por Tiberio Alloggio (*)
É sempre bom nos posicionarmos em cima de fatos e de questões concretas. No entanto, neste momento, para mim fica até difícil, pois me sinto “emocionalmente” levado a torcer para a hipótese de Marina Silva ser candidata à presidência.
Principalmente por acreditar que a melhor candidatura a sucessão presidencial teria que ter a humildade de reconhecer os avanços do governo Lula (que são muitos), sem renunciar a criticar (da esquerda) suas falhas e deslizes, que também são muitos.
Nesse sentido, Marina Silva tem o perfil ideal.
Acontece porém, que em política o perfil do candidato(a) por si só não garante a sua viabilidade. Que sempre depende de um conjunto de condições e circunstâncias sobre as quais não se tem controle total. Então, o melhor a fazer mesmo é deixar de lado o emocional e partir para uma leitura mais racional.
A presença da ex-ministra na disputa presidencial de 2010, se confirmada, pode (em tese) contribuir com três possíveis cenários. 1) Fortalecer o continuísmo lulista. 2) Favorecer as chances de José Serra. 3) Uma “terceira via” que se beneficiaria da polarização entre PT e PSDB. Sendo que em todos os cenários, Marina empurra naturalmente a eleição para o segundo turno, trazendo para a disputa presidencial “o imponderável”.
Tem gente (os serristas) que até comemora com champanhe a hipótese da senadora entrar na disputa de 2010. Mas quem a conhece sabe que ainda estamos no campo das hipóteses. Marina Silva nunca fez da política uma profissão, ela entende a política como um “meio” para alcançar “princípios”. Ou seja, ela “tem lado”, e só se movimenta em prol dos “valores e princípios” que norteiam sua vida.
Marina ainda não trocou de partido por lealdade ao PT. Mesmo que de forma não explícita, está se oferecendo como alternativa a Dilma dentro do próprio PT, com o objetivo declarado de “restabelecer os princípios” perdidos ao longo dos governos Lula.
Ela sabe que o PT e Lula não deverão aceitar. Mas só se sentirá livre quando ouvir a negativa do próprio partido. Só então Marina buscará seus rumos. Inclusive fora do PT.
Se sair, perderá o mandato no Senado, mas ela não terá nenhum receio ao repassa-lo ao mocorongo Sibá Machado que, inclusive, ocupou o cargo por muito mais tempo.
Se essas hipóteses se confirmarem, Marina poderá se lançar e/ou ser lançada como uma candidata de “princípios” e promover a causa ecológica. Mas ainda assim sua candidatura continuará uma hipótese repleta de obstáculos.
O primeiro obstaculo é o próprio PV. Marina sabe que se optar pelo Verde terá o desafio de lidar com um partido cuja maioria não faz a menor ideia do que significa meio ambiente. Um grupo político dividido entre o serrismo e o sarneysmo, no qual, quem não é liderado por Fernando Gabeira, é seguidor de Zequinha Sarney.
O segundo obstáculo é a consciência que Marina tem do risco de sua candidatura fortalecer José Serra, dividindo votos com Dilma no campo da esquerda e do movimento sócio-ambiental.
Um terceiro obstáculo é que sua presença na corrida presidencial reabre a janela para Ciro Gomes voltar na disputa, congestionando ainda mais a trajetória de Dilma. Com quatro, ou cinco candidatos no páreo (Dilma, Serra, Heloísa, Marina) aumentam as chances de Ciro terminar um eventual primeiro turno à frente de Dilma.
Outra consideração importante é que em qualquer cenário da disputa presidencial, uma vitoria de Marina não passa de uma remota probabilidade.
Por último, temos que considerar a força política do presidente Lula. Gostemos ou não, quem vai definir a eleição presidencial é a grande massa do povo brasileiro. Uma massa que hoje se identifica quase que epidermicamente com o presidente Lula. O qual fechou com ela na hora em que (em plena crise econômica) priorizou os reajustes do Bolsa Família, dos aposentados, do salário mínimo e das obras do PAC.
Portanto, nem Serra, nem Ciro, nem Heloísa e tampouco Marina terão como impedir o caráter plebiscitário da eleição em 2010. Ou seja, vai ser a candidata de Lula versus os demais.
Enfim, olhando pelo lado racional, fica difícil acreditar em Marina candidata a presidência. Oseu apoio popular é ainda frágil para se lançar na “aventura” de deixar o PT e se candidatar à Presidência.
Com ou sem PT, é mais provável que Marina retorne ao Senado, quem sabe pelo próprio PV. Mas nesse caso, será na perspectiva de moralizar este partido, e tentar reorganizar entorno dela o bloco da esquerda sócio-ambiental do Brasil.
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* É sociólogo e reside em Santarém.Escreve regularmente no blog do Jeso.
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