Por Luis Nassif
Quem esteve hoje com José Sarney encontrou-o mais tranquilo do que em outros dias, graças a dois aliados inesperados: Arthur Virgílio e o Estadão.
A estratégia contra Sarney consistia em levantar os escândalos do Senado e fulanizar, jogar tudo nas costas do presidente da Casa.
Quando surgiram as primeiras informações dos atos secretos, o Estadão passou a vazar seletivamente apenas o que atingia Sarney.
A ideia seria não ampliar as denúncias por uma razão simples: não sobraria um e, não sobrando, não haveria como convencer o Senado a depor seu presidente.
Já descrevi várias vezes essa estratégia da escandalização.
Com a falta de regras claras, o jogo político brasileiro dá margem a toda sorte de denúncias.
A cada temporada, os jornais escolhem na gôndola dos escândalos aquele que lhe interessa e manda bala.
Se o Estadão tivesse, de fato, interesse na apuração de desmandos, não deixaria passar em branco outros abusos, nem esse escândalo do Senado ser um grande cliente do IDP, empresa do presidente do STF. E Gilmar Mendes defender o Senado, inclusive atropelando suas prerrogativas constitucionais e investindo contra outros poderes.
Arthur Virgilio - o oposicionista que todo governista pediu a Deus - acabou desnudando e desmontando a estratégia. Quando subiu na tribuna para se vacinar contra seus próprios pecados, expôs toda a Casa. E o fantasma do dia seguinte passou a contar.
Em um primeiro momento, a ameaça surtiu efeito, ao colocar o DEM contra Sarney. Mas só no impulso.
Hoje, a avaliação era outra. Acontece que todos os desmandos do Senado passam pela Primeira Secretaria - que historicamente tem sido comandada pelo DEM.
Abrindo os atos secretos, todos serão atingidos - muito mais pela falta de regras explícitas (como no caso dos cartões corporativos do governo federal e de São Paulo) e pelos hábitos arraigados. Mas o DEM será mais atingido do que os demais.
Ao jogar barro no ventilador, Virgílio se sujou mais ainda - apesar da cobertura escandalosamente acrítica que seu discurso recebeu da mídia -, deixou o Senado mais vulnerável. Com isso erodiu a tática da fulanização empregada principalmente pelo Estadão.
Afinal, Sarney é. Mas quem não é?
Agora, o senador se julga dono dos seus atos. Poderá escolher entre sair ou ficar, mas a decisão é dele. Mesmo porque, Marconi Perillo - o vice que a oposição quer emplacar - não chega a ser propriamente um varão de Plutarco.
Saída: começar a discutir o Senado a sério, implantar a reforma administrativa planejada pela FGV, colocar todos os atos do Senado na Internet. E, mais uma vez, comprovar o jogo de manipulação dos escândalos.
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