Na série sobre O Caso de Veja, mostro como a mídia se vale de escândalos e factóides. A intenção não é depurar, fiscalizar o poder público, mas usar como instrumento de marketing, de chantagem ou de jogo político. Mira-se o alvo e vai-se a uma imensa gôndola com escândalos reais ou meros factóides. Tira-se o pacote, fuzila-se o alvo e parte-se para outra.
Essa imensa bobagem da Folha com o suposto dossiê contra Eduardo Jorge é uma bela lição didática do uso desses recursos por parte de um jornal que perdeu totalmente o discernimento.
A blogosfera já cansou de desmentir o dossiê. Mostrou que é um livro de jornalista consagrado, que levantou as informações bancado pelo Estado de Minas. Mais: mostrou que as tais informações do dossiê, divulgadas pela Folha, são públicas e já publicadas há anos. É matéria falsa.
Pior que isso, o jornal posa de vestal, mas quando esses dossiês contra Eduardo Jorge foram efetivamente vazados, a Folha foi quem mais abjetamente divulgou as acusações. Fui o único jornalista a me insurgir contra o massacre perpetrado por procuradores e pelo próprio jornal. O Clóvis Rossi deu o braço a torcer só depois do EJ absolvido. Os demais jornalistas, nem isso.
Clique aqui para conferir várias matérias publicadas pela Folha, usando inclusive o tal dossiê a que ela se refere agora.
O link tem matéria do Josias de Souza, de 28/09/2003
LIGAÇÕES PERIGOSAS
Auditores da Corregedoria da Receita Federal apreendem correspondência eletrônica que reaviva caso
Em carta, EJ conta como "protegeu" as suas empresas
Auditores da Corregedoria da Receita Federal apreendem correspondência eletrônica que reaviva caso
Em carta, EJ conta como "protegeu" as suas empresas
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
E tem também seu artigo de ontem, sobre o neonovissimo dossiê.DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Aqui, um pequeno exemplo (a íntegra está no link). Na sequência, o editorial de hoje.
Da Folha, de 6 de junho de 2001
Documento da Receita fala em "indícios de montagem", "atos nebulosos" e "falta de contabilização de dados relevantes"
Relatório aponta "divergências" em IR de EJ DAVID FRIEDLANDER
DA REPORTAGEM LOCAL
elatório sigiloso, que circulou entre autoridades do governo, afirma que há uma série de "divergências, atos nebulosos e falta de contabilização de dados relevantes" nas declarações de renda de Eduardo Jorge Caldas Pereira, ex-secretário-geral da Presidência da República. O documento, preparado pela delegacia da Receita Federal em Brasília, relata cerca de oito meses de uma investigação iniciada em agosto de 2000, sobre a evolução patrimonial do ex-secretário depois de sua saída do governo.
É a primeira vez que se descobre um documento do próprio governo que coloca em dúvida os negócios particulares de EJ. Desde que ele começou a ser investigado, por possibilidade de enriquecimento ilícito, apenas procuradores federais e políticos de oposição tinham questionado a conduta do ex-secretário LEIA MAIS.
Da Folha de hoje
Inteligência aloprada
Os índices de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não refletem apenas sua empatia popular. São também fruto da capacidade que demonstrou, como governante, de preservar as conquistas de seu antecessor e avançar no crescimento econômico e na distribuição de renda, por meio de medidas como a elevação do salário mínimo, o aumento do crédito e a ampliação do programa Bolsa Família.
Bem sucedido no plano interno, Lula também fez fama no palco global. Tornou-se uma espécie de "popstar" da política emergente, o "cara" com quem chefes de Estado de variadas procedências querem aparecer na fotografia.
Tudo isso, como se sabe, confere ao presidente um papel relevante na disputa eleitoral -que ele tem exercido, aliás, com mais desenvoltura do que o recomendável. Fala o que deseja, quando deseja, onde deseja, como se pairasse acima do bem e do mal.
Multado cinco vezes por ferir as regras eleitorais, chegou ao cúmulo de tratar juízes de maneira jocosa, em sintomático menosprezo ao Poder Judiciário.
No domingo passado, durante o lançamento da dupla Dilma Rousseff e Michel Temer, Lula não ofendeu a lei, mas a realidade. Ao afirmar que seus oponentes "inventam" dossiês e fazem "jogo rasteiro", o presidente, sem cerimônia, inverteu os fatos e usou seu peso político para, mais uma vez, acobertar correligionários.
Até aqui, vieram dos bastidores petistas as evidências sobre montagens de dossiês para atingir rivais. Além da investida contra o candidato José Serra e membros de sua família, a "equipe de inteligência" de Dilma levantou dados fiscais e financeiros sigilosos do tucano Eduardo Jorge, conforme a Folha revelou no último sábado.
Repete-se o que ocorreu na campanha de Aloizio Mercadante ao governo paulista -quando petistas tentaram forjar um dossiê contra o rival do PSDB.
Naquela ocasião foi o próprio Lula quem escolheu o termo que acabou por batizar os afoitos companheiros. Ficaram conhecidos como "aloprados" -expressão que, pelo visto, não perdeu a validade quatro anos depois.
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