quarta-feira, 30 de junho de 2010

A eleição que foi à Copa

EDUARDO GUIMARÃES NO CIDADANIA

A situação política na América do Sul é uma bola. Talvez por isso a disputa eleitoral entre PT e PSDB tenha ido à África. Sim, porque está em curso um fenômeno que jamais vi, por mais que já tenha visto muita coisa nesta terra surpreendente.
Não é que essa aliança estapafúrdia entre um partido e os maiores grupos de mídia do país conseguiu politizar a Copa do Mundo? Aliás, o que é que a direita brasileira não consegue politizar, em tempos de desespero eleitoral?
Tudo começou quando tiveram a brilhante idéia de externar a possibilidade de a sensação de bem-estar do brasileiro diante de uma economia nacional que passou sob a crise financeira internacional como o Brasil passou sobre o Chile – ou seja, como um trator – vir a aumentar em caso de conquistarmos o hexacampeonato mundial de futebol masculino.
Enquanto isso, o técnico da Seleção Brasileira, Carlos Caetano Bledorn Verri, mais conhecido como Dunga, decide peitar a Globo.
Primeiro, escalou uma seleção diferente da que queria a emissora, o que lhe rendeu ataques revigorados por meio dela, os quais depois se espalharam por jornais, revistas, outras emissoras de tevê e as maiores de rádio, além dos portais de internet.
E a situação se agravou quando o mesmo Dunga, não contente com peitar a cabeça do PIG (Partido da Imprensa Golpista), proibiu os jogadores do seu time de darem entrevista exclusiva à emissora da familia Marinho.
E quando ele mandou um dos globo-boys  à #*@!%&*!!, aí a bomba explodiu de vez.
Mas confesso que a politização do futebol não foi só culpa da mídia. Vendo Dunga fazer com o PIG o que vem querendo fazer há muito tempo, a esquerda decidiu entrar em campo.
E já entrou catimbando com o “Cala a Boca, Galvão”. Depois, apoiando Dunga contra a Globo, o que gerou editoriais indignados da própria Globo e de Folhas, Vejas, Estadões etc., denunciando a “campanha de Dilma” por estar “aplaudindo” a reação de Dunga aos constantes ataques globais.
Contudo, em tempos de derretimento de sua candidatura à Presidência da República, a mídia – sobretudo a Globo – passa a temer que a população acabe culpando-a por uma eventual derrota do Brasil na Copa – ou, pior, que a Seleção conquiste o hexa e desminta os vaticínios midiáticos de fracasso.
Então, passamos a ver Fátima Bernardes e Willian Bonner com sorrisos que parecem que lhes vão rachar as caras ao terem que comentar não só mais uma vitória de Dunga, mas uma vitória que, como o mundo todo reconheceu ter sido brilhante, Globo e companhia tiveram que reconhecer também.
Contudo, desde os primeiros jogos do campeonato o conclave tucano-midiático tenta vender aos brasileiros a Seleção da Argentina e a da Alemanha. Aliás, tenta vender qualquer time que jogue um pouco melhor.
Hoje mesmo, na Folha de São Paulo, um dos Mauricinhos que escrevem na monótona página A2 se desmanchou todo em elogios à Alemanha e em depreciação de Dunga, daquilo que chamou de “dunguices” e do futebol que o Brasil vem apresentando. Já o principal blogueiro da Veja, está encantado é com o argentino Messi. E por aí vai…
Para ser franco, acho mais fácil venderem Serra aos brasileiros.
A torcida falsa da Globo a favor da Seleção ou a torcida contra explícita da imprensa escrita estão tirando a paciência do fanático torcedor verde-amarelo. Ao misturarem política com futebol, Globos, Folhas, Vejas e Estadões estão cometendo a maior burrada que já vi cometerem – e não são poucas.
Ganhe ou perca, a Seleção será considerada vítima da imprensa. Já começo a apostar que o resultado da Copa, seja ele qual for, influirá na eleição presidencial.
Anotem aí: a bala de prata que a mídia irá atirar contra Dilma na reta final da disputa eleitoral, será prejudicada. Aliás, talvez a raiva que o país está sentindo da mídia por conta de futebol possa ser atenuada, caso a Seleção vença.
Como sou um homem generoso, sugiro aos veículos supra mencionados – e aos que não mencionei – que torçam (muito) para a Seleção vencer a Copa. Não que isso possa facilitar a eleição de Serra, mas, pelo menos, não agravará o descrédito midiatico.

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