ELE DEU A VOLTA PRA CIMA
Por Luis Nassif
Depois de amargar uma imensa rejeição provocada por medidas de austeridade, o governador do Distrito Federal diz que é possível ser popular sem ceder às tentações do populismo
(…) Numa cidade acostumada a conviver com exibições grotescas de todo tipo de privilégio e desperdício de dinheiro público, o governador chegou pela contramão. Demitiu funcionários, pôs as contas em ordem, tirou camelôs e vans irregulares das ruas, enfrentou grevistas e freou um processo histórico de invasão de terras públicas. O resultado imediato e previsível: sua popularidade foi ao chão. Três anos depois, porém, Brasília dá mostras de que popularidade e populismo podem andar separados.
(…) E qual é o seu limite?
É o limite ético. É não dar mesada, não permitir corrupção endêmica, institucionalizada. Sei que existe corrupção no meu governo, mas sempre que eu descubro há punição. Não dá para entregar um setor de atividade do governo para que um grupo político cuide dele por interesses empresariais escusos. Se peço a um parlamentar eleito para me ajudar a administrar sua base eleitoral, isso é política. Mas, se entrego a esse parlamentar a empresa de energia elétrica, isso não é aceitável.
(…) Esse diagnóstico também se aplica ao governo federal?
O PT segue outra linha. O PT tem uma visão de instrumentalização da máquina pública e politiza as relações que deveriam ser institucionais. Mas o presidente Lula é diferente do PT.
(…) E o Bolsa Família, que o senhor citou, está em qual dos exemplos?
Nos dois. O Bolsa Família atende e escraviza. Aqui em Brasília há pessoas que se dispõem a fazer um serviço doméstico mas não aceitam ter a carteira assinada para não perder o benefício. E, infelizmente, há um grande número de pessoas que se acomodam, deixam de trabalhar e vivem escravizadas pelo benefício.
(…) O senhor vai estar em qual palanque em 2010?
Meu partido vai seguir com o PSDB, com o candidato que os tucanos definirem, o governador José Serra ou o governador Aécio Neves. O melhor candidato da oposição será aquele que conseguir construir uma unidade.
(…) o Brasil, não é um risco um político adotar essa linha dura nas questões urbanas?
A política de ordenamento urbano e de gestão responsável da máquina pública contraria muitos interesses. Em meu primeiro ano de governo, cheguei a ter 58% de rejeição. Com o tempo, isso foi se invertendo. Hoje já tenho uma posição mais confortável, mas muito distante do que eu teria se simplesmente fosse o populista clássico e não contrariasse os interesses de ninguém. É muito fácil no Brasil governar sem contrariar nenhum interesse. Você não constrói nada novo, mas todo mundo te ama.
No dia 9 de abril de 2008, Veja deu matéria de capa com o que ela considerava os melhores gestores entre governadores estaduais.
Coincidiu com sua investida tentando vender assinaturas da revista e material didático para as secretarias da Educação.
Fora José Serra, todos os demais montaram programas de qualidade e gestão em seus estados. Mas já naquela época, quem convive com o mundo da qualidade sabia que os programas de Aécio, Hartung e Campos eram para valer; que o de Cabral era uma intenção; e que o de Arruda era um blefe.
O governador de Brasília tomava medidas de efeito – como colocar todos os secretários em uma sala aberta, como em bancos -, mas não demonstrava compromisso maior com gestão.
Mesmo assim entrou na lista.
A matéria é bem feita, fato raro na revista, entrevista alguns personagens importantes, como Cláudio Porto, da Macrométrica. Mas quem fez a seleção contemplada na capa? O blefe Arruda já era suficientente conhecido dos meios especializados em gestão
As barganhas jornalísticas de Arruda não tinham limites. No jogo da seleção, em Brasília, montou uma parafernália de autopromoção que sofreu críticas acerbas da CBN e do Juca Kfoury. A reação do governador foi agressiva, trocando desaforos.
No caso da Página Amarela de Veja, a publicação saiu no mesmo dia de uma nota no Diário Oficial do GDF sacralizando a compra de R$ 500 mil em assinaturas da revista.
Não sei se a Abril chegou a fechar contratos com todos os governadores mencionados – com Serra e Arruda, sim, com Cabral, provavelmente. Mas a promoção de Arruda é um exemplo claro de que, ao lado dos assassinatos da reputação, existe o expediente da criação de reputação.
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