por Tiberio Alloggio (*)
Historiadores do futuro poderão caracterizar o seculo XXI como o da época das crises energéticas e ambientais, do aquecimento global, e da dificuldade da humanidade em se adaptar a um mundo, que se tornou mais hostil à sua presença.
O principal vilão dessa crise será identificado no petróleo, que somado aos demais combustíveis fosseis fez funcionar essa sociedade demasiadamente energívora.
Asfixiando a atmosfera, despejado como lixo e/ou derramado acidentalmente no ambiente, o petróleo está protagonizando, mais uma vez, uma catástrofe ambiental sem precedentes (explosão da plataforma Deepwater Horizon, no golfo do México), sendo que a precedente (vazamento da Exxon Valdez, no Alaska) foi protagonizada por ele mesmo.
O petróleo, que nos levou ao domínio da cadeia planetária, está agora nos precipitando numa curva “ecologicamente crítica”, caracterizada por sucessivas catástrofes humanas e naturais, que vem ocorrendo em prazos temporais cada vez mais curtos.
Os limites dos recursos naturais, os limites de resistência do nosso Planeta estão nos alertando que se a sociedade humana não mudar de rumo, terá que se conformar com a sua decadência. Ou seja, só através de uma reconversão de sua matriz energética a sociedade humana poderá continuar sua evolução.
Como o resto do mundo, o Brasil também precisa de energia para evoluir. É um país riquíssimo em fontes renováveis, cuja expansão poderá induzir uma grande revolução energética que afaste os problemas climáticos-ambientais.
Um olhar sobre os investimentos previstos hoje pelo Ministério de Minas e Energia, aponta para um Brasil ainda com uma matriz 50% não renovável em 2050.
Ou seja, apesar do Brasil se configurar como o País das fontes energéticas limpas e renováveis, ainda assim continuará tendo uma forte dependência dos combustíveis fósseis, petróleo, carvão, gás e nuclear.
É o resultado da ação da lobbie do petróleo, que através dos seus tentáculos na sociedade, no judiciário e no governo, travam a evolução do Brasil rumo a um regime energético mais limpo.
Mas se o Brasil entrasse de cabeça nas fontes de energias renováveis, com os mesmo investimentos, poderia alcançar em 2050 uma matriz renovável 90% (hídrica, biomassa, eólica, solar).
Na Amazônia, a matriz energética é hoje um híbrido de energia hidrelétrica com termoelétricas movidas a diesel, gás, lenha e carvão vegetal. A dependência do diesel continua grande, e ainda se importa energia da Venezuela e da Bolívia.
Apesar do seu imenso potencial hidrelétrico, a Amazônia tem a menor cobertura de domicílios atendidos com eletricidade do Brasil. Cerca de um milhão de domicílios ainda não têm acesso aos serviços.
Seria um contra senso, a região de maior potencial hidrelétrico do mundo, não desenvolver esse seu potencial. Afinal, não existe energia mais limpa e mais renovável do que a hídrica.
O desafio é enorme pois não podemos entender a construção de hidroelétricas apenas como “negócios para empreiteiros” e/ou “obras de pura engenharia”. A sociedade organizada tem que impor e garantir o “controle social” sobre essas obras. Ter o entendimento de que se trata de grandes projetos sociais, a possibilidade de experimentar uma nova relação entre o Estado e as populações locais, dentro de uma estratégia de desenvolvimento local.
As próprias dificuldades técnico-geográficas (pouco declívio e prejuízo ao meio-ambiente) ao invés de serem entendidas como empecilhos, têm que ser encaradas como verdadeiros desafios para a introdução de soluções tecnológicas inovadoras.
“A era dos limites já chegou”. E a humanidade precisa rever seus conceitos, sua história de seculos de competição, para aprender que só através da cooperação poderá olhar o futuro com otimismo. A competição entre pessoas, povos e países, precisa dar lugar a uma atitude solidária, pois é o planeta inteiro que corre riscos.
Ainda assim, haverá sempre aquela minoria, que, se lixando dos acontecimentos globais, continuará só olhando para o próprio quintal, preferindo o grito não ao Belo Monte!!! à logica do bom senso.
Mas desta vez, tudo indica, que o Brasil não vai querer perder a oportunidade (mais uma) de ser o país do futuro.
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* É sociólogo e reside em Santarém. Escreve regularmente no Blog do Jeso
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