quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Paraguai, o fantasma do golpe assombra Fernando Lugo

"Houve várias tentativas de golpe contra mim desde que assumiu o cargo", disse o mandatário aos membros do corpo diplomático do Paraguai, na terça-feira (15) desta semana. "Depois de décadas de domínio de um grupo político, não é de se estranhar que haja setores que ainda continuam tentados a interromper o processo democrático", acrescentou.
Mas suas advertências não parecem ser muito ouvida entre aqueles que se supõe seu aliados. "Nós lutamos todos os dias contra o fantasma da instabilidade e da derrubada", insistiu novamente nesta quarta-feira o presidente.
É que o Partido Liberal, a formação que o levou ao poder, já se retirou, pelo menos na prática, da coalizão governista. E seu líder e vice-presidente de Lugo, Federico Franco, deixou bem claro esta semana: "Eu estou pronto para assumir", disse o número dois do Paraguai. O clima em Assunção, sob o exemplo de Honduras, parece estar se tornando cada vez mais pesado.
Para alertar sobre esta situação, Najeeb Amado, secretário-geral do Partido Comunista Paraguaio (PCP), e Ernesto Benítez, um líder camponês, foram esta semana a Buenos Aires e, em um hotel no Centro, em diálogo com Página/12 dispararam sua advertência:
"No Paraguai, estão tramando um golpe pela via institucional a partir das várias instâncias do Estado, mas, sobretudo, no Parlamento. Algo semelhante ao que aconteceu em Honduras. O vice-presidente Franco é um dos cabeças da investida golpista, e a forma que poderia assumir o golpe é a de um julgamento político ", explicaram Benitez e Amado.

Página 12: Sob que argumentos?
Amado:
Basicamente, três. Em primeiro lugar, está o seqüestro do fazendeiro Fidel Zavala, desaparecido há sessenta dias. Há toda uma velha oligarquia civil e militar, alegando que a responsabilidade é de uma suposta guerrilha chamada Exército do Povo Paraguaio. Depois, no Parlamento, estamos tentando montar um suposto caso de corrupção contra Lugo, pela compra de umas terras para distribuição entre famílias camponesas. E, finalmente, é claro, os casos de paternidade.

Página 12: Com que apoios conta Lugo no Legislativo?
Benítez:
No Senado, o respondem dois senadores entre 45. E entre os deputados, em uma boa sessão, dois deputados apoiam o presidente.

Página 12: A reforma agrária foi uma das principais bandeiras da campanha do presidente. Se avançou em algo na distribuição da terra?
Benítez:
Em nada. Apresentar um projeto de expropriação no Parlamento seria uma motivo para um julgamento político imediato.

Página 12: Parece que o governo de Lugo está institucionalmente paralisado. Se ele não pode fazer nada, qual seria a necessidade de derrubá-lo?
Benítez:
O crescimento dos movimentos sociais se tornou demasiado grande para as antigas oligarquias.
Amado: No Paraguai, houve uma mudança fundamental, que é a mudança do sujeito político. Embora não se tenha conseguido avançar com grandes reformas, as antigas camarilhas ligadas ligadas ao Partido Colorado e ao Partido Liberal não podem suportar que os movimentos sociais estejam acessando o controle de certas alavancas do Estado.

Página 12: Qual é a atitude das forças armadas?
Benítez:
Apesar de haver mudado o comando da cúpula há algumas semanas, o presidente disse claramente: ainda existem bolsões golpistas.

Página 12: Qual o papel está jogando a mídia?
Amado:
É uma parte essencial do esforço desestabilizador, com o diário ABC Color na liderança.

Página 12: O que Lugo pode fazer para inverter esta situação?
Amado:
Jogar mais a fundo e decidir-se pelos movimentos sociais. Os partidos tradicionais já demostraram que, chegado o momento, o abandonam.
Benítez: Mas a força do povo é tremenda.

Fonte: Página 12

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