Depois, o FHC descomunistou-se.
Ligo para Tirésias, o profeta, e desejo Feliz Ano Novo.
- Tirésias, e o Ministério da Dilma, hein ? Não podia ser melhor.
- Não podia ser pior, diz ele, de mau humor.
- Pior ?
- Menino ! E o Ministro do Turismo ?
- O que é que tem ?
- 4 mil reais de motel. Que saúde !
- E quem indicou ele ?, pergunto.
- Foi um tal de Eduardo do PMDB. Não conheço não, mas dizem que um dos esteios morais do PMDB.
- Mas, pera aí, Tirésias, o Haddad ficar foi bom.
- Não, aí você tem razão. Mas para um Haddad tem um Jobim.
- Esse Jobim é inexplicável, Tirésias.
- E o pior é que ele é um nada. Não entende nada de militar ou avião
Não tem um voto. Não tem densidade política. Não representa ninguém. Nem jurista ele é.
- Mas, o que foi isso Tirésias ? Como os astros e as vísceras das ovelhas explicam esse ministério.
- Meu filho, não tem víscera nenhuma. É que a Dilma não tinha como dizer “não” ao Lula. Só isso.
- E o PSDB, Tirésias ? Você acha que o Aécio vai conseguir refundar o PSDB.
- O PSDB é irrefundável.
- Irrefundável ?, pergunto estarrecido. Você virou o Magri ?
- É isso mesmo: depois do imexível, irrefundável.
- Mas, por que não refundar o PSDB em novas bases ?
- Que bases ?
- Nas bases, novas lideranças, novas articulações com a sociedade.
- Não perca o seu tempo, diz Tirésias com ênfase. Você sabe como nasceu o PSDB ?
- Ora, eles fundaram o PSDB para fugir do Quércia no PMDB de São Paulo.
- Papo furado, diz Tirésias. Vou te conter o que eu ouvi.
- De quem ?
- Ouvi de quem foi testemunha do parto do PSDB. Para você ver que o PSDB nasceu sem base, sem articulação – o PSDB é produto da mídia.
- Do PiG.
- É, PiG, como você diz.
- Mas, e como nasceu o PSDB ?
- Governo Sarney. Era preciso arrumar um candidato de oposição ao Sarney. O PMDB já estava bichado. Tinha que ser coisa nova.
- E aí essa pessoa procurou o Covas. Não foi ele o primeiro sondado ?
- Sim, ele procurou o Covas, mas o Covas disse que não ia sair do PMDB. Porque no PMDB ele realizaria o único sonho da vida dele que era ser governador de São Paulo.
- E aí , o que esse teu amigo fez ?
- Procurou – foi o que ele me disse – procurou o Jorge Serpa.
- Aquele amigão do peito do Roberto Marinho.
- Exatamente.
- E o que o Serpa tinha a ver com isso ?
- Ele, não, meu filho. O negócio era o Roberto Marinho.
- Quer dizer que o Roberto Marinho é o verdadeiro pai do PSDB ? Não é o Ali Kamel ?
- Calma, chegamos lá.
- E aí ?
- Aí esse meu amigo diz que levou o estatuto do novo partido ao Jorge Serpa. O Serpa achou ótimo.
- E se Serpa gostou, meio caminho andado – o Dr Roberto poderia gostar.
- Exatamente.
- E como o Dr Roberto entra na jogada ?
- Aí, esse meu amigo procura o Fernando Henrique para ser o candidato a presidente dessa oposição.
- E ele topou na hora !
- Sim, claro ! mas, surgiu um problema: o Collor queria ser vice, mas do Covas.
- Mas, o Covas não queria.
- Pois é, não queria. Mas, acabou querendo, lembra o Tirésias.
- É verdade, ele acabou candidato a presidente.
- Sim. Ele, o Ulysses, o Brizola, o Lula – e o Collor.
- E o Collor ganhou deles todos. O que mostra que esse meu amigo também se estrumbicou.
- Mas, como foi a conversa desse teu amigo com o Dr Roberto ?
- Ah, sim ! Ele foi lá na Globo com o Fernando Henrique e o Jorge Serpa. Explicou tudo, falou do Estatuto que o Jorge Serpa tinha aprovado, falou, falou, disse até que já tinha um símbolo, o tucano. Explicou, explicou …
- E o Dr Roberto ?
- O Dr Roberto gostou de tudo e deu parabéns ao meu amigo: com você eu vou.
- Aí, foi uma surpresa geral: o Dr Roberto pensou que o candidato era o meu amigo.
- O teu amigo ? E como sair dessa ?
- Aí, o meu amigo explicou com muito cuidado, cheio de dedos, para não demonstrar que o Dr Roberto não tinha entendido nada. E disse: não, Dr Roberto, o candidato é o Fernando Henrique.
- E o que disse o Dr Roberto ?
- Não, esse eu não quero. Ele é comunista !
Pano rápido.
Paulo Henrique Amorim
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