quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Se Lula fosse Mandela deixava Jobim ir embora

No domingo 20 de dezembro, um dos mais respeitados jornais do mundo, o espanhol El País, publicou na capa e nas páginas 2 e 3 reportagem sobre o que chamou de “Brasil revisa a sua História – O Brasil das 20 mil torturas verá a luz - Lula ordena investigar os crimes perpetrados pelos militares entre 1964 e 1985”.
Continua o jornal espanhol:
“A ditadura brasileira, que durou mais de vinte anos, não foi a mais letal da América do Sul, mas, em termos relativos, foi uma das que mais torturou – umas 20 mil pessoas, segundo dados oficiais.”

(Segundo El País, no regime militar, 400 brasileiros desapareceram sem deixar rastro – é o que a Folha chama de “ditabranda”.
“O decreto … dá luz verde ao processo (de abertura de ações penais contra os crimes da ação militar) e representa um gesto inequívoco do Governo de Brasília para reverter uma política de silêncio, que, desde a volta da democracia, grupos de defesa dos direitos humanos e familiares das vítimas da ditadura denunciaram.”
A Lei da Anistia (de 1979, do Governo Figueiredo) “assegurou uma conciliação amnésica que só beneficiava as elites do momento”, disse ao País José Maria Gómez, especialista em direitos humanos.
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O PiG de hoje informa que o Ministro da Defesa, o serrista Nelson Jobim não gostou do projeto de lei.
E entregou uma carta de demissão que o Presidente Lula não aceitou.
(Se Jobim tivesse mesmo caráter se demitia e ia embora. Demitir-se e ficar é jogo de cena.)
E, segundo a Folha, só no ano que vem Lula decidirá sobre o que fazer.
Se o Presidente Lula fosse o Nelson Mandela, instalava, como Mandela, a “Comissão da Verdade”.
E entrava para a História como quem repudiou essa nefanda “conciliação amnésica”.
Se Lula for o Mandela, manda o Jobim embora.
Devolve o Jobim à sua promissora carreira de advogado junto ao Supremo, onde militou como representante do Governo do Farol de Alexandria.
Se Lula recuar, deverá a Jobim alguns dos atos mais sinistros de seu Governo.
Impedir a revisão da Lei da Anistia.
E demitir o ínclito delegado Paulo Lacerda da ABIN, por conta de um grampo telefônico que jamais existiu.
O Supremo Presidente do Supremo e um obscuro senador, segundo a Veja, teriam sido grampeados por Lacerda.
O Presidente Supremo do Supremo chamou o presidente Lula “às falas”, pelos jornais.
Lula se deixou chamar.
Na reunião, no dia seguinte ao “furo” da Veja, Jobim – presente à reunião sabe-se lá por quê – Jobim apresentou uma babá eletrônica com a qual Lacerda teria feito o grampo.
Lula se convenceu e demitiu Lacerda, no ato.
A babá eletrônica era uma fraude.
Uma geringonça que se compra pela internet,
O grampo, outra fraude.
Jamais apareceu o áudio do grampo.
Lula desmontou o aparato da ABIN e depositou a Polícia Federal no terreno baldio em que pastam as vacas do Nelson Rodrigues.
Agora, se recuar e impedir a instalação da “Comissão da Verdade”, Lula escreverá outra página de sua biografia a quatro mãos, com Jobim.
Uma página sombria. Com manchas de sangue.

Paulo Henrique Amorim

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