zimmerman, o rebelde garoto americano que trocou o sobrenome de família pelo do seu poeta favorito (o americano Dylan Thomas) e o músico que encantou uma geração de hippies e fãs do country e do folk para depois “os apunhalar pelas costas” ao trazer às suas melodias harmonizadas com gaita e violão uma guitarra distorcida, barulhenta – roqueira. Na década de 1960, Dylan era o homem que não fazia concessões. Ele esculhambava com sarcasmo os empolados articulistas da revista Time, e não tentou contemporizar quando, durante um show em Manchester Free Trade Hall, em 1966, num intervalo entre as músicas, alguém da ala country da plateia gritou: Judas (por causa do uso das guitarras). E Dylan respondeu “I don´t believe you. You're a liar”. Virou-se para a banda e gritou: “Play it fucking loud”, e assim introduziu a próxima música do repertório: Like a Rolling Stone, para delírio do público – pelo menos parte dele. Um garoto de 21 anos saiu reclamando e foi entrevistado. Ele disse: Qualquer grupo pop produziria lixo melhor que esse. É uma desgraça. Ele é um traidor” (esse incidente está documentado no DVD Live 1966: The Royal Albert Hall Concert, lançado em 1998).
A voz rouca da discórdia nunca esmoreceu. E está aí mesmo uma das contradições mais fascinantes de Dylan, que faz 70 anos nesta terça-feira 24: em meio século de carreira, ele elevou a sua obra a um patamar universal. É interpretado por uma diversificada gama de músicos que vai da cantora pop Sheryl Crowe ao popular Zé Ramalho, do reggae de Bob Marley ao rock dos Rolling Stones ou a MPB de Caetano Veloso (além da banda mineira Skank que fez uma versão da canção I want you, de Dylan, intitulada Tanto). A sua música é interpretada por vozes delicadas como Gal Costa e Joan Baez, e também funciona perfeitamente bem em versões roqueiras de bandas como os Byrds, Guns´n Roses ou de Neil Young. A universalidade de sua música também pode ser observada através da leitura da definitiva biografia do artista escrita pelo jornalista Robert Shelton e que está sendo lançada pela primeira vez no Brasil: “No Direction Home: a Vida e a Música de Bob Dylan” (Larousse). O livro enfoca a trajetória do músico e mostra a competência que ele teve em criar sólidas redes sociais junto a artistas que admirava, com uma profícua troca de composições e letras. Nesta célebre galeria de amigos estão John Lennon, Johnny Cash, Allen Ginsberg e muitos outros.
O biógrafo foi responsável pela primeira matéria no jornal sobre Dylan, quando o artista descrito como “folk”, contou muitas mentiras sobre seus trabalhos com artistas famosos da época e mentiu sobre sua trajetória, família, vida, tudo. Sempre com o objetivo de parecer um pouco “mais bacana” do que era de fato àquela altura. Shelton deu a maior força e bancou todas as conversas do jovem artista. Pouco depois dessa matéria (New York Times) ele selaria com a Columbia o seu primeiro contrato. A amizade entre biógrafo e biografado garantiu acesso exclusivo a muitas fontes. O livro, inclusive, emprestou seu título à cinebiografia dirigida por Martin Scorsese em 2005. Em meio às diversas homenagens ao artista, a BBC aproveita o ensejo para publicar pela primeira vez uma entrevista inédita concedida por Dylan em 1966 em que ele trata de temas mais que tabus para a época.
Esta foi a única vez até hoje que Dylan falou abertamente sobre o uso de drogas como a heroína. Em março daquele ano, durante um vôo entre Lincoln e Denver, Bob Dylan concedeu entrevista de quase duas horas ao amigo Robert Shelton. O conteúdo da conversa acabou por ser revelado pela emissora. No material divulgado Dylan, então com 24 anos, admite o vício em heroína. “Adquiri o hábito em heroína em Nova York. Gastava cerca de 25 dólares por dia com o vício. Fiquei muito, muito viciado por um tempo, digo realmente viciado. E me livrei do hábito”. Ele também reconhece que pensou em suicidar-se: “Eu daria um tiro no cérebro se as coisas ficassem ruins. Eu pularia de uma janela, cara. Eu iria me matar. Você sabe que eu penso sobre a morte, cara, abertamente”. Uma segunda entrevista, com uma hora e quarenta minutos, também foi gravada por Shelton no dia seguinte. Segundo a BBC, um filme está sendo produzido a partir do material destas duas fitas.
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Um comentário:

Jack disse...

Parabéns a autora, um dos melhores textos que li em blog's sobre o Dylan. Vou acessar mais vezes aqui!
Dê uma olhada no meu também, escrevi uma série de homenagens a ele (e outros como Kerouac, Cassady, Ginsberg...)