quarta-feira, 27 de abril de 2011

O menino de Guantanamo

Estados Unidos: Uma sessão de "direitos humanos" em Guantanamo

By Paulo Nogueira

Quer saber como Guantanamo se tornou o horror que é?
Leia “Guantanamo Boy”, da escritora inglesa Anna Perera. Uma versão em português foi lançada no Brasil pela Editora Agir.
Baixei a edição original no Kindle com um mero clique.  Uma espécie de milagre da aparição literária.
É uma ficção baseada na realidade. Khalid é um adolescente inglês. Seus pais são paquistaneses, e acabaram indo para a Inglaterra, como tantos conterrâneos, para  fugir da miséria de seu país. Para os ingleses era uma coisa boa, porque os imigrantes representavam mão de obra barata para funções humildes que os nativos não estavam nem um pouco interessados em realizar eles próprios.
Khalid vai visitar a terra dos pais.
Mas estava acontecendo o seguinte. Os Estados Unidos, na chamada Guerra ao Terror, estavam dando um dinheiro considerável a pessoas que denunciassem suspeitos de terrorismo. Era uma cifra que equivalia a meses, talvez anos de trabalho na miséria paquistanesa. Muitas pessoas inescrupulosas, para pegar o dinheiro, fizeram denúncias sem fundamento. Como não havia julgamento, como não havia advogado de defesa, como não havia procedimento legal nenhum, o delator ganhava uma pequena fortuna sem risco de descobrirem que ele mentira.
O acusado ia parar em Guantanamo.
É essa a história de Khalid. É essa a história de cerca de 60 garotos presos no Paquistão e no Afeganistão em situação obscura e enviados a Guantanamo. Pais e mães desesperados simplesmente não voltaram a saber de seus filhos. Na prisão as crianças foram tratadas como “combatentes do inimigo”, para usar uma expressão que vi dita num vídeo, pronunciada por um oficial americano que trabalhava em Guantanamo.
Só que os meninos “combatentes”, como mostraram os vazamentos realizados pelo Wikileaks, eram garotos inocentes como o Khalid do livro de Anna.
O que os Estados Unidos fizeram em Guantanamo é comparável ao que os soviéticos fizeram nos gulags tão bem descritos por Solzenitzen: reduzir o ser humano a nada. Subtrair pessoas do convívio com familiares, amigos, enviá-las a terras distantes e submetê-las a atrocidades.
Recomendei a minha filha Camila vivamente que leia este livro. Disse a ela que sugira aos professores que peçam aos alunos que leiam e discutam.
É uma aula de história contemporânea.
Anna, escritora de livros juvenis, sabe como fazer o leitor correr de página em página.
Ela vive em Londres. Ontem mesmo mandei um email a ela e combinamos um almoço no qual vou entrevistá-la.
Dou notícias.
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