sexta-feira, 26 de março de 2010

Perda de florestas cai 19% em uma década

Queda no desmatamento na Indonésia e no Brasil e reflorestamento na China explicam resultado, indica relatório da ONU.
Segundo coordenadora, é a primeira vez que índice tem queda em mais de 60 anos; América do Sul e África ainda lideram devastação.

Uma boa notícia, para variar: a perda de florestas no mundo caiu 19% nesta década em relação aos anos 1990, graças a reduções expressivas no desmatamento no Brasil e na Indonésia e a esforços maciços de reflorestamento na China. Os dados são da FAO, órgão da ONU para alimentação e agricultura.
É a primeira vez que se registra uma queda na perda de cobertura vegetal desde 1946, quando a FAO começou a produzir a Avaliação Global de Recursos Florestais, publicado a cada cinco anos.
“No último relatório, de 2005, nós não conseguimos ver nenhuma diferença em relação ao anterior. Então, é uma boa notícia”, disse à Folha a coordenadora do estudo, Mette Wilkie, sobre o novo dado.
No mundo inteiro, entre 2000 e 2010, 13 milhões de hectares de florestas foram perdidos, uma área pouco maior que a do Estado do Pará. Entre 1990 e 2000, o total perdido foi de 16 milhões de hectares, o equivalente a toda a região Centro-Oeste do Brasil.
As perdas anuais caíram de 8,3 milhões de hectares para 5,2 milhões. Ainda assim, diz a FAO, o número é “alarmante”: o mundo perde o equivalente a uma Costa Rica por ano.
Tradicionalmente vilipendiados como maiores desmatadores e maiores emissores de gás carbônico por desmatamento do mundo, Brasil e Indonésia foram os principais responsáveis por puxar para baixo o índice de perda de cobertura florestal desta vez.
No Brasil, o desmate caiu de 2,9 milhões de hectares na década passada para 2,6 milhões nesta década. “Não parece muito por causa do período longo analisado, mas a queda que houve no desmatamento no Brasil de 2005 para cá foi substantiva”, elogia Wilkie.
Segundo ela, a conjuntura econômica ajudou, com a baixa nos preços de commodities agrícolas, mas o esforço “do governo Lula” para reduzir o desmatamento foram importantes. Wilkie também mencionou como positiva a meta brasileira de reduzir o desmatamento amazônico em 80% até 2020.
O Brasil também foi o campeão de criação de áreas protegidas nesta década. “Metade do que foi criado no mundo inteiro foi no Brasil”, afirma Tasso Azevedo, consultor do Ministério do Meio Ambiente.

Democracia verde

Na Indonésia, a queda proporcional no desmatamento foi ainda mais expressiva do que no Brasil: de 1,6 milhão de hectares perdidos nos anos 1990 para 500 mil nesta década.
O fator determinante da redução, aparentemente, foi a democratização do país em 1998, quando o ditador Mohamed Suharto foi deposto.
“Nos anos 1990, o desmatamento foi em parte causado por uma continuação da política de transmigração dos anos 1980, quando muitas pessoas de Java foram transferidas para regiões de floresta”, diz Wilkie. Nesta década, o governo também parou de autorizar megadesmatamentos para plantações de dendê (que, no entanto, continuam avançando).
“A Indonésia não dá tanta publicidade quanto o Brasil a seus esforços de redução de emissões, mas os números falam por si”, disse Wilkie.
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