segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Dilma defende Lula sobre o Irã

A Folha e o Estadão mais ainda bradaram na primeira página que Dilma não concordou com o voto do Brasil na ONU – abstenção – sobre a política de direitos humanos do Irã.
O que foi uma forma de omitir-se diante do apedrejamento de uma mulher.
A Folha e o Estadão, porém, se esqueceram de ir ao centro da questão, na qual o apedrejamento é um ponto lateral.
Dilma apóia inteiramente a política externa do Presidente Lula para o Oriente Médio.
O que implica em dizer que ela apóia um dos gestos mais ousados – e corretos, na opinião deste ordinário blogueiro – do Presidente Lula neste capítulo: ao lado da Turquia, a tentativa de aproximar o Irã e os Estados Unidos na questão nuclear.
Se o Estadão (principalmente) e a Folha tivessem a esperança de o Nelson Johnbim mandar na política externa mais do que o Embaixador Patriota, podem tirar o cavalo da chuva.
O chanceler do Brasil é a Dilma – como foi o Lula.
É assim em todo país grande, que não tira o sapato no aeroporto.
Veja o que ela disse ao Washington Post sobre o Irã.
Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
Abster-se na questão do apedrejamento foi errado.
Mas a política para o Oriente Médio do Lula está certa.
O que se vê no Oriente Médio, disse ela, é uma política fracassada – no Iraque e no Afeganistão.

http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2010/12/03/AR2010120303241_pf.html 
I believe that it is necessary for us to make a differentiation in [what we mean when we refer to Iran]. I consider [important] the strategy of building peace in the Middle East. What we see in the Middle East is the bankruptcy of a policy – of a war policy. We are talking about Afghanistan and the disaster that was the invasion of Iraq. We did not manage to build peace, nor did we manage to solve Iraq’s problems. Iraq today is in civil war. Every day soldiers on both sides die. To try to build peace and not to go to war is the best way. 
[But] I do not endorse stoning. I do not agree with practices that have medieval characteristics [when it comes] to women. There is no nuance; I will not make any concessions on that matter.
A entrevistadora também quis saber se a política econômica dela seria igual à do Presidente Lula.
Claro, disse Dilma.
Porque foi a maior conquista do nosso país.
Uma conquista que não é só de um Governo.
(Alô, alô, veja, amigo navegante, como ela se refere ao Governo Fernando Henrique de forma elegante. E, ao mesmo tempo, atribui a conquista ao Estado brasileiro, ao povo brasileiro. )
Não quero me gabar, diz ela, mas o Brasil tem uma divida em relação ao PIB de 2,2%.
E ela quer reduzir.
Em outro ponto da entrevista, ela vai ao fundo problema dos juros altos: juro só cai com redução do déficit. 
There’s no question about that. Why? Because for us this was the major achievement of our country. It is not an achievement of one sole administration – it is an achievement of the Brazilian state, of the people of our country. The fact that we managed to control inflation, have a flexible exchange-rate regime and fiscal consolidation so that today we are amongst the countries in the world that has the lowest debt-to-GDP ratio. Also, we have a not very significant deficit. I don’t want to brag, but we have a 2.2 percent deficit. We intend in the next four years to reduce the debt-to-GDP ratio and to guarantee this inflationary stability.
 
Em tempo: a Folha lamenta que ela ainda não tenha dado entrevista a jornal brasileiro, depois de eleita. É compreensível. Entrevista ao PiG  (**) não é entrevista. O PiG não quer saber o que ela pensa ou vai fazer. O PiG quer derrubá-la. Não é o caso do Washington Post. Que já derrubou um presidente, mas americano …  

Em tempo2: na mesma Folha, a Eliane Catanhêde, aquela que disse que a FAB prefere o caça sueco – clique aqui para ler sobre essa “barriga” – a Catanhêde diz que a “expectativa” é que o Itamaraty com o Patriota seja mais “técnico” e menos “político”. Quem souber distinguir uma diplomacia “técnica” de uma “política” ganha uma miniatura do Rafale, com a bandeirinha da França e um disco da Edith Piaf. 

Paulo Henrique Amorim
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