sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Egito: O povo volta às ruas para festejar vitória e cobrar democracia


Uma multidão estimada em mais de um milhão de pessoas ocupa a Praça Tahrir, no centro do Cairo, nesta sexta-feira (18), para festejar a vitória contra o ditador Mubarak, consumada com sua renúncia uma semana atrás. A “marcha da vitória” tem também o objetivo de pressionar a junta militar que assumiu o poder para promover o quanto antes as ansiadas reformas democráticas.
Também foram realizadas manifestações em outras cidades do país.
Os 365 mártires dos protestos, assassinados pela polícia de Mubarak duraram 18 dias de protestos que resultaram na derrocada do regime, também são lembrados e homenageados.
A manifestação não tem um sentido meramente festivo. O povo voltou às ruas num alerta aos militares de que continuam mobilizados e dispostos a lutar pela efetiva democratização do país. A junta militar que sucedeu Mubarak está deixando a desejar neste sentido.
Medidas que a oposição julga elementares e reclama com urgência, como a libertação dos presos políticos, suspensão das leis de exceção e formação de um governo transitório de unidade nacional com participação civil, ainda não foram tomadas e subsiste uma espécie de ditadura sem Mubarak, com o agravante de que ainda segue tutelada pelos Estados Unidos e aliada a Israel.
O Nobel da Paz El Baradei, reconhecido como um dos líderes da oposição, é um dos que criticam a forma como os militares estão dirigindo o país. “Sou crítico da sua atuação porque até agora não fizeram o suficiente. Também não é o seu trabalho. Não sabem como se dirige um país. Precisamos de um governo de unidade nacional e não de um governo Mubarak, que ainda permanece no poder”, denunciou.
"Não vi qualquer das demandas da revolução pacífica que ocorreu há algumas semanas com milhões de pessoas nas ruas ser implementada", afirmou à BBC. "Tudo o que vemos são boletins militares, dizendo o que acontecerá na próxima semana, ou na semana seguinte. Mas onde está o plano? Como vamos fazer essa transição, o que é crucial para o futuro, ninguém sabe", disse.
Por seu turno, o porta-voz do Exército, general Ismail Etmaan, garantiu à TV estatal, que as Forças Armadas “não têm ambições futuras e querem entregar o poder a partidos civis quando eles estiverem fortes, para que não desabem".
"É uma festa, estamos muito felizes, Mubarak foi embora", disse Naser Mohamed, 50 anos, um dos manifestantes da marcha da vitória. "Acho que vamos voltar todas as semanas, todas as sextas-feiras". 

Já o imperialismo estadunidense continua manobrando para manter a situação sob controle. O faraó Mubarak é cria dos Estados Unidos, foi apoiado por Barack Obama até o último minuto de sua permanência na presidência, mas depois que foi apeado do poder eis que o império se apresenta, com sua infinita hipocrisia, como o promotor da democracia.
"Tenho prazer em anunciar hoje [18] que estamos reprogramando US$ 150 milhões destinados ao Egito, para nos colocarmos em posição de apoiar a transição nesse país e ajudar sua recuperação econômica", disse a secretária de Estado, Hillary Clinton.
Que ninguém se iluda. Os interesses, no caso, não se orientam no sentido de favorecer uma transição democrática, mas preservar o domínio dos EUA no Oriente Médio e o acordo com Egito-Israel, que sacrifica os palestinos. Sob Mubarak o Egito se transformou no principal e mais fiel aliado do imperialismo e do sionismo na região. A rebelião popular (não só no Egito) é uma séria ameaça para o império.
O chamado mundo árabe continua convulsionado. Há revoltas em curso no Iêmen, Bahrein, Iêmen e Líbia, entre outros países. Todos aliados dos EUA. Não restam dúvidas de que um novo Oriente Médio está a caminho na história. Virá pelas mãos do povo e, apesar das manobras do imperialismo, seu desenho não está de acordo com os interesses dos EUA. Muito pelo contrário.
O pano de fundo dos acontecimentos que sacodem aquela região é a crise da hegemonia estadunidense. Há uma convergência, neste sentido, com a mudança do cenário geopolítico da América Latina.
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